sexta-feira, 11 de outubro de 2024

As palavras cruzadas, uma barbearia e o Líbano.

Fui visitar ontem a minha mãe. Por fragilidade e idade está neste momento num Lar. Lemos o Jornal de Notícias, fizemos as palavras cruzadas. Eram de dificuldade intermédia, 3 em 5, assinalava ao lado. A minha mãe contribuiu com palavras complicadas como "patamar" e "criatura". Aprendi o que era um crepúsculo matutino - pensei que só acontecia no fim da tarde, afinal a definição é outra, diferente da minha. Talvez o meu anglicismo me levasse a apenas traduzir "sunset", reduzindo.

Mas o crepúsculo vespertino, vivido ao chegar a casa, lembrou-me que tinha uma televisão à minha espera. E que a televisão ia-me oferecer, se ligada, por horas a fio a maldade do mundo. Na Penha de França um rapaz matou três pessoas por não ter acontecido um corte de cabelo. Quatro, uma das pessoas estava grávida. Tinha consumido cocaína antes, será atenuante. Refugiado em casa de um tio, foi entregue pelo pai à Judiciária. Resume-se assim: "foi a droga". Maior droga é o poder, faz-se tudo para o manter. Assim Benjamin Netanyahu, 44000 mortos o rodeiam, em Gaza, no Líbano, na Síria, ele mandou-as matar para se manter no poder. Não o poder de decidir quando cortar o cabelo, mais. Muito mais. É esta a única explicação. O massacre de 7/10 o esplêndido pretexto. Sim, o Hezbollah guarda mísseis entre a cozinha e a sala de jantar em muitas casas insuspeitas. Mas, orque apareceu o Hamas, porque acontece o Hezbollah? Preso o assassino do barbeiro Pina muitos dirão: "É matá-lo!". Netanyahu tem vários esquemas de defesa que tornam essa hipótese (para ele) impossível. Um chama-se Iron Dome, os outros não me lembro. Biden ligou-lhe: "Bibi, what the fuck?" 

A minha mãe adivinhou, com metade das letras por saber, que "indivíduo" podia ser "criatura". Netanyahu é mesmo uma criatura filha da puta. Não me lembro de outra pior.


quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Os Mundiais de Merckx


O apogeu de Merckx durou de 68 a 74. Neste período ele ganhou 2 Mundiais de estrada,  em 71 e 74. A sua primeira vitória em Mundiais acontecera precocemente em 67. Aplicando a Merckx o fatalismo que hoje aplicamos a Pogacar ao assumirmos uma inevitável vitória no próximo domingo em que se vão correr os Mundiais de Estrada deste ano, podemos perguntar: porque não ganhou Merckx mais Mundiais?

Merckx fôra pela primeira vez Campeão do Mundo em 67, aos 22 anos de idade, ao bater ao sprint o neerlandês Jan Janssens nos Países Baixos. 67 fôra o ano de apresentação de Merckx. Ganhara a Milano-Sanremo e a Fléche Wallone e uma etapa de montanha, o Blockhaus, na sua primeira comparência no Giro, onde terminou nono. Em 68 Merckx mudara de equipa e passara para a italiana Faema, como chefe-de-fila. O ano de 68 de Merckx fôra diferente. Apontara mais a corridas de etapas, ganhando Sardenha, Romandia e o seu primeiro Giro. Pelo meio interrompera a série para vencer na Paris-Roubaix. O Campeonato do Mundo de 68 acontecia em Imola, 277 km num circuito rugoso à volta da cidade. Para aí a 100 km da chegada partiram à desfilada três corredores: o italiano Vittorio  Adorni, o belga Rik Van Looy, agora já um veterano.e... Joaquim Agostinho! E isto ainda antes de ter viajado ao Brasil e ser descoberto por De Gribaldy! Foi aqui que Agostinho se mostrou ao mundo. Adorni era colega de equipa de Merckx na Faema e na escapada ia Van Looy, um colega de país e o ciclista belga mais famoso até então. Assumo que foi por aqui que Merckx não contra-atacou. Adorni entrou em modo contra-relógio e despachou a seu tempo Agostinho e Van Looy (já um veterano...) e conseguiu ser Campeão do Mundo com mais de nove minutos de avanço sobre o 2º, outro belga, Van Springel, que tinha sido também 2º no Tour de 68. Merckx foi 8º chegando no grupo dos primeiros seguidores.

Em 69 Merckx não ganhou o Giro por uma estranha desclassificação por doping que ele sempre negou, mas ganhou demolidoramente o Tour. E o Campeonato do Mundo acontecia em Zolder, em casa. Mas a selecção belga estava tudo menos unida. Godefroot e Merckx eram rivais, Van Looy, ainda seleccionado não se sabe porquê era uma sombra. Cedo Godefroot e Julien Stevens meteram-se numa fuga, sendo Julien Stevens um belga de 2ª linha da Faema de Merckx mas bom rolador e bom sprinter.. Nesta fuga seguia o português João Roque. O italiano Dancelli tentou a determinado momento separar as águas mas a sua tentativa virou-se contra ele e ficaram na frente o belga Julien Stevens e um "armario" neerlandês, Harm Ottembros. Stevens não estava habituado a estas cavalgadas e tinha o orgulho da Bélgica aos ombros. Tudo fez para sacudir Ottembros da sua roda não o conseguindo, entregando-lhe no fim, extenuado, o título. Ottembros nunca mais conseguiu ganhar nada de jeito mas neste dia o seu triunfo obrigou a escolta policial. Merckx desistiu, não sabemos se desmoralizado pelo mau jogo de equipa se por confiar na vitória do seu colega Stevens, que não veio a acontecer. No primeiro pelotão chegarm três portugueses, Agostinho, Mendes e Roque.

O ano de 70 viu o Campeonato do Mundo acontecer em Leicester, na Inglasterra, num circuito cuja maior dificuldade foi o mau tempo. Aqui também as rivalidades dentro das mlehores equipas, italianos e belgas, decidiram a vitória. Nos belgas Godefroot e Merckx continuavam candidatos e rivais. Jean-Pierre Monseré, um neófito com 22 anos incompletos, foi o peão da equipa para neutralizar as várias tentativas de fuga, incluindo a última, onde seguiam três tubarões italianos, Gimondi, Dancelli e Motta. Já perto do final foi ainda Monseré a apanhar estes ciclistas, a ultrapassá-los e a conquistar o título de Campeão do Mundo frente ao dinamarquês Leif Mortensen, o mesmo que lhe tinha roubado o mesmo título mas amador... em 69. Gimondi fechou o pódio.  Atrás chegou um enorme pelotão de osbreviventes à tormenta, com Merckx lá para o meio, bem como os portugueses Firmino Bernardino, José Azevedo e José Luis Pacheco.

Finalmemte em 71 alinharam-se os chackras e Merckx ganhou o seu 2º título. Como aconteceu? O ano de 71 não apresentou Merckx no seu melhor. Como única vitória em clássicas venceu a sua 4ª Milano-Sanremo. Não compareceu ao Giro mas foi ao Tour após ter vencido Dauphiné e Midi-Libre. Humilhado por Ocaña em Orcières Merlette, só recuperou a amarela depois da queda e abandono do espanhol, lançando uma sombra definitiva sobre a sua vitória que acabou por acontecer. O Mundial voltava a Itália, desta vez a Mendrisio. 268 km que voltavam a ter um acumulado vertical respeitável, como não aocntecia desde Imola. Na fuga seguia gente importante, Bitossi, Zoetemelk, Swerts, um belga colega de equipa. Foram os ataques de Gimondi aos quais por fim Guimard e Mortensen não conseguiram responder que ofereceram, em solo italiano o título a Merckx. Este foi sempre na roda do italiano, depois ajudou-o a cavar um fosso para os demais e, no fim, sprintou para a vitória, Gimondi conformando-se com o 2º lugar. Os portugueses desistiram todos, Agostinho incluido.

Em 72 a corrida aconteceu em Gap e voltou a ter mais de 3000m de acumulado. Gap era França, terra onde Merckx não era muito popular, pelas vitórias no Tour. que voltara a acontecer em 72, a 4ª vitória, depois da vitória também no Giro, a 3ª, e a 2ª dupla, a igualar Coppi. Na prova o herói foi Bitossi, um italiano sempre aguerrido, que entrou na reta da meta sózinho mas que foi apanhado por um grupo de escapados onde seguia Merckx. Merckx e mais uns quantos... Guimard, Zoetemelk, Verbeeck e Marino Basso, um excelente sprinter que aguentara as durezas do percurso e que foi o único a conseguir ultrapassar Bitossi e sagrar-se Campeão. A coligação de todos os companheiros de fuga contra Merckx tivera êxito. Merckx foi 4º, ficando fora do pódio. Diz-se que o seu "excesso" de vitórias e o seu instinto "canibal" o colocara sem aliados. À dureza de Gap dos portugueses só resistiu Agostinho, 42º e... último. Isto dos Mundiais não era para ele.

1973 levou os Campeonatos do Mundo até Barcelona. Onde a encosta de Montjuich seria ultrapassada 17 vezes num percurso de 248 km. Ano estranho para Merckx, que ganhou Vuelta e Giro e depois evitou o Tour "por compromissos comerciais", permitindo a Ocaña vencer destacadíssimo o mesmo. De uma fuga precoce chegaram à meta apenas quatro ciclistas, e que ciclistas:  Gimondi, Ocaña, Merckx e Freddy Maertens, um belga de 21 anos que neste ano já ganhara os 4 Dias de Dunkerque. Num golpe de teatro foi Gimondi a ganhar o sprint, talvez porque terá sido o único a não se preocupar com o sprint de Merckx, que dos 4 terminou em 4º e saiu da prova a chorar. Maertens foi 2º - viria a ser Campeão do Mundo duas vezes. Ocaña conseguu o 3º lugar, fazendo aqui a sua melhor prova de um dia de sempre e, mais importante, ficara à frente de Merckx. A Gimondi, com 31 anos, perguntaram se agora já podia pensar em retirar-se. Disse que correria pelo menos mais um ano. Correu mais cinco e ganhou em 76 o seu 3º Giro. No pelotão a 5 minutos conseguiram chegar Agostinho e Herculano Oliveira.

Em 1974 pela primeira vez o Campeonato do Mundo saiu da Europa e voou até ao Canadá, mais precisamente até Montreal, onde a subida que dá nome à cidade, Mont-Royal, forneceu a dificuldade ao percurso, com um acumulado vertical de quase 5000 metros. O animador da prova foi o francês Bernard Thévenet, que fez isolado aproximadamente cem kms, para ser alcançado pelo grupo de Merckx na última volta do circuito. Merckx, que vencera o  Giro com dificuldade e o Tour sem grande oposição, com Poulidor como distante 2º, esteve intratável e foi descarregando adversário atrás de adversário, só mantendo (cinicamente?) o veterano Poulidor consigo até à meta, onde o bateu facilmente ao sprint. Meckx completara a maior façanha da História do Ciclismo, sendo campeão de Giro, Tour e Mundial no mesmo ano. Feito só igualado por Stephen Roche em 1987 e que este ano está à mercê de Tadej Pogacar. Para fechar o relato diga-se que Portugal não levou ciclistas a Montreal. Pouco tempo depois acabaria o cic ismo profissional no país - sequela do PREC - e, por outro lado, Agostinho terminava o ano de 74 em queda e desempregado. Portugal só voltaria a ter um reperesentante nos Mundiais em 82 com Acácio da Silva. 

Diga-se das vitórias de Merckx que nenhuma foi majestática como Coppi em 53 ou Adorni em 68. Mas foram 3. Nem Coppi nem Adorni repetiram. A fotografia acima mostra Merckx a subir o Mont-Royal e a selar o fim de uma epoca do ciclismo. A sua.

 


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

A Maria.

 

É demasiado tarde para te escrever, Maria. E nem sei sobre o quê. Não sabem os gentios que milagres fazias. Trabalhar numa urgência neste país só está ao alcance de mágicos, de fazedores de milagres. Outra coisa tinhas, o teu nome. É difícil sustentar sozinho nome tão singular, Maria. Lembro-me apenas da filha duma grande amiga minha e de ti. E já agora elogio o resto do teu nome, Maria Chaves Jalal, musical como poucos. É demasiado tarde para te escrever, Maria. Isto infelizmente acredito. Não sabem os gentios como cansa sermos obrigados uma e outra e outra vez a fazer magia, truque mais truque mais truque, milagres que ninguém vê. Será tarde para te escrever. Mas existindo a mais pequena dúvida, escrevo. 

São para ti estas palavras todas. Inteiro o teu nome, Maria, como tu eras.

domingo, 21 de julho de 2024

Pogacar e a Volta á França que dominou muito muito.

Pogacar fez a primeira dobradinha Giro-Tour desde 1998, com Pantani. 

Sigo o site de dados de ciclismo Procyclingstats. Este site tem um sistema de pontuação bastante equilibrado e que eu vou utilizar para contextualizar a vitória de Pogacar. Este conseguiu 1325 pontos no Procyclingstats com esta vitória no Tour. Chris Froome obteve 1001 pontos na sua primeira - e mais categórica - vitória, a de 2013. Fala-se de Merckx quando se fala de Pogacar. Na sua primeira vitória no Tour, a de 1969, o Procyclingstats dá a Merckx 1744 pontos.

Portanto...

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Anuário Ilistrado do ciclismo - 1955.

Louison Bobet também tinha um irmão, Jean, cinco anos mais novo. A este não aconteceu nenhum desastre para acrescentar ao drama. Sobreviveu ao irmão muitos anos e viveu para escrever sobre ciclismo e, sobretudo, para defender a memória do seu irmão. Quem quisesse ouvir a m elhor versão da história de Luison Bobet era perguntar ao irmão. Louison viria já agora a morre novo, aos 58 anos, de cancro.

O ano de 1955 começou com o Paris-Nice, e esta corrida foi dominada pela equipa Mercier de Bobet, que pode ter "guardado" a corrida para o irmão, que ganhara a primeira etapa e assim se aguentou líder até ao fim.

A Milano-Sanremo pertenceu ao belga Germain Derycke, que venceu ao sprint o francês Bernard Gauthier, fechando o pódio Jean Bobet. O irmão mais novo de Louison estava a começar bem o ano. O primeiro italiano foi Magni à frente do pelotão 26 segundos depois,  Coppi, Koblet, Kubler e Fornara tinham todos sido vítimas de queda e não terminaram a a corrida.

A Volts à Flandres antecipou um pouco a data este ano. Numa das últimas rampas da prova formou-se um grupo de quatro escapadso, Louison Bobet, Bernard Gauthier, Rik Van Steenbergen e Hugo Koblet. Gauthier era um gregário de Bobet e matou-se a trabalhar, Van Steenbergen já tinha andado escapado antes, portanto no sprint final entre os quatro Bobet ganhou, o primeiro vencedor francês na Ronde. Kobelt foi 2º, Van Steenbergen 3º.

A 3 de Abril Alberic (Briek) Schotte ven cia isolado a Gent-Wevelgem, a sua última grande vitória, com mais de 2  inutos de avanço sobre um grupo de 4 onde constavam Keteleer, Impan is e Kubler.

A 10 de Abril aconteceu a Paris-Roubaix. A determinado momento um francês de 24 anos, Jean Forestier, que já no ano anterior tinha surpreendido ao vencer a Romandia, isola-se. Forma-se um grupo perseguidor com Coppi, Bobet e o francês Gilbert Scoddeler. No velódromo de Roubaix Forestier consegue ganhar isolado, Coppi sprinta para segundo poucos segundos deppis, Bobet é terceiro. Bobet protesta com Coppi - falta de ajuda, de ambição, incapacidade? Não consegui apurar se Coppi casou no México em 54 ou 55. Mas iria ter um filho na Argentina neste ano de 55. O ciclismo era só uma das vertentes na sua complicada vida. E Coppi, dito "O Camoioníssimo" e "o primeiro ciclista moderno", não conseguia dar conta completa do recado. mas ser ciclista era ainda o seu trabalho.

Uma semana depois a Zurich Metzgete ia pertencer a um suiço,  Max Schellemberg. No mesmo dia começava a 4ª Euskal Bizikleta, ganha pelo aragonês José Escolano, que serviria de ante~câmara oara uma renovada Volta a España. apenas a sua 10ª edição. Terá havido um esforço adicional para que, para além de todo o pleotâo espanhol, comparecessem estrangeiros de qualkidade, e isso implicou bons contratos, prémios decentes. Esta "nova Vuelta" seria também uma forma de propaganda do franquismo. A Espanha estava organizada em duas equipas nacionais, com a equipa A a contar com Bahamontes, Loroño e Ruiz. França e Itália tinham as suas equipas nacionais, a Itália com Magni, Nencini e Martini, a França com uam óptima equipa: Bauvin, Geminiani, Dotto, Lauredi. Corriam ainda equipas do Benelux, as Suiça e da Grã-Bretanha, e várias equipas reguionais espanholas. A batalha desenhava-se entre franceses, espanhóis e italianos. O francês Bauvin ganhou as duas primeiras etapas, nas montanhas vascas, começando e terminando esta Vuleta em Bilbao ao ser o jornal organizador vasco. Logo atrás do francês Bauvin perfilaram-se Bahamontes e Loroño. Na 3ª etapa, que terminava em Pamplona e tinha as últimas montanhas desta 1ª parte da corrida, Loroño distanciou Bauvin, com Geminiani pendurado na chegada a recpuerar tempo. Bahamontes queixava-se de um joelho e perdeu muito tempo. Numa escapada dias depois Gemiiniani ganharia a amarela a Loroño. Na etapa 10 uma fuga daria a Jean Dotto a amarela (era amarela a camisola). Loroño e Geminian i estavam agora a 5 minutos de Dotto, Bahamontes saíra do top  10 onde também não havia nenhum italiano, Fiorenzo Magni apenas interessado em ganhar etapas e assim arrecadar prémios monetários.Dotto e a França controlaram o resto da corrida, Loroño não conseguiu impor-se na pouca montanha que restava e terminou em 4º, Geminiani foi 3º, em 2º um espanhol de uma equipa regional, Antonio Jimenez Quilez, que participara na fuga decisiva da etapa 10 e depois resistira melhor do que os restantes ao desgaste de uma corrida que, apesar de tudo só oferecia 15 etapas.

Enquanto a Vuelta voltava à vida, outra parte do pelotão internacional fazia o Roma-Mapoles-Roma, que Bruno Monti voltou a vencer, sendo Coppi terceiro. O Paris-Bruxelas repetia a vitória de Marcel Hendricks. O "Fim-de-semana das Ardenas" vou Stan Ockers começar a desenhar o seu ano de 55 vencendo destacado a Fléche Wallone. No dia a seguir voltou a destacar-se desta vez com Impanis, e ter-lhe-á prometido a prova, onde Impanis já fora segundo mais do que uma vez... mas não cumpriu. Ockers repetiu assim a proeza de Kubler. 

Chegará agora o momento do Giro, o primeiro desde a guerra sem Bartali. Coppi tinha 36 anos, Magni 35. Voltavam os suíços Clerici e Koblet, que tinham dominado o estranho Giro de 54. Uma equipa de espanhóis era liderada por Bernardo Ruiz, numa de holandeses aparecia Wagtmans. A equipa francesa que dominará a Vuelta apresentava-se agora aqui com Dotto, Geminiani e Lauredi. Dos outros italianos Fornara já tinha 30 anos e a sua especialidade pareciam ser as provas de uma semana. E havia um jovem na equipa de Fornara que dava pelo nome de Gastone Nencini. Havia ainda uma equipa belga, para ganhar etapas, onde aparecia um neófito de 21 anos, Rik Van Looy.

O Giro não foi tendo etapas decisivas. Na 10 num circuito que posteriormente seria utilizado no Mundial, Bernardo Ruiz ganhou ao sprint a Fornara, chegando pouco depois Geminiani, Nencini e Monti. Monti vestia de rosa mas na etapa 12 na subida para Saccano, destacaram-se Nencini, Geminiani e Astrua. Geminiani vestou a rosa com 2 segundos de vantagem sobre Nencini. No contra-relógio que era a etapa 15 Nencini passou para 1o com 43 segundos de vantagem. atrás aparecendo Magni e Coppi, que tinham corrido discretamente todo o Giro, com menos de 2 minutos de distância. Il tappone, corrido na etapa 19, foi vencido por Jean Dotto, atrasado na Geral, chegando os favoritos mais de 2 minutos depois  Na etapa 20, Magni decidiu que ia ganhar o Giro. Sabendo que a estrada estava em mau estado, usou pneus adequados, combinou a coisa com Fausto Coppi e, a 160 km da meta, arrancaram. Nencini perdeu aqui mais de 5 minutos e a rosa. Magni ganhava o seu terceiro Giro, com Coppi 2o e Nencini e Geminiani logo a seguir. De referir o 8o lugar do espanhol Salvador Botella e o discreto 10º de Hugo Koblet. 

Acabado o Giro, começava o caminho para o Tour. E Louison Bobet, vencedor dos 2 Tours anteriores e Campeão Mundial em título, fez o seu caminho correndo e ganhando. Primeiro foi a Volta ao Luxemburgo. Bobet ganhou duas etapas e a Geral, à frente dos Luxemburgueses Ern zer e Gaul. Depois foi ao Dauphiné ganhar três etapas e a Geral, incluindo o contra-relógio. Bobet por 9 minutos entre si e o 2º classificado, num pelotão predominantemente francês. Este ano começara no mesmo dia do Dauphiné a Volta à Suiça. E aqui os suiços tiveram boa réplica de uma equipa belga onde estavam Jean Brankart e Stan Ockers. Koblet acabou a ganhar a Geral na última etapa, um contra-relógio, onde só foi  segundo atrás de Brankart por 5 segundos mas ganhou 5 minutos a Ockers. Na Geral portanto ficou em 2º Ockers, em 3º C lerici, o 4º foi Kubler e 5º Brankart. Esta foi a última vitória importante da carreira de Koblet

E chegámos ao Tour. A equipa francesa apresentava o laureado Bobet como o seu nº 1 (e da corrida, já agora), arroupado por muito boa gente: Dotto, Geminiani (ambos já tinham corrido Vuleta e Giro), Forestier, Malléjac, François Mahé, Bernard Gauthier, Antonin Rolland, o irmão Jean Bobet e um novo rolador de qualidade, Andre Darrigade. A equipa belga, em parte saída da Volta à Suiça, apresentava o "constante" Constan Ockers e dois jovens, Brankart e Adriaensens, para além de Impanis, De Bruyne e Van Steenbergen. A Itália apresentava Astrua, Fornara, Monti e Agostino Colleto, ou seja os três primeiros italianos no Giro, Nencini, Coppi e Magni, não compareciam. A Espanha aparecia com Loroño, o espanhol que melhor se portara na Vuelta e Botella que fizera top 10 no Giro.Os holandeses voltavam a apostar em Wagtmans. Havia uma equipa inglesa onde era de notar um bom corredor, Brian Robinson. A equipa suiça apresentava Kubler como cabeça de cartaz. O jovem luxemburguês Charly Gaul comandava uma equipa de luxemburgueses, alemães e australianos que o prórpio dizia equivaler a 2correr sózinho". Finalmente nas equipas francesas regionais ficavam os veteranos Robic, Teisseire e os irmãos Lazarides, bem como a surpresa do ano anterior Bauvin.

A primeira etapa foi ganha pelo espanhol Miguel Poblet E assim aconteceu a primeira camisola amarela vestida por um espanhol. Poblet já tinha 28 anos e quase só correra na Catalunha. Agora estava a começar uma carreira internacional muito atípica para os corredores espanhóis dos anos cinquenta: era um bom sprinter e também um puncheur, viria a ganhav etapas, clássicas, coisas onde os espanhóis habitualmente não contavam.  Quando se chegou à etapa 8 - os Alpes - a amarela estava com Wim Van Est, com Antonin Rolland a 25 segundos, estando os favoritos, resultado do jogo das fugas nas etapas anteriores, a vários minutos, eg Wagtmans a 9, Bobet, Fornara e Robic a 13... A etapa do Galibier deu a vitória a Charly Gaul por... 13 minutos e 47 segundos. Rolland defendeu-se bem, Gaul era agora 3º a 10 minutos, com Bobet logo atrás. Na etapa 11 subiu-se o Mont Ventoux, com descida depois para Avignon. Bobet ganhou a etapa, ficando dentro do minuto de sitância na etapa Brankart, e três italianos,  Fornara, Coletto e Astrua. O jovem Gaul ficara a 6 minutos na etapa. Gaul não corria bem com o calor. Mas outros corredores portaram-se pior. Malléjac desfaleceu na subida. Caído no chão continuava a pedalar no vazio. Kubler perdeu imenso tempo e ao entrar numa cafetaria para se rabastcer mas ao sair enganou-se no caminho. Ao fim do dia desistiu dizendo aos jornalistas falando na 3a pessoa: "Ferdi está velho, o Ventoux matou Ferdi."   Rolland mantinha-se de amarelo mas à condição. Chegados aos Pirinéus Gaul ganhou a etapa do Aspin e do Peyresourde mas com distâncias mais modestas e, dpois, na etapa para Pau que passava pelo Tourmalet, Brankart, Bobet, Gaul e Geminiani chegaram isolados mas juntos à meta. O contra-relógio da etapa 21 foi ganho por Brankart e despachou Rolland do 2º lugar para 0 5º. A última etapa, com chegadsa a Paris foi ganha por,,, Miguel Poblet, à frente de Andre Darrigade. Bobet ganhara o seu 3º Tour á frente dos jovens Jean Brankart e Charly Gaul.  Geminiani fòra 6º, fazendo top 6 nas 3 Grandes Voltas que correra em 55. Stan Ockers foi 8º e ganhou a Classificação por Pontos. Soube-se à posteriori que Bobet correra parte do Tour com muitas dores por feridas provacadas pelo selim, "saddle sores2 fica mais elegante. Viria a necessitrar cirurgia e a sua recuperação foi muito lenta. Não viria a correr como antes?

Em Agosto o Mundial de Estrada iria acontecer no circuito de Frascati, perto de Roma, onde tinha acontecido uma etapa do Giro. A meio do percurso formara-se uma fuga de ilustres a saber: Anquetil, Derycke, Roland, Jempy Schmitz, Fornara. Ockers decide apamhá-los e consegue. E pouco antes do fim arranca para ganhar. A completar o pódio ficaram o luxemburguês Jempy Schmitz e o belga Germain Derycke. Stan Ockers nascera há 35 anos perto de Antuérpia. Era um ciclista esforçado, popular, próximo do público,  o seu nome, Constant, coincidia com a sua prestação nas Grandes Voltas, 10, qie sempre terminou, 8 Tours e 2 Giros, o pior lugar sendo o 1o Tour em 48, trrminando 11o. Stan Ockers foi o herói de juventude de Eddy Merckx. E desta vez não traira Impanis.

Caminhávamos agora para o Outono e com as principais figuras desaparecidas. Coppi tinha muito com que se preocupar fora da estrada. Casara-se no México, ia ser pai na Argentina. Bobet estava diminuido palas suas feridas provocadas pdelo selim. Os suiços Kubler e Koblet, estavam a despedir-se da ribalta. Kubler tinha 36 anos, Koblet 30. Koblet, como diziam rivais e amigos, subia cada vez pior nas montanhas, devido a uma "condição" ou "doença" misteriosa que  nunca se apurou qual era. Kubler retirar-se-ia em 56, de alguma forma na idade certa, mas Koblet... o "pédaleur de charme" que se penteava antes de chegar à meta, conduzia carros de alta cilindrada e levava uma vida social e pessoal confusa, estava em maus lençois. Os novos eram Nencina, que fizera pódio no Giro, Gaul e Brankart que completaram o pódio do Tour. O fenómeno Anquetil por enquanto só ganhava contra-relógios.

E Anqurtil voltou a ganhar o GP das Nações de 55. O GP de Lugano caiu para o suico Rolf Graf, seguido de Aldo Moser (irmão mais velho de Francesco Moser) e Brankart. O Paris Tours pertenceu a um francês, Jacques Dupont, com o belga De Bruyne em 2º.  De Bruyne repetiu o 2º lugar na Lombardia atrás do italiano Cleto Maule. Coppi, que em Setembro fizer a sua última vitória isolado no Giro del Appennino, voltou a ganhar o Trofeo Baracchi com Filippi, à frente de Brankart e outra novidade belga, Marcel Janssens.

O ano fôra de Bobet e Ockers, portanto. Ockers vencera o Challenge Desgranges-Colombo Magni ganhara na ratice o seu terceito Giro. Magni retirar-se-ia em 56, ainda competitivo ao contrário de Coppi que se continuaria a arrastar pelas estradas até 59.

  


segunda-feira, 8 de julho de 2024

Anuário Ilustrado do Ciclismo.


Estamos em 2024. Hoje termina a Volta à Itália. Salvo força maior Tadej Pogacar, um moço esloveno de 26 anos incompletos, vai ganhar a prova com uma vantagem gigante de quase 10 minutos. Está cumprida a primeira etapa do seu desiderato: ganhar na mesma temporada a Volta à Itália e a Volta à França. Pogacar está a criar a sua história de 2024, a sua narrativa, cada ano seu mais interessante do que o anterior desde que, há 6 anos, venceu a Volta à França do Futuro. 

É assim que acontece. Cada ano inicia-se nova temporada do ciclismo de estrada, e cada um dos ciclistas começa a contar uma história, a sua história, uma história de vitórias e derrotas, de duelos individuais e de vitórias colectivas. Uma história para ficar (ou não) na História do Ciclismo. O ciclismo de estrada é um desporto colectivo onde um mar de ciclistas arrumados em equipas defendem uma dúzia ou duas de campeões, as estrelas da estrada. São milhares de ciclistas a competir por esse mundo fora. No escalão mais elevado, o das equipas World Tour, com um orçamento de dezenas de milhões de euros, competirão meio milhar de ciclistas, mais concretamente 524. Estas equipas são dezoito e consoante as suas posses possuem um, dois, três ou mais cabeças de cartaz de primeira grandeza ou aspirantes a sê-lo, sendo um especializado nos sprints, outro nas corridas de um dia, outro ainda nas corridas por etapas de uma semana, outro ainda - estes a espécie mais rara - especialista nas corridas de três semanas que são três, o Giro, o Tour, a Vuelta. A popularidade da Volta à França, o Tour, durante muito tempo quase eclipsou o resto das provas. A sombra do doping, o peso da maldição Lance Armstrong, que manchou sobretudo o Tour e levou a que este tivesse vários anos sem vencedor atribuído, fez com que hoje em dia as coisas estejam um pouco mais equilibradas e se dê um pouco mais de atenção às outras provas. E ano após ano, da primavera até ao Outono, o ciclismo de estrada afronta os elementos e ocupa as estradas (sobretudo) europeias dias e dias sem fim.  Para no final do ano um balanço ser feito e as equipas e os corredores serem sagrados (ou não) como os vencedores do ano, merecendo passar para a tal História. Com a particularidade adicional do Campeonato do Mundo, uma corrida de um dia, ser apenas mais um trunfo, embora de peso, para este juízo final.

O ciclismo de estrada é um desporto eminentemente europeu. E mais assim era nos meados do século XX. Mas as fundações do ciclismo de estrada vão mais longe. O Tour e o Giro começaram na primeira década do século XX. Idem todas as grandes provas de um dia, nomeadamente as hoje apelidadas de Monumentos. França, Bélgica e Itália eram os países com as provas mais importantes, numa periferia próxima a Suiça, os Países Baixos e o Luxemburgo, a Alemanha algo afastada por questões políticas, a Espanha também mais o (então seu) atraso. A primeira Milão-Sanremo foi vencida em 1907 por um francês. O primeiro Paris-Roubaix aconteceu em 1896 e foi ganho por um alemão. Mas as tensões políticas europeias entre as duas guerras dificultaram a nascente "integração" europeia (ocidental) do desporto, nomeadamente uma adequada competição entre os campeões de um e de outro lados dos Alpes. A segunda metade dos anos quarenta viu o renascer destes contactos e o ciclismo de estrada - por muito maltratadas que as estradas estivessem - voltou a ganhar vida. 

Mas vamos começar pelo princípio, ou seja, 1946.

Já agora, as fontes, a quem agradeço eternamente:

Bikeraceinfo.com

Cyclingarchives.com

Cyclingrevealed.com

Les-sports.info/cyclisme-sur-route

Mêmoireducyclisme.eu

Mundodeportivo.com/hemeroteca

Museociclismo.it

Procyclingstats.com

Etc.!

OBRIGADO!



terça-feira, 11 de junho de 2024

Anuário Ilustrado do Ciclismo - 1949




A 13 de Março acontecia a 1ª corrida da 2ª edição do Challenge Desgranges Colombo (CDC), a Milano-Sanremo. Coppi arrancou no Capo Berta e ganhou destacado. O pelotão já era internacional, embora com claro predomínio italiano. Magni foi 3º, Bartalia 15º a 6 minutos. Mas o 6º foi o francês Fachleitner, o 8º o belga Sterckx, comparecendo outros belgas de renome, Keteleer, Claes e Schotte. O futuro treinador de Agostinho, De Gribaldy, foi 64º. Bernardo Ruiz foi um de dois espanhóis a completar a prova, terminando em 104º.

A 3/4 Marcel Kint, o Campeão Mundial de 38, conseguiu a sua última grande vitória ao vencer a Gent-Wevelgem num pelotão apenas belga, à frente de André Declercq que 3 semanas antes ganhara a Het Volk.


A 10/4 acontecia a 2ª corrida do CDC, a Volta à Flandres. E, surpresa das surpresas, a vitória pertence a Fiorenzo Magni, ganhando um sprint de uma dúzia e meia de corredores à frente de Valére Ollivier, Briek Schotte, Ernst Sterckx, Raymond Impanis, André Declercq... por esta ordem! Fiorenzo Magni declarou a posteriori que lhe parecia que "tinha nascido para correr a Volta à Flandres".

3 dias depois a Fléche Wallone era ganha por Rik van Steenbergen, com Coppi a ser 3º no sprint. Outra vez tínhamos um pelotão internacional, cortesia do  CDC, e por ex. Louison Bobet foi 9º a 3'. 

A 10/4 aconteceu a Paris-Roubaix. Fausto Coppi voltou a participar e o seu irmão, Serse Coppi, também. Serse era 4 anos mais novo e era seu gregário.  Fausto lançou o seu irmão para lhe oferecer a vitória. Mas um grupo de 3 corredores liderado pelo francês André Mahé, escapou e ultrapassou o grupo de Serse Coppi. Ao chegarem ao velódromo de Roubaix alguém da multidão indicou-lhes o caminho errado para entrarem no velódromo. Sprintaram, Mahé ganhou. Serse Coppi sprintou no seu grupo a seguir "e também ganhou" e a confusão aconteceu quando a delegação italiana, liderada por Fausto, protestou o resultado. André Mahé ganhara mas tomando um caminho errado. Os franceses contra-apelaram e a UCI apenas decidiu em Novembro que a prova ia ter 2 ganhadores. 

Uma semana depois o francês Maurice Diot vencia a Paris-Bruxelas num pelotão sem italianos. E n o fim de semana a seguir a Liége-Bastogne-Liege, não contando para o CDC, era ganha pelo francês Camille Danguillaume, também num pelotão misto francês e belga.

Maio começou com três provas suiças, o A Travers Lausanne, que mudara de data e o Zurich Metzgete, ambos ganhos por uma nova promessa suiça, Fritz Schar. Depois aconteceu a Volta à Romandia que foi um duelo entre Bartali e Ferdi Kubler, superiorizando-se o italiano ao suiço.

A 14 de Maio nova prova do CDC, o Paris-Tours.. A vitória sorriu ao belga Albert Ramon, a vitória de uma vida. Dois anos depois Ramon seria atropelado numa quermesse ciclísta e ficaria paraplégico.

A Volta à Bélgica foi ganha por Ernst Sterckx.

Este ano não ia acontecer Vuelta. A primeira das 2 grandes voltas, o Giro começou a 21/5. Para variar o pelotão era quase só italiano, com a excepção de uma dúzia de belgas, suiços e luxemburgueses. Mas italianos eram Coppi e Bartali, era preciso mais? Neste Giro, porém, o vencedor surpresa do ano anterior, Magni, não compareceu - por lesão? - estando a chefia da sua equipa entregue ao trepador Giordano Cottur. 


À 10ª etapa o camisola rosa era Adolfo Leoni, um sprinter e puncheur que ao longo das 19 etapas entre fugas e bónus amealhara 9 minutos de vantagem sobre Coppi e dez sobre Bartali, A etapa 11 englobava o Pordoi e nela Coppi ganhou 7 minutos a Leoni e Bartali. Leoni era primeiro mas com Coppi logo ali, Bartali a 10 minutos em 3º. A etapa 17 era "il tappone", englobando uma visita a França e ao Izoard. Eram 5 montanhas e Coppi passou em 1º em todas e chegou a Pinerolo com 12' de avanço sobre Bartali, 20' de avanço sobre o 3º corredor. Foram 192km de epopeia. Esta é considerada uma das etapas mais espantosas da história do ciclismo e existem romarias de fãs a reinterpretar o percurso. Na rádio ouvia-se a famosa frase. "Um homem sózinho ao comando, o seu maillot é branco e celeste, o seu nome Fausto Coppi!" Com os bónus Coppi colocara Bartali a mais de 23 minutos e Leoni a 27. O contra-relógio a seguir e onde Coppi jogou à defesa serviu para Leoni perder o 3º lugar para Cottur. O Giro de 48 fora vencido por 11 segundos, o de 49 por 23 minutos e 47 segundos..Os 1ªs estrangerios eram Fritz Schär em 14º, e Jean Goldschmit, luxemburguês, em 16º.

Goldschmit obviamente não participou na "sua" volta do Luxemburgo, vencida por Bim Diederich. Dias antes o francês Jacques Moujica, que fôra 3º no Paris-Roubaix e no Paris-Bruxelas, venceu o Bordéus-Paris. Era um corredor basco naturalizado francês e que viria a morrer num acidente de viação em 50. 

O Dauphiné-Liberé começou a 2/6, estando ainda o Giro a acontecer. A vitória sorriu a Lucien Lazarides, o irmão mais velho de Apo. sendo 2ª Robic e 3º Camellini, agora já naturalizado francês.

Aproximava-se o Tour.


Coppi e os irmãos Lazarides no Tour de 49

E o nº 1 iria pertencer à equipa italiana, pela vitória no ano anterior de Bartali. O treinador era Alfredo Binda, o lendário pentacampeão do Giro e tri-Campeão Mundial. E na equipa estava também Fausto Coppi. Fiorenzo Magni aparecia na "2ª equipa" italiana chamada dos "cadetes" embora ele aos 28 anos de cadete já não tivesse nada. Finalmente toda a fina-flor do ciclismo italiano corria o Tour. Quem para os defrontar? Os belgas confiavam em Impanis e Stan Ockers, para além de apresentarem Schotte (o improvável 2º do ano anterior) e Van Steenbergen. A equpa nacional francesa voltava a dar a primazia a Louison Bobet, contando ainda com Guy Lapébie (3º em 48), os irmãos Lazarides e os veteranos Tiesseire e Vietto. Robic após o descalabro em 48 fôra reenviado para uma das 4 equipas regionais. Havia ainda as equipas suiça (com Kubler), luxemburguesa (com Goldschmit, Kirchen e Diederich), neerlandesa (com Lambrichs) e uma equipa espanhola onde constavam Berrendero, Emilio Rodriguez, Langarica e Bernardo Ruiz. Lembro que não tinha havido Vuelta.


Saltemos para a 5ª etapa. Já tinham acontecido os fogos-de-artifício habituais e a amarela estava com um jovem francês de 23 anos, Jacques Marinelli. Ele e Fausto Coppi participam na fuga do dia. Num determinado momento os dois chocam e a bicicleta de Coppi fica em mau estado. Marinelli prossegue e ao fim do dia é ainda mais primeiro com 14' de avnço sobre o 2º. Coppi perde 19' e está a mais de 35' de Marinelli, a mais de 20' de Magni que é 2º na Geral, a 12' de Bartali que é 9º. Coppi acusa Binda de falta de apoio e só noite alta o convencem a não desistir e largar no dia seguinte. A etapa 7 é um contra-relógio plano de 92 km. Coppi é 1º, Kubler 2º, Van Steenbergen 3º. Marinelli mantém a amarela mas Kubler é agora 2ª a 8 minutos. Coppi está a 28'. Numa jogada de antecipação Fiorenzo Magni ganha a etapa 10 acompanhado por Impanis e Fachleitner e ao obter um avanço de 18' salta para a amarela. Era dia de descanso e depois os Pirinéus condensados numa só etapa. No pelotão já não havia espanhóis (Ruiz tinha avisado da sua/deles falta de preparação) nem neerlandeses. E da França Bobet e Lapébie já tinham desistido. Etapa que foi ganha por Robic acompanhado de Lucien Lazarides. Coppi chegou 3º devido a um furo, ganhando 3 minutos a Bartali e muitos mais à restante pandilha. Magni mantinha-se de amarelo mas com companhia próxima dos franceses Fachleitner e Marinelli, Kubler em 4º, 5º e 6º os belgas Dupont e Ockers, 8º e 9º Bartali e Coppi, Robic 10º. Após um dia de descanso parte-se de Cannes para Briançon via Izoard. Era a 1ª etapa dos Alpes. Coppi e Bartali atacam juntos e ganham isolados. Coppi deixa ganhar Bartali que faz 35 anos. Robic chega a 5 minutos, Apo Lazarides a 6', Marinelli a 9', Magni a 12'. Bartali está de amarelo, Coppi, Marinelli e Magni a pouco mais de 1 minuto. Na 2ª etapa alpina atacam juntos outra vez mas Bartali fura e Coppi tem autorização para seguir em frente. São 5 minutos ganhos a Bartali, 10 ao resto dos favoritos. Coppi vestia de amarelo. Os Alpes tinham "destruido" Magni, Fachleitner e Kubler, nomeadamente. A etapa 20 é um contra-relógio monstruoso de 137 km. Coppi ganha 7 minutos a Bartali que faz 2º, 8 minutos a Goldschmit e mais de 10' aos restantes. A etapa seguinte é a 21ª e acontece como uma chegada em pelotão a Paris, coisa oh tão moderna, com vitória de Rik Van Steenbergen. Coppi vencera Giro e Tour no mesmo ano. Bartali tinha sido 2º nas duas corridas. Fizera-se história. Uma palavra para o rapaz de 23 anos que foi 3º, Jacques Marinelli, que fez a corrida de uma vida ao entrar em quase todas as fugas, não se afundar na montanha e defender-se nos contra-relógios. Conseguiu assim ser o melhor francês imediatamente à frente de Robic. 54º e penúltimo encontramos o francês Custódio dos Reis, filho de emigrantes portugueses no Marrocos Francês e que em 46 e 47 correra pelo Sporting na Volta a Portugal. Custódio dos Reis viria a ter a sua maior vitória ganhando uma etapa no Tour de 50.

A Volta à Suíça este ano foi um negócio predominantemente caseiro e a vitória foi para Gottfried Weillenmann.


A 21 de Agosto o Campeonato do Mundo aconteceu em Copenhaga, num circuito predominantemente plano. A vitória sorriu a Rik Van Steenbergen que venceu num sprint a três Ferdi Kubler e Fausto Coppi. Schotte foi 4o a 3 minutos. Coppi foi curiosamente apenas 11º no GP das Nações, a vitória pertencendo a um especialista francês, Charles Coste. Mas Coppi não falhou no seu rendez-vous de final de época, a Lombardia, que venceu isolado após uma fuga de 56 km.

Em Setembro a Volta à Catalunha foi vencida pelo francês Émile Rol. Em 2º ficou o espanhol Miguel Poblet. No top dez constavam também Camellini, Cecchi, Alex Close, portanto um pelotão com valor.


No início de Novembro acontecia nas estradas de Bérgamo o primeiro Troféu Baracchi no formato que o tornaria célebre - 100km de contra-relógio em dupla - uma prova que se tornaria icónica durante décadas. Esta 1a edição em dupla seria ganha por Magni a fazer par com um rapaz de 22 anos incompletos, Adolfo Grosso.

O Challenge Desgranges-Colombo foi obviamente vencido por Fausto Coppi. Era um ano como nunca houvera algo igual. Em 2º ex-aqueo apareciam Bartali e Magni. Mas eu em 2º ligar poria Van Steenbergen, vencedor da Fléche Wallone, de 2 etapas no Tour e Campeão do Mundo.

Fausto Coppi fizera uma época única, marcada pela dupla Giro-Tour, mas como bom italiano fizera questão de ganhar a dupla Milão-Sanremo + Lombardia, a abertura e o fecho da época, fazendo pelo caminho pódios na Fléche Wallone e no Campeonato do Mundo e oferecendo ao irmão Serse um pódio no Paris-Roubaix que também poderia ter sido dele, senão mais. Nunca como neste ano se soube quem era o melhor ciclista do mundo, o Campioníssimo era Fausto Coppi.