O Bloco Central de Mário Soares e Mota Pinto foi um governo muito amarrado ao centro e que geriu - com Ernâni Lopes nas Finanças - um duro pedido de ajuda ao FMI. É opinião maioritária embora algo polarizada que este pedido de resgate resultara de alguns desmandos orçamentais da AD, nomeadamente no tempo de Cavaco Silva nas Finanças. Portanto, o governo pouco mais era do que Ernâni Lopes.O perene Álvaro Barreto estava, Carlos Melancia também, e aparecia pela primeira vez, pelo PSD, Ferreira do Amaral. E, ao nível político, também pelo PSD, tinhamos António Capucho a Ministro... da Qualidade de Vida. A crise foi muita, voltaram os salários em atraso, o tecido industrial português levou mais um rombo. Do lado positivo terminaram as negociações para a entrada na CEE e foi assinada a mesma nos Jerónimos no dia anterior à demissão do governo: a oposição interna no PSD liderada por Cavaco Silva e a morte súbita de Calos Mota Pinto tinham deixado o governo sem solução, E aqui, pela primeira vez, tínhamos um candidato a PM que... NÃO TINHA LIDO. Aníbal Cavaco Silva era o herdeiro de Sá Carneiro mas muito pouco tinha em comum com ele. Atenção, Cavaco Silva doutorara-se em York, no UK, e trabalhava no Banco de Portugal. Mas os seus interesses pareciam terminar aí. A sua patine algarvia interior de Boliqueime gerou ondas de rejeição de vários lados. Mas ganhou as eleições contra... António Almeida Santos.
Cavaco Silva iria durar dez anos como Primeiro-Ministro. E nos seus governos vamos encontrar nomes fundamentais para entender os anos 80-90. O cavaquismo foi a nossa versão dos anos oitenta, quando começámos a ter algum dinheiro e as memórias da revolução começaram lentamente a esmorecer. O primeiro governo de Cavaco foi minoritário e aproveitou o aperto financeiro prévio. Para além do perene Álvaro Barreto apareciam Miguel Cadilhe, Valente de Oliveira, Santos Martins, Mira Amaral e Oliveira Martins. Na Saúde pontuava Leonor Beleza, que ganhou a inimizade por parte dos médicos para a vida. Político só o braço direito Fernando Nogueira. Em 87, após uma moção de censura, Cavaco Silva ganhou a sua primeira maioria absoluta contra Vitor Constâncio. O PS não podia oferecer aos eleitores candidado mais LETRADO, um economista lisboeta e culto mas com um carácter relutante e que aparecia à frente de um PS dividido.
O 2º governo de Cavaco mantinha a maior parte dos tecnocratas mas dava palco a outro delfim de má memória, Dias Loureiro. Na equipa em contraponto apareciam agora bons LETRADOS a complementar as deficiências do líder; Silva Peneda, Laborinho Lúcio, Roberto Carneiro. E, para o fim da legislatura, entrava em cena o Sr Auto-Estradas, Joaquim Ferreira do Amaral, que já fizera uma perninha no Bloco Central.
Lembro que Mário Soares era agora Presidente da República, após uma renhida batalha contra Freitas do Amaral em 86. Deste disseram o que os muculmanos não dizem do toucinho. Viria a ser no futuro Ministro dos Negócios Estrangeiros de Sócrates.
O 3ª governo de Cavaco Silva, saído de eleições onde se renovou a maioria absoluta contra uma invenção malfadada, a FRS, onde o PS aparecia a tentar imitar a velha AD e pondo como cabeça de cartaz Jorge Sampaio. Jorge Sampaio tinha os seus pergaminhos derivados de ter sido dirigente estudantil na crise académica de 69 e, como ex-MES, representava a ala esquerda do partido. Era Presidente da Câmara de Lisboa depois de ter vencido nas autárquicas de 89 com uma coligação inédita com o PCP. Para a Câmara voltou.
Lembro três datas que definiram o Cavaquismo: em 87 começava a SIC; em 88 começaram as privatizações; em 91 fechava-se a A1 em Condeixa.
Mais outra data: em 1993 era fundado o BPN.
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