Nestes tempos incertos em que nos encaminhamos uma vez mais para eleições torna-se importante PENSAR nos cinquenta anos que aconteceram e que, aliás, decoram um cartaz que aparece pelas ruas e pertence ao partido Chega. E vou reflectir nos primeiros-ministros que tivemos.
As pessoas não precisam de se preocupar com as minhas reflexões, elas não vão ser profundas. Vou apenas dividir os primeiros-ministros que tivemos entre aqueles que... "LÊEM" e aqueles que... "NÃO LÊEM". Ler acrescenta, ler optimiza, ler potencia. Ler permite um outro olhar. Uma pessoa que vai liderar um país tem que ser uma pessoa "LIDA" ou, para ser mais correcto, "LEDÔRA". Tem? Então estamos mal porque, para não ir mais longe, os dois candidatos a primeiro-ministro que hoje temos, Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro... "NÃO LÊEM". Como é que eu sei? Sei! Ninguém mais notou?
Quando o partido Chega - cujo líder André Ventura não só NÃO LÊ como ainda por cima ESCREVE MAL - fala de 50 anso comete uma pequena imprecisão. O 1ª governo constitucional, de Mário Soares, tomou posse em 1976 - há 49 anos. Mário Soares... "LIA", bem como o seu oponente Sá Carneiro. Uma situação oposta à de hoje. Como é que isto foi acontecer?
O primeiro governo de Soares era um governo onde aparecia muita gente alinhada com uma corrente mais moderada do PS. Lopes Cardoso, que estava na Agricultura e Pesca, foi substituido em meses por António Barreto. Medeiros Ferreira estava nos Negócios Estrangeiros. Os mais políticos eram o amigo Almeida Santos, Jorge Campinos e Mário Sottomayor Cardia. A caução republicana advinha de Henrique de Barros, já septuagenário. Neste governo encontramos as únicas intervenções governativas de Medina Carreira e de Rui Vilar. Em 77 Carlos Mota Pinto, então independente, entrou para o governo. Era um governo moderado, com dois militares dentro, Costa Brás na Administração Interna, Firmino Miguel na Defesa. Lembro que o Conselho da Revolução ainda era vigente. Mário Soares precisava de um governo moderado para trabalhar com a CEE, o FMI e roubar votos ao PSD. O socialismo "estava na gaveta". A austeridade levou à moção de censura e o governo caiu em 78.
Soares surpreendeu voltando à carga com um governo PS-CDS. Antecipando as grandes coligações germânicas de hoje. O objectivo era a) a estabilidade. b) isolar o PSD, tentando a médio prazo minorar um partido que se dizia "social-democrata" mas que com Sá Carneiro se polarizara e alinhava com o centro-direita europeu.
O segundo governo de Soares aguentou enquanto o CDS aguentou. o que não chegou a um ano. Neste ano António Arnaut foi ministro e deu inÍcio oficial ao SNS, Vitor Constâncio foi ministro pela única vez no seu percurso e aparece na indústria o primeiro nome controverso associado ao PS (posteriormente ilibado - quem não?), Carlos Melancia. A Administração Interna passa para um civil que se chama Jaime Gama. No outono de 78 o CDS abandona o Governo. Acontecem depois 3 estranhos governos de iniciativa governamental, liderados respectivamente por Nobre da Costa, Mota Pinto e Maria de Lurdes Pintassilgo. Ninguém duvida de serem "LEITORES" cada um destes fugazes primeros-ministros nomeados por Ramalho Eanes. Que, já agora, "ANDAVA A LER".
Fomos para eleições, o CDS aliou-se com o PPD/PSD e o PPM e aconteceu a AD, liderada por Sá Carneiro. Que também "LIA". Vivia aliás uma relação amorosa com uma editora de livros - querem mais? Sá Carneiro apresentava-se neste governo com um triunvirato político constituido por ele, Eurico de Melo e Vitor Crespo. A dissidência que acontecera com a ASDI roubara muitos quadros ao PSD. O CDS brilhava no governo com Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Rui Pena, Vitor Sá Machado. Todos LEITORES. Nas Finanças pontuava um desconhecido, Cavaco Silva. Um mistério. LERIA? Era um governo com apoio maioritário na Assembleia da República. Um governo de combate, combate contra Eanes, contra Soares, contra o pós-PREC que ainda tomava conta do país. Sá Carneiro não funcionava de outra forma. Soares, na campanha de 80, apareceu de galochas com Maria Barroso em Nafarros a cultivar um talhão de terra e a defender os valores da família. Era os tempos de Snu Abecassis. O meu desprezo por Mario Soares criou-se nesse momento e ficou para sempre.
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