Conheci a Adília Lopes ao comprar o seu 2o livro de poesias, o Poeta de Pondichéry, ao mesmo tempo um dos mais elaborados, o que me criou algum equívoco sobre a obra da poetisa.
Para a Adília Lopes a poesia era indubitavelmente a sua salvação. E cada livro publicado páginas de um diário. Lembro aqui a obra recente do Miguel Esteves Cardoso onde ele nos impele a escrever, mal, péssimo, mas a escrever. Como se uma salvação. Há muitos anos ofereceram-me dele O Amor é Fodido, comentando o que então, e vão 30 anos, era a minha vida. Era, Miguel, um livro menos bem escrito, ou eu então não terei gostado da mensagem. Não voltei a ler, o livro em Ovar repousa. 30 anos depois o Amor resolveu-se a bem, a amizade que ofereceu enganou-se no caminho e perdeu-se. A Adília é muito mais do que um soberbo texto sobre a menstruação. Ou uma colectânea com um título assassino ("Quem quer casar com a poetisa?"). Ou ainda a temporária presença mediática, os arregalados olhos com lunetas, que ela atempadamente aboliu. A salvação é temporária, e para a Adília agora acabou. Corria o rumor de um fundo psiquiátrico a atormentá-la em permanência. Desconhecia-lhe o diagnóstico. Conheço bem o meu.
A Adília Lopes vai-me fazer muita falta.