Em 1882 Friedrich Nietzsche declarou pela primeira vez, no seu livro "Gaia Ciência", que "Deus estava morto e que nós o tínhamos matado". Nietzsche receava que o ruir da coluna vertebral fornecida pelos princípios da Igreja Cristã ao Ocidente perante a ciência, a racionalidade, o secularismo e o porvir industrial, provocasse um vácuo na existência humana. Nietzsche duvidava que a humanidade conseguisse uma auto-determinação plena e conseguisse tomar o seu destino entre mãos e bem, construindo um mundo melhor.
143 anos depois, repete-se o raciocínio. Mas desta vez quem morre é mesmo alguém, palpável, Jorge Mario Bergoglio, um homem argentino de 88 anos que decidiu chamar-se a si mesmo de Francisco buscando inspiração no mais humilde dos Santos. Francisco era o representante terreno do Deus Morto de Nietzsche. E, porém, ele era sobretudo a consciência moral de um Ocidente a ruir. Podia alegar não ser dele a voz. Mas era. Ao ouvi-lo falar eu não ouvia mais ninguém mas a voz dele sozinha era mais do que suficiente.
A ciência e a razão estão a ser atacadas, a ideia de Deus é traficada por vendilhões do templo, o secularismo não conseguiu cumprir as suas promessas de iluminação e paz. Eu, que não sou filho de nenhum Deus, sei bem que hoje morreu um Filho de Deus. Donald Trump e associados são um rebanho de novos Bezerros de Ouro. Saio do meu trabalho, olho à minha volta e fico com uma sensação de que falhámos.
E sinto-me órfão da voz e do olhar de Francisco. Do seu passado argentino de crescimento lento. Órfão da palavra. Dos seus tão humanos humores. Órfão de tudo.
Está cada vez mais difícil manter-me Vivo, Francisco.
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