Joaquim Manuel Magalhães, nativo da Régua e nascido em 1945, enquanto poeta já não existe. Destruiu a sua obra recriando-a num livro-colectânea aparecido em 2010, "Um Toldo Vermelho". E desapareceu.
Mas é obrigatório desobedecer e lembrar por ex.:
SETE PALAVRAS PARA O JORGE MOLDER
cancela
No meio da cerca está uma cancela
também ela fechada. O ar cingiu-a
com um donaire agreste de abandono.
E a cera e a madeira nela ficam
folha de zimbro e maré vagante.
Um dia certos ombros nela assomam,
noutro certos olhos dela partem
e olho a sua sombra com os pássaros
que vão para mais longe e nos entregam
os primeiros dias em que desce a noite
mais cedo, depois vem o inverno, o acolhimento,
a repousante canção dos cães a ladrar.
A cancela tem a marca dos meus dedos,
tantas vezes a abriram, tantas a fecharam,
a própria resina fareja na distância
cada passo meu que me aproxima
cada passo de alguém que não me alcança.
Guarda-me na casa onde outrora um outro
já não traz ao teu corpo esse prazer
que me forças, no seu vaivém, a abrir.
in "A Poeira Levada Pelo Vento", ed. Presença, 1993.
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