À espera para um exame é como se estivéssemos à espera mesmo para um exame. Iremos passar? Esperava, na terça-feira que passou. Esperava acompanhando. Que na medicina sempre é preciso rever, comparar, comprovar. Com a minha farda de militar entrei pela porta da Gastro e perguntei alguma coisa, um estrondo atrás de mim. "Caiu, doutor?" - perguntaram-me na brincadeira. Caíra sim, um acompanhante septuagenário de uma senhora septuagenária que vinha retirar um pólipo. Desamparado mas não muito magoado estava o senhor, a não querer sentar-se: "não posso, dói-me o cu, estou assim há muito tempo, tenho umas bolhas!" "Devias ter ficado em casa, homem!", dizia a senhora, um olho que não vê, e cega por perder o protagonismo que a polipectomia lhe prometia. Em maca entrou o acompanhante para dentro antes do que a doente encartada a polipectomizar. A minha farda de militar obrigou-me a auxílio e em auxílio lá voltei a entrar. Coloquei a voz, vimos os vitais (quase) todos. Ele explicou-me: entupido uns largos dias, tomara uns medicamentos e ficara com o cú um pandeiro, não se podia sentar, uma cruz! A mulher entretanto entrara e desanimada já dizia "que não me tirem o pólipo!". O senhor tinha esgrimido a famosa password "sou diabético!" - ora glicemias bem ,um pouco hipertenso, taquicárdico, barriga penetrável. "Vai passar!" Mas a pressa no coração mantinha-se, a cara de doente não enganava, havia marosca. Dois telefonemas, convencer uma auxiliar a auxiliar, despachado o artista para a urgência. Conversa a descarregar o stress, a brincadeira, o inesperado. Apesar de tudo havia um exame por acontecer... Passaríamos?
Ligo para a Colega e Amiga da urgência e ela diz-me "pois, com quarenta de febre!". Tínhamos visto os vitais QUASE todos! Ai esta medicina quase perfeita...
Foi operado à tarde, drenagem de abcesso poliloculado no mais íntimo do traseiro. A esposa, polipectomizada, voltou sózinha para casa de táxi.
Quanto ao exame, passámos!
Sem comentários:
Enviar um comentário