Garden Party, O - Katherine Mansfield
Li esta colecção de contos há muito, muito tempo. E já então fui atingido pelo seu discreto desacerto em relação às narrativas habituais a que eu então estava habituado. Nascida na Nova Zelândia e viajando para a Inglaterra c om 19 anos, em 1907, conheceu e foi reconhecida pelo Modernismo Inglês. Faleceu vítima de tuberculose em 1923. A sua vida foi uma eterna corrida à procura de alguma coisa. Uma melancolia e uma inquietação, a proucura, permeiam a sua escrita.
"- Tu não estás... Desculpa ter-te contado, John, querido. Ficaste triste? Não estragou a nossa noite... O bocadinho que tínhamos para estarmos um com o outro? / Ao ouvir isto, contudo, ele teve de esconder a cara. Pôs a cabeça no peito dela e envolveu-a com os braços. / A noite estragada! O bocadinho para estarem a sós estragado! Nunca mais iriam estar a sós um com o outro."
Gaspar, Belchir & Baltasar - Michel Tournier.
O nome Michel Tournier há muito tempo que me persegue. Sobretudo desde que li algures no século passado o mesmo ser rotulado de "o maior escritor católico vivo". Engtretanto morreu em 2016. Não lhe conheço as obras mais conhecidas. Algumas coisas que li surpreenderam-me pelo vício. O romance de que aqui falo é uma versão da história dos reis mago em que a narração do apelo em cada um deles a seguir a estrela e ir encontrar o Salvador é superior. Mas há um quarto rei mago, um quarto apelo, cujo encontro com o Salvador é atrasado por variadíssimas peripécias, atrasado precisamente trinta e três anos... e aqui está a mensagem Maior. Brilhante!
"A sala estava vazia. Uma vez mais chegara demasiado tarde. Tinha-se comido naquela mesa. Havia ainda treze recipientes, uma espécie de malgas pouco profundas, muito largas, munidas de um pé baixo e de duas pequenas asas. Em alguns deles, um fundo de vinho tinto. Em cima da mesa viam-se fragmentos de pão ázimo que os Judeus comiam nesta noite recordando a saída dos seus pais do Egipto."
Harrison Principles of Internal Medicine, 11th Edition - Braunwald et al.
Com este livro fiz o exame de acesso à Especialidade em 1990. Só o li uma vez, mais propriamente os capítulos indicados. Depois fiz resumos, resumos de resumos, resumos de resumos de resumos, etc. Foram meses muito difíceis pelo exame, por outras coisas. Fêz-se e entrei na Especialidade que quis: Medicina Interna. Quando escolhi fui um dos miúdos mais populares do Curso de 82-88..
Ilha de Próspero, A - Rui Knopfli
Rui Knopfli pertenceu à fantástica geração de escritores e poetas que Moçambique criou nas décadas qiue antecederam a independência. Nascido em Inhambane em 1932, foi delegado de propaganda médica e opositor ao regime. Saindo de Moçambique desencantado em 1975, "exilou-se" como conselheiro de imprensa da embaixada de Portugal em Londres onde viveu até 1997, quando morreu. O livro de que falo é dedicado à Ilha de Moçambique, poemas e fotos, ambos de Rui Knopfli. A primeira versão do livrinho surgiu em 1972, muito próximo do 25 de Abril, e o maior elogio veio de José Craveirinha. Claro que há um enorme fascínio pela criação da Ilha-Colónia Portuguesa, mas há também atenção demorada sobre tudo o resto, incluindo a Ilha que não é feita de pedra e cal, a Outra Ilha. Falamos de algo que é Património da Humanidade. O seu melhor retrato reside aqui.
"(...) Por isso dizia: "- Não negoceio. / Resisto." E saía ao postigo da praia / percorrendo S.Gabriel em surtidas céleres / de que o ruivo holandês expiava o tributo // conhecendo-lhe o golpe certeiro do montante. / O seu saldou-o em olvido, malária e cicatrizes. / E o português que era D. Estêvão de Ataíde / nasce na morte moçambicano."
Incal, O - Moebius & Jodorowsky
Segui esta saga de BD na revista (A SUIVRE). Sobretudo pela fantástica limpeza do desenho, embora também a saga criada por Jodrowsky, um não admirável mundo novo, tivesse a sua piada. Moebius é a versão "linha-clara futurista" do desenhador Jean Giraud, conhecido com este nome como autor da saga Blueberry. A saga é constituida por seis volumes. O herói é um detective do futuro, John Difool e tudo começa quando ele, em fuga, se atira de um prédio abaixo. Não morre, claro, senão não havia saga...
Justine - Lawrence Durrell
É um dos meus pecados, nunca ter lido todo o Quarteto de Alexandria. Mas este primeiro volume, de Lawrence Durrell, cuja lenta história gira à volta de uma mulher, Justine, e de uma cidade, Alexandria, prende pelos múltiplos jogos de espelhos construídos por palavras que nos escondem e apresentam os vários personagens. Para cada um deles sucedem-se retratos sobre retratos, que se contradizem, completam, ressaltam, iluminam, e isto não termina aqui. A minha preguiça esbarrou nas duas vezes em que não terminei "Balthazar", que exponencia o que acontece em "Justine". Não interessa. Justine é uma das "mulheres-escritas" da minha vida. Neste momento é um livro que eu não consigo encontrar. Sinto-me incompleto. Estará em Ovar? E esta hipótese levanta-me a questão maior de todas, o que representa Ovar para mim.
Le Grand Guide du Yémen - Ed. Gallimard (trad. Insight Guide)
Este livro foi comprado por mim vai para muito tempo. Já então comprava livros de viagens, ou guias de viagens que sabia não ir fazer, estarem para lá do meu âmbito de possibilidades. O Iémen vivia então um pequeno intervalo de relativa paz. Um país, umas gentes, lindíssimas, uma civilização antiga, arquitectura única. Mais de metade das fotografias deste livro, com a Guerra Civil que entretanto está a acontecer, terão desaparecido, estarão irremediavelmente alteradas. Incluindo as pessoas, que envelheceram, morreram ou forma mortas.
Líricas Portuguesasa (3ª série) - organiz Jorge de Sena
Este livro está esgotado. Consultei-o pormenorizadamente pedindo-o emprestado à Biblioteca Gulbenkian da Câmara Municipal de Ovar. É uma antologia e abrange os anos (de nascimento dos poetas) de 1909 até 1929. Cada texto escrito por Jorge de Sena sobre cada um dos poetas apresentados é na realidade um pequeno ensaio, e algumas das coisas que ele escreveu ainda reverberam nu mundo da poesia portuguesa. Alguns dos poetas antologiados estão hoje esquecidos, Fernda Botelho, Alexandre Pinheiro Torres, o recém falecido João Rui de Sousa. É tempo de republicar este livro.
Livro de Português do 9º Ano?
Não me lembro de nas aulas os seus poemas terem sido objecto de discussão, mas foi neste livro que li Herberto Helder pela primeira vez.
Lótus Azul, O - Hergé
Um conhecido meu de há muitos anos falou de "O Lótus Azul" como "A definição do que é uma amizade". Era um exagerado. Uma imagem deste Tintin viajou numa mochila minha alguns anos. É indiscutivelmente o primeiro grande álbum do Tintin de Hergé. Tem algumas das pranchas icónicas de Tintin. É um prazer sempre revisitá-lo mais a sua inimitável "linha-clara". Num inquérito do Le Monde feito em 1999 esta banda desenhada foi considerada o 18º livro mais importante do séc. XX, n uma escolha de 100. "O Lótus Azul" é um ponto de viragem no desenho e no texto de Hergé. Fala-se da infljuência da Arte Chinesa no despojamento do desenho. E pela primeira vez a história contada faz justiça ao Outro, completamente ao contrário das aberrações de "Tintin no Congo". A obra saiu em 1935, a versão colorida em 1946. Quando falam em obra-prima há quem se refira até mais à versão a preto-e-brano, onde ressalta a qualidade do desenho.
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