As questões inclusivas têm andado numa roda-viva. Foi a piada do Ricardo Araújo Pereira. E foi o texto do José Pacheco Pereira (JPP), publicado no Público a 9/7 intitulado "Porque é que "todes" não é todos, nem todas?".
Vamos agora ao texto do JPP. Sendo um dos comentaristas políticos que mais aprecio, só posso considerar terem nascido de alguma preguiça algumas partes do texto.
Começa a coisa por fazer uma crítica da linguagem "inclusiva", nomeadamente dos neologismos que a mim também me atrapalham, nomeadamente o "todes". Mas rapidamente envereda por outros caminhos ao lamentar o expurgo de palavras como "preto", "paneleiro", etc., enquanto "branquela" "não é atingido pelo opróbrio." Ressalva que "são insultos homofóbicos ou racistas", mas discorda de se tentar uma língua "sanitariamente" purificada como sendo um tique ditatorial.
JPP não repara que o insulto "preto" o é embora a palavra apenas enuncie uma cor de pele, o insulto "paneleiro" o é embora apenas se trate de um comportamento sexual hoje considerado normal. Pelo contrário, "filho da puta", ou "cabrão de merda" são insultos que aplicam à pessoa visada um estatuto de maldade acrescida, a que nível seja. "Branquela" não qualificará, pois hoje também na prática não se insulta ninguém ao chamar-lhe de "ricaço"...
Portanto, é diferente.
Depois JPP insurge-se contra o famoso quadro de definições da campanha de publicidade da Fox Life, dentro da mesma lógica que eu já apliquei - definições são paredes... - mas caindo no ridículo de apelar à abstrusa definição de "Trans Espécies" - que na campanha da Fox Life não consta, para ridicularizar todas as outras definições.
JPP busca encontrar a sua identidade no meio das definições acima - como eu já fiz. Questiona e bem que um mundo inclusivo exclua um heterossexual de falar da homossexualidade, um branco de falar de um mundo negro (a história do colonialismo dada como ex.), assumindo isso como não saudável. Erra quando pergunta porque há uma "União Negra das Artes" e não se aceita uma "União Branca das Artes".
É verdade que as questões da "apropriação" me parecem uma patetice - se eu quisesse escrever uma História da Índia, porque não, que gene mo impede? Quem sabe se eu não a saberia escrever bem? No entanto gostaria e muito de conhecer uma História das Colonizações escrita por africanos e negros. Lembro o clássico "As Cruzadas vistas pelos árabes" de Amin Maalouf, uma leitura edificante.
O comentário sobre a "União Negra das Artes" parece-me completamente despropositado.
JPP insurge-se contra uma linguagem que na realidade não é tão inclusiva quanto isso. E sofre pela superioridade moral aparentemente anexa a esta nova linguagem. A História vive de fluxos e refluxos. Antes a superioridade moral era a nossa, José. Vamos ter calma.
Só uma última nota, e voltando à Fox Life: "Aliada: Pessoa não-LGBTI+ que defende os direitos LGBTI+, apoiando a causa e/ou promovendo activamente a iguladade e não discriminação." Lembra-me a Avenida dos Aliados. Que assim foi denominada em homenagem aos Aliados da 1ª Grande Guerra. Mas que eu saiba guerra só há na Ucrânia, no Iémen, na Síria... em Portugal vivemos em paz.
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