quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Os Mundiais de Merckx


O apogeu de Merckx durou de 68 a 74. Neste período ele ganhou 2 Mundiais de estrada,  em 71 e 74. A sua primeira vitória em Mundiais acontecera precocemente em 67. Aplicando a Merckx o fatalismo que hoje aplicamos a Pogacar ao assumirmos uma inevitável vitória no próximo domingo em que se vão correr os Mundiais de Estrada deste ano, podemos perguntar: porque não ganhou Merckx mais Mundiais?

Merckx fôra pela primeira vez Campeão do Mundo em 67, aos 22 anos de idade, ao bater ao sprint o neerlandês Jan Janssens nos Países Baixos. 67 fôra o ano de apresentação de Merckx. Ganhara a Milano-Sanremo e a Fléche Wallone e uma etapa de montanha, o Blockhaus, na sua primeira comparência no Giro, onde terminou nono. Em 68 Merckx mudara de equipa e passara para a italiana Faema, como chefe-de-fila. O ano de 68 de Merckx fôra diferente. Apontara mais a corridas de etapas, ganhando Sardenha, Romandia e o seu primeiro Giro. Pelo meio interrompera a série para vencer na Paris-Roubaix. O Campeonato do Mundo de 68 acontecia em Imola, 277 km num circuito rugoso à volta da cidade. Para aí a 100 km da chegada partiram à desfilada três corredores: o italiano Vittorio  Adorni, o belga Rik Van Looy, agora já um veterano.e... Joaquim Agostinho! E isto ainda antes de ter viajado ao Brasil e ser descoberto por De Gribaldy! Foi aqui que Agostinho se mostrou ao mundo. Adorni era colega de equipa de Merckx na Faema e na escapada ia Van Looy, um colega de país e o ciclista belga mais famoso até então. Assumo que foi por aqui que Merckx não contra-atacou. Adorni entrou em modo contra-relógio e despachou a seu tempo Agostinho e Van Looy (já um veterano...) e conseguiu ser Campeão do Mundo com mais de nove minutos de avanço sobre o 2º, outro belga, Van Springel, que tinha sido também 2º no Tour de 68. Merckx foi 8º chegando no grupo dos primeiros seguidores.

Em 69 Merckx não ganhou o Giro por uma estranha desclassificação por doping que ele sempre negou, mas ganhou demolidoramente o Tour. E o Campeonato do Mundo acontecia em Zolder, em casa. Mas a selecção belga estava tudo menos unida. Godefroot e Merckx eram rivais, Van Looy, ainda seleccionado não se sabe porquê era uma sombra. Cedo Godefroot e Julien Stevens meteram-se numa fuga, sendo Julien Stevens um belga de 2ª linha da Faema de Merckx mas bom rolador e bom sprinter.. Nesta fuga seguia o português João Roque. O italiano Dancelli tentou a determinado momento separar as águas mas a sua tentativa virou-se contra ele e ficaram na frente o belga Julien Stevens e um "armario" neerlandês, Harm Ottembros. Stevens não estava habituado a estas cavalgadas e tinha o orgulho da Bélgica aos ombros. Tudo fez para sacudir Ottembros da sua roda não o conseguindo, entregando-lhe no fim, extenuado, o título. Ottembros nunca mais conseguiu ganhar nada de jeito mas neste dia o seu triunfo obrigou a escolta policial. Merckx desistiu, não sabemos se desmoralizado pelo mau jogo de equipa se por confiar na vitória do seu colega Stevens, que não veio a acontecer. No primeiro pelotão chegarm três portugueses, Agostinho, Mendes e Roque.

O ano de 70 viu o Campeonato do Mundo acontecer em Leicester, na Inglasterra, num circuito cuja maior dificuldade foi o mau tempo. Aqui também as rivalidades dentro das mlehores equipas, italianos e belgas, decidiram a vitória. Nos belgas Godefroot e Merckx continuavam candidatos e rivais. Jean-Pierre Monseré, um neófito com 22 anos incompletos, foi o peão da equipa para neutralizar as várias tentativas de fuga, incluindo a última, onde seguiam três tubarões italianos, Gimondi, Dancelli e Motta. Já perto do final foi ainda Monseré a apanhar estes ciclistas, a ultrapassá-los e a conquistar o título de Campeão do Mundo frente ao dinamarquês Leif Mortensen, o mesmo que lhe tinha roubado o mesmo título mas amador... em 69. Gimondi fechou o pódio.  Atrás chegou um enorme pelotão de osbreviventes à tormenta, com Merckx lá para o meio, bem como os portugueses Firmino Bernardino, José Azevedo e José Luis Pacheco.

Finalmemte em 71 alinharam-se os chackras e Merckx ganhou o seu 2º título. Como aconteceu? O ano de 71 não apresentou Merckx no seu melhor. Como única vitória em clássicas venceu a sua 4ª Milano-Sanremo. Não compareceu ao Giro mas foi ao Tour após ter vencido Dauphiné e Midi-Libre. Humilhado por Ocaña em Orcières Merlette, só recuperou a amarela depois da queda e abandono do espanhol, lançando uma sombra definitiva sobre a sua vitória que acabou por acontecer. O Mundial voltava a Itália, desta vez a Mendrisio. 268 km que voltavam a ter um acumulado vertical respeitável, como não aocntecia desde Imola. Na fuga seguia gente importante, Bitossi, Zoetemelk, Swerts, um belga colega de equipa. Foram os ataques de Gimondi aos quais por fim Guimard e Mortensen não conseguiram responder que ofereceram, em solo italiano o título a Merckx. Este foi sempre na roda do italiano, depois ajudou-o a cavar um fosso para os demais e, no fim, sprintou para a vitória, Gimondi conformando-se com o 2º lugar. Os portugueses desistiram todos, Agostinho incluido.

Em 72 a corrida aconteceu em Gap e voltou a ter mais de 3000m de acumulado. Gap era França, terra onde Merckx não era muito popular, pelas vitórias no Tour. que voltara a acontecer em 72, a 4ª vitória, depois da vitória também no Giro, a 3ª, e a 2ª dupla, a igualar Coppi. Na prova o herói foi Bitossi, um italiano sempre aguerrido, que entrou na reta da meta sózinho mas que foi apanhado por um grupo de escapados onde seguia Merckx. Merckx e mais uns quantos... Guimard, Zoetemelk, Verbeeck e Marino Basso, um excelente sprinter que aguentara as durezas do percurso e que foi o único a conseguir ultrapassar Bitossi e sagrar-se Campeão. A coligação de todos os companheiros de fuga contra Merckx tivera êxito. Merckx foi 4º, ficando fora do pódio. Diz-se que o seu "excesso" de vitórias e o seu instinto "canibal" o colocara sem aliados. À dureza de Gap dos portugueses só resistiu Agostinho, 42º e... último. Isto dos Mundiais não era para ele.

1973 levou os Campeonatos do Mundo até Barcelona. Onde a encosta de Montjuich seria ultrapassada 17 vezes num percurso de 248 km. Ano estranho para Merckx, que ganhou Vuelta e Giro e depois evitou o Tour "por compromissos comerciais", permitindo a Ocaña vencer destacadíssimo o mesmo. De uma fuga precoce chegaram à meta apenas quatro ciclistas, e que ciclistas:  Gimondi, Ocaña, Merckx e Freddy Maertens, um belga de 21 anos que neste ano já ganhara os 4 Dias de Dunkerque. Num golpe de teatro foi Gimondi a ganhar o sprint, talvez porque terá sido o único a não se preocupar com o sprint de Merckx, que dos 4 terminou em 4º e saiu da prova a chorar. Maertens foi 2º - viria a ser Campeão do Mundo duas vezes. Ocaña conseguu o 3º lugar, fazendo aqui a sua melhor prova de um dia de sempre e, mais importante, ficara à frente de Merckx. A Gimondi, com 31 anos, perguntaram se agora já podia pensar em retirar-se. Disse que correria pelo menos mais um ano. Correu mais cinco e ganhou em 76 o seu 3º Giro. No pelotão a 5 minutos conseguiram chegar Agostinho e Herculano Oliveira.

Em 1974 pela primeira vez o Campeonato do Mundo saiu da Europa e voou até ao Canadá, mais precisamente até Montreal, onde a subida que dá nome à cidade, Mont-Royal, forneceu a dificuldade ao percurso, com um acumulado vertical de quase 5000 metros. O animador da prova foi o francês Bernard Thévenet, que fez isolado aproximadamente cem kms, para ser alcançado pelo grupo de Merckx na última volta do circuito. Merckx, que vencera o  Giro com dificuldade e o Tour sem grande oposição, com Poulidor como distante 2º, esteve intratável e foi descarregando adversário atrás de adversário, só mantendo (cinicamente?) o veterano Poulidor consigo até à meta, onde o bateu facilmente ao sprint. Meckx completara a maior façanha da História do Ciclismo, sendo campeão de Giro, Tour e Mundial no mesmo ano. Feito só igualado por Stephen Roche em 1987 e que este ano está à mercê de Tadej Pogacar. Para fechar o relato diga-se que Portugal não levou ciclistas a Montreal. Pouco tempo depois acabaria o cic ismo profissional no país - sequela do PREC - e, por outro lado, Agostinho terminava o ano de 74 em queda e desempregado. Portugal só voltaria a ter um reperesentante nos Mundiais em 82 com Acácio da Silva. 

Diga-se das vitórias de Merckx que nenhuma foi majestática como Coppi em 53 ou Adorni em 68. Mas foram 3. Nem Coppi nem Adorni repetiram. A fotografia acima mostra Merckx a subir o Mont-Royal e a selar o fim de uma epoca do ciclismo. A sua.

 


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