Desde Watergate que os Estados Unidos não vivem uma crise tão séria. Elegeram um presidente que não reconhece outra lei que não a da sua vontade. Um presidente que fagocitou um partido que, desde Reagan, tem vindo a tornar-se progressivamente mais conservador e mais polarizado em apenas servir-se e servir "os seus", ou seja, paradoxalmente, os brancos mais ricos e os brancos mais pobres. Trump é culpado de não saber conduzir uma crise grave como a da pandemia vírica. Por outro lado apareceu-lhe agora pela frente a morte de George Floyd, a enésima prova da existência de um racismo larvar mas presente na sociedade americana. Trump é racista e ainda mais o é por uma grande razão, assim de simples: Barack Obama. O homem que o humilhou num discurso de circunstância para jornalistas e que, por este discurso, se calhar motivou a decisão de Trump se candidatar. Por outro lado Trump entrou numa guerra comercial e, se calhar, não só comercial com a China. Os Estados Unidos ainda têm a mão mais forte neste jogo de poker político-económico. Mas Trump é um jogador fraco, inconstante, não de confiar. Abandonou o Afeganistão e a Síria à sua sorte, já esteve em vias de o fazer com a Coreia do Sul, nunca será o aliado mais leal de Taiwan ou de Hongkong. A China tem aqui uma oportunidade dourada. Haverá eleições para a Casa Branca no fim do ano. O candidato democrata, Joe Biden, só é forte porque Donald Trump é fraco. Mas será Donald Trump mesmo fraco? Os republicanos não irão tentar manipular o resultado eleitoral? Lembro que Hillary Clinton teve mais votos do que Donald Trump, Al Gore mais votos do que George W Bush e só não foi Presidente devido a uma enorme e confusa confusão com os votos na Florida que lhe foi estranhamente desfavorável. A democracia americana é surpreendentemente frágil e tem hoje ao leme um menino rico pateta cujo herói confesso é... Vladimir Putin. Que vai voltar a ganhar umas eleições se os brancos pobres continuarem a votar nele, apesar da economia mas porque George Floyd não lhes diz nada.
A política é só uma, e as acções dos políticos são no geral previsíveis. A China vive uma encruzilhada comparável à dos anos oitenta, quando começou a sua rápida evolução para a "economia de mercado socialista" e aconteceu Tianamen. A China tem um poder económico que já se compara ao americano. O seu líder já é, frequentemente, considerado "o homem mais poderoso do mundo" naquelas listas anuais do Economist ou da Forbes. A sua liderança centralizada dá-lhe uma vantagem de decisão sobre os Estados Unidos e a Europa muito assinalável. A sua liderança centralizada centralizou-se ainda mais com a chegada ao poder de Xi Jinping em 2012. Este foi declarado "Presidente Vitalício da China" em 2018, como só antes Mao Ze Dong, e escreveu o livro "A Governança da China" que pretende ser o sucessor do famoso "Livro Vermelho" do mesmo Mao Ze Dong. Os antecessores de Xi Jinping "duraram" tacitamente dez anos. Xi Jinping não vai sair de cena em 2022. Sabe que a China tem uma oportunidade única para passar a dominar um mundo cada vez menos multipolar: tem pela frente um presidente americano que é um tonto. A crise do Covid-19 vai passar. Se não passar e a economia tremer, Hongkong, Taiwan ou o conflito do Mar da China do Sul servirão sempre para distrair o povo e fermentar o patriotismo, como Tatcher fez com as Falkland. A excepcionalidade de Hongkong parece que já é uma coisa do passado.
O Brasil está a viver uma crise ainda maior do que a dos tempos de Collor de Mello. O Brasil é um gigante com dois pés de barro: a violência e a corrupção. Quando elegeu Jair Messias Bolsonaro para Presidente o povo brasileiro pensou que havia alguma hipótese do ex-militar e outsider da política resolver ou pelo menos diminuir quer a corrupção quer a violência. Foram precisos poucos meses para se perceber que não. E foi aí que apareceu a pandemia. Escasseiam as palavras na língua portuguesa para descrever o comportamento de Bolsonaro perante o problema Covid-19. E, por outro lado, há investigações há volta dos negócios dos seus quatro filhos feitas pelas instituições da justiça brasileira que, apesar de tudo, ainda funcionam. Bolsonaro apela directamente aos militares para que intervenham, o que poderá acontecer, não sabemos se para apoiar ou destituir Bolsonaro. O Brasil está neste momento "oficialmente" com mais de meio milhão de infectados por Coid-19 e sem rumo. Teme-se o pior, embora com tudo o que já aconteceu ao Brasil, definir o que será o "pior" talvez seja difícil.
O Brasil está a viver uma crise ainda maior do que a dos tempos de Collor de Mello. O Brasil é um gigante com dois pés de barro: a violência e a corrupção. Quando elegeu Jair Messias Bolsonaro para Presidente o povo brasileiro pensou que havia alguma hipótese do ex-militar e outsider da política resolver ou pelo menos diminuir quer a corrupção quer a violência. Foram precisos poucos meses para se perceber que não. E foi aí que apareceu a pandemia. Escasseiam as palavras na língua portuguesa para descrever o comportamento de Bolsonaro perante o problema Covid-19. E, por outro lado, há investigações há volta dos negócios dos seus quatro filhos feitas pelas instituições da justiça brasileira que, apesar de tudo, ainda funcionam. Bolsonaro apela directamente aos militares para que intervenham, o que poderá acontecer, não sabemos se para apoiar ou destituir Bolsonaro. O Brasil está neste momento "oficialmente" com mais de meio milhão de infectados por Coid-19 e sem rumo. Teme-se o pior, embora com tudo o que já aconteceu ao Brasil, definir o que será o "pior" talvez seja difícil.
A Espanha tem o governo mais progressista da União Europeia, marcado pela incorporação do Unidas Podemos no seu elenco, sendo Pablo Iglesias "vicepresidente segundo". Este chegar da extrema esquerda - que é o que Unidas Podemos é - ao poder num país "esticado" pela pulsão independentista catalã e o subir da extrema-direita da Vox, que "obriga" o Partido Popular a não abrir mão do discurso duro e espanholista, ameaça dividir ainda mais um país que dividido se calhar sempre foi. Pode que o controlo tardio mas acertado da pandemia ajude, mas os discursos incendiários no parlamento de Abascal, Casado e Iglesias prometem problemas graves, com umas eleições autonómicas na Catalunha ainda este ano como rastilho. Onde a solução para Espanha?
Sem comentários:
Enviar um comentário