Junho dezanove e ainda não voltei a abraçar a minha mãe.
Afinal Portugal é um país o suficientemente grande para acolher um vírus em tempos diferentes, primeiro no norte e centro e agora em Lisboa e no sul.
A economia não pode parar, abriu o Colombo e a Praia da Rocha, vêm aí os charters, desta vez não de chineses mas de quem quiser vir. Em alternativa os portugueses. Pela primeira vez em décadas ouvi publicidade do Algarve na rádio portuguesa.
E por essa Europa fora não nos querem. E mentimos como outros mentiram, a culpa nos demasiado testes. Augusto Santos Silva promete retaliar.
António Costa, consensualmente considerado uma má pessoa (é só fazer o teste), revelou-se em todo o seu esplendor ao "oferecer" a "Final Eight" da Liga dos Campeões aos profissionais do SNS. Vai sim oferecer os novos infectados que resultarão do evento. Toni, um abraço!
Virá não uma, virão cem vacinas. Vai o António Costa escolher a correcta, igual aquelas máscaras cirúrgicas que desfaziam nas mãos que recebemos em Abril. É possível que a vacina tenha o patrocínio da Super Bock.
Os sinais estão aí: a saída de Centeno, os espectáculos no Campo (demasiado) Pequeno, as filas para a Primark: isto não vai acabar bem.
Os doentes no meu Hospital continuam ainda a não poder receber sequer uma miserável visita. Não há pior desdita do que afrontar a doença sozinho. Mas esta sociedade em que vivemos é uma sociedade de apenas sim ou não.
A minha filha voltou para Berlim. Onde ela mora, Neukölln, há uns quantos prédios em quarentena.
Junho dezanove e ainda não voltei a abraçar a minha mãe.
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