Conheço um tipo que
passa a vida a olhar para o telemóvel, mexendo-lhe com um dedo,
direita, esquerda, cima, baixo. Zuca, zuca, zuca,é um jogo o que ele está
sempre a jogar. Os telemóveis são os nossos melhores amigos, os
telemóveis são bons. O meu amigo não gostava de esperar. Agora
espera e joga. Quando algo acontece, quando alguém chega, ele fecha o jogo como quem
fecha um livro, um envelope, uma pasta. Recomeça no intervalo a
seguir.
Um destes dias,
nosso o encontro, o meu amigo demorou uns quinze segundos extra a fechar o
telemóvel e eu perguntei-lhe se havia algum problema. “Não,
respondeu. É o jogo.” O meu amigo explicou-me que, à força de
tanto praticar, já fazia pontuações mais altas, em vez dos
20000 de antes agora era 50000, 80000… “Passei para outro nível,
percebes?” disse-me, encolhendo os ombros. “Ah, isso é bom!”.
“Não” - respondeu-me - “E sim. Percebes que agora mais
facilmente chegas lá. Mas o jogo sempre acaba com uma derrota
inapelável. Se calhar com lógica. Não é sempre assim?”. Fomos à
nossa vida, comemos, conversámos.
Se calhar é sempre
assim. É jogo a vida. E, já muitos os anos, acontece que passamos
para outro nível. Onde sempre acabamos por perder. Perdemos, isso
sim, mais tarde.
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