quinta-feira, 8 de março de 2018

2048


Conheço um tipo que passa a vida a olhar para o telemóvel, mexendo-lhe com um dedo, direita, esquerda, cima, baixo. Zuca, zuca, zuca,é um jogo o que ele está sempre a jogar. Os telemóveis são os nossos melhores amigos, os telemóveis são bons. O meu amigo não gostava de esperar. Agora espera e joga. Quando algo acontece, quando alguém chega, ele fecha o jogo como quem fecha um livro, um envelope, uma pasta. Recomeça no intervalo a seguir.
Um destes dias, nosso o encontro, o meu amigo demorou uns quinze segundos extra a fechar o telemóvel e eu perguntei-lhe se havia algum problema. “Não, respondeu. É o jogo.” O meu amigo explicou-me que, à força de tanto praticar, já fazia pontuações mais altas, em vez dos 20000 de antes agora era 50000, 80000… “Passei para outro nível, percebes?” disse-me, encolhendo os ombros. “Ah, isso é bom!”. “Não” - respondeu-me - “E sim. Percebes que agora mais facilmente chegas lá. Mas o jogo sempre acaba com uma derrota inapelável. Se calhar com lógica. Não é sempre assim?”. Fomos à nossa vida, comemos, conversámos.
Se calhar é sempre assim. É jogo a vida. E, já muitos os anos, acontece que passamos para outro nível. Onde sempre acabamos por perder. Perdemos, isso sim, mais tarde.

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