Não sei se neste momento valerá a pena emitir uma opinião sobre o implementar de uma nova especialidade em Portugal, a Medicina de Emergência, "porque já existe em dezenas de outros países" e "porque isto das urgências não vejo como se resolva de outra forma!". Ela vai acontecer, pelas duas razões acima, é uma questão de cansaço e de tempo.
Gostaria só de chamar à atenção que o criar de uma nova especialidade não deve nascer da nossa preguiça enquanto sociedade ou serviço (nacional de saúde) em conseguir retirar dos serviços de urgência o terço de doentes que não devia recorrer aos serviços de urgência (SU). Um terço significa descer de eg 600 doentes dia para 400 doentes dia, por exemplo.
Afinal de contas o problema dos SU é médicos a menos (na urgência) e doentes a mais (na urgência), certo? Uma nova especialidade implica que existe neste momento em Portugal e nos SU um vazio de saber especializado específico que essa nova especialidade vem preencher. Existe esse vazio? Não me parece. A panóplia de doentes que recorre ao SU tem graus de gravidade muito diferentes. O doente mais grave é no geral bem atendido. Não o é apenas e só quando - por excesso de doentes e/ou sobrecarga horária - o crivo de atendimento falha. As queixas maiores sobre o SU são habitualmente dos doente menos graves - os que, literalmente, "se podem queixar". Esta é uma verdade crua mas real. Metade destes são para não ir ao SU.
Preciso de fazer a minha declaração de conflito de interesses: fiz urgência semanal ou (mais frequentemente) bi-semanal num Hospital Central dito "fim-de-linha" durante 17 anos. E admiro, pela persistência e estoicidade, quem hoje faz SU. Na urgência conto amigos e não poucos.
Mas a solução dos serviços de urgência deste país é a criação da Medicina de Emergência?
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