O fecho pelo menos parcial dos Centros de Saúde entupiu as Urgências. A pandemia libertou parcialmente as Urgências. Agora que a pandemia retrocedeu, o refluxo, sem o backup dos Centros de Saúde, de doentes na Urgências está a ser complicado. E vem aí a gripe, desaparecida em 2020 porque andávamos todos de máscara em 2020. Há décadas que se fala em diminuir a procura dos Serviços de Urgência. Embora os Hospitais recebam por cada Urgência que acontece. Diminuir a procura das Urgências implicaria uma revolução nos Cuidados Primários e uma campanha alargada de educação das populações. Isto sim, seria mudar alguma coisa! E pur...
A Urgência. Não há melhor escola. Não há pior escola. É a porta para todas as situações desesperadas. E também para as outras. A minha especialidade é Medicina Interna. O Internista é o gajo que diagnostica. Há velocidades de diagnóstico. Na consulta, em enfermaria, em camas de intermédios, de intensivos. Na urgência o doente pode aparecer com qualquer uma destas velocidades. É este o desafio.
Talvez desta vez o empurrão para a criação da Medicina de Urgência seja definitivo. Nestes tempos ninguém está gostar de fazer Urgência. Nada melhor do que estes tempos para criar algo para fazer o que ninguém quer fazer. Mas, nestes dias difíceis, quem faz Urgência? A Urgência é feita, com muito sacrifício, por quem sempre a fez. Na maior parte dos Hospitais o grosso da Urgência é garantido pela Medicina Interna, com uma carga especial a recair sobre os Internos, os mais novos, e uma plétora de tarefeiros, de médicos que, individualmente ou através de empresas de recrutamento, preencher os turnos em falta. O governo tem tido estas necessidades em atenção. Desde há uns anos a esta parte as vagas para as Especialidades têm sido inferiores ao número de médicos produzidos, fazendo-se assim ano a ano mais uns quantos médicos indiferenciados, prontos para o Serviço Urgência mais perto de si.
Adivinho aqui um paradoxo. Ao criar-se a especialidade de Medicina de Urgência, o que fazer com estes médicos indiferenciados que temos criado nos últimos anos? E criado o core de competências do que será um Urgencista, o Urgencista não vai querer observar os milhares de doente não-urgentes que todos os dias vão à Urgência. Aí vai pedir-se a tal revolução nos Cuidados Primários que, se bem sucedida, vai colocar uma especialidade criada de novo a servir em Urgências a receber apenas metade dos doentes que hoje recebem. A razão primária para criar a Especialidade de Medicina Urgência desapareceu. E pur...
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