Fui buscar uma dúzia de rissóis ao Turista. São bons. Acabei de jantar alguns. Voltarei a jantar quando a minha companhia terminar o seu duro e longo trabalhar e chegar a casa. Entrei no Turista pouco depois do segundo golo do Brasil. Num pequeno café perto, do outro lado da linha do metro, uns quantos naturais do Brasil tinham festejado ruidosamente, como deve ser. A repetição das encomendas fez com que o senhor do Turista me reconhecesse e tratasse pelo nome. Ao sair reparei numa jovem que, numa mesa pequena e sózinha, e sem a companhia sequer da segunda cadeira, comia avidamente uma francesinha. Isto acontecia no Turista, no meio da Maia. Não em nenhuma corniche reservada nem em nenhum resort murado. A jovem tinha um cabelo castanho um pouco ondulado, comprido. Não era demasiado bonita, o que é uma expressão tola e errada, da beleza nunca haverá excesso. A sua avidez, o olhar fixo na comida - seria o único prazer do seu dia? - impediu-me de a ver bem, e também porque não parei de caminhar. A maior beleza está no interesse. Seria interessante esta jovem depois da sua refeição? O que me interessou aqui foi a sua tão assumida solidão, e o foco. A francesinha do Turista é boa.
Nada disto poderia acontecer no Qatar. A sua solidão tão completa e redonda. Por isto é que eu digo que Portugal é um país menos triste do que o Qatar. Os países são uma invenção horrível. Os países criam condições, isto é, condicionam as pessoas que neles vivem. Portugal faz isso muito menos do que o Qatar, nem melhor nem pior, menos. Por ser assim, este meu país parece-me ser menos triste do que o Qatar.
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