O Tour de 58 começou com um cheirinho a novo. A prova de 57 tinha sido categoricamente ganha por um rapaz francês de 23 anos, Jacques Anquetil. Que envergava o dorsal um, agora um ano mais velho. Mas na mesma equipa aparecia Louison Bobet. Dez anos mais velho, vencedor do Tour por três vezes, de 53 a 55. Louison Bobet levava uma época pouco brilhante. Voltara a tentar ganhar, como em 57, o Giro de Itália, outra vez sem êxito. Mas também Anquetil só tinha aparecido a ganhar os 4 Dias de Dunkerque, aproveitando que a prova tinha um contra-relógio. O Tour era o Tour. Iria a selecção francesa ter dois patrões? E as outras selecções? A equipa belga tinha gente com qualidade até dizer chega. Marcel Janssens, Joseph Planckaert, Jan Adriaensens, Jean Brankart. Destes só Brankart já tinha mostrado serviço: fôra 2º no Giro, à frente de Bobet, e 2º nos 4 Dias de Dunkerque, atrás de Anquetil. Os italianos apostavam todas as fichas no trepador Nencini. A sua última sensação, Ercole Baldini, vencedor categórico do Giro, não quisera vir ao Tour. Os espanhóis traziam só Bahamontes, deixando Loroño em casa. Na Vuelta, ganha por um francês, Stablinsky óptimo rolador que tinha comido as dificuldades espanholas de cebolada, o melhor espanhol tinha sido Fernando Manzaneque, um jovem, que também vinha ao Tour. O Luxemburgo de Charly Gaul era desta vez emparelhado com os holandeses, estes sem estrelas. Uma equipa regional francesa destacava-se, a Centre-Midi: com Geminiani, Anglade, Rolland, Dotto e Rohrbach. E os portugueses? Alves Barbosa, que tinha feito uma Vuelta razoável, vinha acompanhado por Antonino Baptista, corredor também do Sangalhos, e que dos restantes portugueses que se tinham deslocado à Vuelta, talvez tivesse sido o outro a dar alguns apontamentos interessantes. Estavam integrados numa equipa dita "Internacional" que era chefiada pelo austríaco Adolf Christian, um surpreendente terceiro no ano anterior. Começemos então.
O desenho do Tour de 58 deixava a montanha por acontecer até à etapa 13 (num total que era de 24). E oferecia a Anquetil três contra-relógios, embora um deles fosse uma crono-escalada Mont Ventoux acima. Anquetil era considerado internacionalmente o melhor contra-relogista do mundo, le "Monsieur Crono". Portanto os trepadores teriam muito que sofrer nesta primeira metade do Tour.
A primeira etapa saiu de Bruxelas em direcção a Ghent. Pelo terceiro ano consecutivo foi ganha pelo francês Darrigade. Não houve nenhum favorito com perdas de tempo importantes. Alves Barbosa tentou entrar na fuga e não conseguiu. Na 2ª etapa, que vai até Dunkerque, mais do mesmo. Os belgas atacam e na fuga fica Adriaensens, com um colega, Hoevenaers, a ganhar a amarela. Vantagem porém escassa Os portugueses voltam a chegar no pelotão. O espanhol Bahamontes, aparentemente doente, perde mais de nove minutos. O francês Anglade perde ainda mais. Jean Forestier, o 4º lugar do ano passado, desiste. A 3ª etapa segue petrto da costa e é a 3ª etapa com menos de 200km! Nova fuga a ganhar, sem grandes figuras, um pelotão descansado chega 6' depois. O veterano holandês Wim Van Est ganha a amarela. Por alguma razão quase toda a equipa Internacional, com os dois portugueses, chega 45'' depois do pleotão. a 4ª etapa vai até Versailles e na fuga ganhante volta a estar infiltrado Adriaensens. Ele e Planckaert têm agora uns 4' de avanço sobre Anquetil, Gaul, Bobet. Sobre os portugueses nada a assinalar, mantiveram-se no quentinho do pelotão.A etapa 5 entrou na Bretanha e terminava em Caen. A pouco mais de metade do percurso atacou Bobet e seguiram-no Anquetil, Nencini, Planckaert e Geminiani. Não mais seriam apanhados. A dois minutos chegaram Gaul, Adriaensens e Brankart. Bahamontes perdia mais oito minutos e os dois portugueses e mais um montão de gente chegaram 13 minutos depois. Bauvin ganhava a amarela mas por empréstimo, ele não era cabeça de cartaz.
A etapa 6 seguia na Bretanha até St Brieuc. Em nova saga de ataques e contra-ataques saiu a ganhar na frente Geminiani, a par do francês Anglade e do austríaco Christian, estes a recuperar de atrasos pretéritos, Geminiani não. O holandês Voorting ganhara a amarela mas Geminiani era terceiro com 12 minutos de avanço sobre Anquetil. O srestantes favoritos estavam por ali perto de Anquetil com a excepção de Bahamontes que já estava a 28 minutos. Barbosa voltara a chegar com o pelotão principal, Antonino Baptista chegaou atrasado.Marcel Janssens foi obrigado a abandonar com o braço partido. A etapa 7 até Brest pouco contou, permitindo numa escapada que Bahamomntes recuperasse dois minutitos. A etapa 8 era o primeiro contra-relógio, 46km no circuito de Chateaulin que ainda hoje se corre. E a surpresa foi Anquetil não ganhar mas sim Charly Gaul, por 7 segundos. Gaul não era só um grande trepador, tinha também um bom contra-relógio, mas bater Anquetil... A seguir ficaram Planckaert e Brankart, Geminiani sexto, Bobet sétimo, Adriaensens oitavo, Nencini nono. Bahamontes defendera-se bem. Num CR que durou mais de 1 hora, os primeiros 4 ficaram no mesmo minuto. E Gaul explicara ao que vinha. Por outro lado Anquetil ficara dois minutos à frente de Bobet, pelo que a liderança da França ficava a ser só uma...
Na etapa 9, descendo pela costa até St Nazaire, finalmente Alves Barbosa apareceu e terminou 4º. incorporado na fuga do dia. Darrigade vencia a 2ª etapa e reclamava outra vez a amarela, um detalhe. Nova fuga na etapa 10 até Royan só serviu para gastar as forças dos franceses a defender a amarela de Darrigade. Barbosa era agora 31º. A etapa 11 terminou dem Bordéus e nos seus escassos 137 km nada de muito emocionante acoteceu. A etapa 12 seguiu para Dax e também pouco contou. Os corredores sabiam que agora vinham aí os Pirinéus. E depos do contra-relógio de Chateaulin, o favorito de todos era Charly Gaul.
Antes dos Pirenéus vamos então rever os tempos: pondo como referência Anquetil, Geminiani tem 8'19'' de avanço, Bauvin 3'43'', Planckaert 3'06''. Adriaensens tem 1'07'' de atraso, Gaul 1'25'', Bobet 2'06'', Brankart 2'42'', Nencini 2'45''. Fora de combate para a geral estava Bahamontes, com um atraso de 18'05''. Na etapa para Pau ficava perlo caminho o Aubisque. Bahamontes faz uma demonstração de força, vernce no Aubisque e sobe assim a primeiro do Prémio da Montanha. A descida para Pau permite que quase todos se reagrupem. Barbosa chegou com o pelotão traseiro, Antonino Baptista foi último a chegar. A etapa 14 tinha o Peyresourde antes da descida clássica para Luchon. Geminiani era agora o líder da prova. Na etapa 14 Bahamontes voltou a atacar e desta vez, com uma descida para a meta mais curta, conseguiu chegar isolado e ser primeiro. Gaul, que também se tinha destacado dos demais, foi apanhado e no primeiro grupo a 2 minutos de Bahamontes chegaram Anquetil, Geminiani, Bobet, Bauvin, Brankart, Nencini. Adriaensens e Plackaert perderam dois minutos. Os dois portugueses chegaram no último grupo. Antonino Barbosa era agora o último da classificação geral. Pelas bonificações subia a líder um italiano completamente desconhecido, Vito Favero.
A etapa 15 vai até Toulouse. Nos 1ºs kms tem alguma montanha onde Bahamontes volta a ganhar a Gaul. Aguerra entre estes dois parte o pelotão em dois. Na primeira parte vão chegar a Toulouse todos os favoritos, na 2ª parte, 24' depois, o resto, incluindo Alves Barbosa. Não foi o caso de Antonino Baptista que chegou fora do controlo e terminou aqui a sua primeira aventura francesa. A etapa 16 terminou em Béziers e não teve história. A etapa 17 foi diferente: mais uma vez Bahamontes saltou do pelotão para ganhar pontos na montanha e depois, embalado e com a companhia de Jean Dotto, continuou em fuga. Foram depois e por sorte apanhados e ajudados por outros escapados que lhes permitiram obter mais de 4' de vantagem na meta. Bahamontes estava agora apenas a 11' de Anquetil. Seguia-se o Mont Ventoux.
A crono-escalada do Mont Ventoux teve dois protagonistas: Gaul e Bahamontes. Ganhou o primeiro, o segundo ficou apenas a 31'' numa subida que demorou mais de uma hora a fazer. Brankart perdeu 2'57. Anquetil 4'09, Bobet 4'54, Geminiani 5'01, Adriaensens 5'35, Nencini 7'24! Geminiani voltava a primeiro, Favero segundo mas Gaul já era terceiro.
Mas o Tour nestes tempos era uma corrida mais incerta do que hoje. Na etapa 19 de transição para os Alpes, alguns dos perdedores do Ventoux decidiram atacar: Nencini, Geminiani, Adriaensens, Anquetil. E Favero, o desconhecido Favero, e um espanhol interessante, Salvador Botella. Gaul e Bahamontes (que caiu) perderam 11 minutos, Bobet só perdeu 6 porque se isolou em posição intermédia. Bahamontes estava definitivamente arredado da Geral, a hipótese Charly Gaul tremia.A etapa 20 terminava em Briançon e tinha o temível Izoard pelo caminho. Bahamontes ganhou com uma longa escapada em solitário. Dos favoritos colocara Nencini a 2', Anquetil, Adriaensens, Geminiani e Favero a 4', Louison Bobet a set minutos. Geminiani era primeiro, Favero a 3'47, Anquetil a 7'52, todos os restantes estavam a mais de 12'. Alves Barbosa só sobrevivera a estas etapas.
A etapa 21 tinha muita montanha e 219 km mas nenhum Izoard. De qualquer forma na segunda subida do dia Charly Gaul atacou... e ninguém mais o viu. A sua vantagem tornou-se rapidamente notória. Importante agora saber nesta cavalgada quem lutava para o 2º lugar. A Aix-les-Bains, o destino da etapa, chegou 2º e a 7'50 Jan Adriaensens. O terceiro foi o surpreendente italiano Vito Favero, a 10'09. Geminiani chegou a 14'35, Nencini e Bobet a 19'01, Anquetil, curiosamente acompanhado de Walkoviak, a 23'14, Bahamontes, a muito custo, a 29'55. Parecia que Gaul tinha permitido a Bahamontes no dia anterior selar o Prémio da Montanha para hoje atacar a Geral. E efectivamente Favero voltara a vestir de amarelo mas Gaul estava só a um minuto. Barbosa, que chegou ao fim da etapa com mais de uma hora de atraso, terá sido repescado. O esperançoso espanhol Salvador Botella desistira. Acontecera História no Tour de France.
A etapa 22 aconteceu entre Aix-les-Bais e Besançon. Não teria história não fosse os sinais de doença respiratória de Anquetil. Belgas e italianos forçaram o ritmo ao máximo e foi só com grande esforço que a equipa francesa trouxe Anquetil até ao pelotão. No final uma fuga meteu Nencini pelo meio e este subiu de 6º para 5º ultrapassando justamente Anquetil. Mas a vitória ia decidir-se entre Geminiani, Gaul e o tal italiano Favero.Alves Barbosa voltou a chegar muito atrasado, desta vez com um colega de equipa, o irlandês Seamus Eliott.
Para a etapa 23, um contra-relógio de 72 km, Anquetil não partiu. Ganhou Gaul, seguido de perto por Nencini, Adriaensens, Planckaert e Geminiani. Favero foi 7º, Bahamontes 17º e Bobet um surpreendente 28º. Gaul era o novo camisola amarela, o prognóstico escrito à porta dos Pirenéus tinha-se confirmado mas de uma forma estranha, com uma vitória cósmica numa etapa de média montanha e com performances acima da média nos contra-relógios.
Atrás de Gaul o italiano Favero e o francês Geminiani no pódio. De Favero não se voltaria a ouvir falar, qual Walkoviak. Depois Adriaensens e Nencini, e a seguir em distâncias já acima de 25' Planckaert, Bobet, Bahamontes, Bergaud, um francês, e o belga Hoevenaers. Alves Barbosa terminou 76º e antepenúltimo, um lugar abaixo de Roger Walkoviak, o vencedor de 56 quando Barbosa tinha sido décimo.
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