quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A grande devolução.

Os museus europeus estão cheios de peças de valor incalculável saqueadas ou compradas por tuta-e-meia no Médio Oriente, em África, na Ásia, na América do Sul. O argumento habitual de que foram presentes (feitos por déspotas ignorantes), compras legais (com o colonizador a impor a compra) ou salvaguarda do património (de guerras e destruições induzidas pelo ocidente) não colhe. O exemplo mais gritante é o dos frisos do Parténon, a obra-prima de Fídias, e tem maior audiência porque a disputa é entre dois países europeus. Se as devoluções fossem para acontecer o Louvre ficaria mais pequeno e o Pergamon, em Berlim, fechava, por ex.
Portugal ganhou as suas peças da forma usual mas, atenção, não estamos a falar de coisas tão enormemente importantes como as acima citadas. O que estará em questão, suponho, será mobiliário, escultura, máscaras e afins vindo sobretudo de África mas também de Timor, Macau, Goa, do Brasil. Terá sido adquirido ora a bem ora a mal. Acho que um bom diálogo com as entidades dos países de origem, com quem, ressalvando um pouco a União Indiana, temos boas relações, permitiria achar o meio-termo, entre uma devolução completa e uma recusa de restituição. Não vejo a necessidade da presença de "militantes anti-racistas" nestas reuniões. Vejo sim a necessidade de ordem e calma nos raciocínios de resposta a André Ventura. É que a nossa história é bem mais os Jerónimos do que o Museu de Etnologia, que ficaria mais pequeno mas não fecharia as portas. 

Sem comentários:

Enviar um comentário