Não tenho por costume dar particular atenção a pintores cuja obra só foi relevante durante, por ex., uma década. Vou abrir uma excepção para de Chirico.
Pintor italiano nascido na Grécia, estudou pintura em Atenas e depois passou pela Alemanha e por Paris antes de se fixar na Itália onde criou um estilo único de pintura que espantou todos os seus contemporâneos. A chamada "Pintura Metafísica", com todo o seu angst e simbolismo apaixonou o movimento Dada e os proto-Surrealistas. Só que quando o surrealismo arrancou tendo de Chirico como um dos mestres, já este tinha "voltado à ordem clássica", imitando os velhos mestres. Os Surrealistas, que inda agora o tinham descoberto, arrasaram-no. De Chirico não se importou com o acontecido. Continuou a produzir "obra metafísica" a pedido, porque vendia, muitas vezes cópias ou reinterpretações dos seus quadros conhecidos dos anos 1911-19, a que chamava, ironicamente verifalsi. Chegou ao detalhe de os assinar com a data antiga, para valerem mais.
Quando uma Biennale de Veneza mostrou um quadro seu recente como antigo (ou seria uma cópia?) de Chirico denunciou a exposição e montou anti-Biennales anos seguidos. A sua postura de "copy and paste" foi admirada (e copiada...) por Warhol. De Chirico assinava as suas obras como "Pictor otimus". How post-modern can you get?
"O enigma da hora" chama-se este quadro de 1911 e é dos primeiros quadros da fase áurea de de Chirico. "Ed quid amabo nisi quod aenigma est?" ou "e que posso amar senão o enigma?", são palavras do pintor.
"Hector e Andrómaca", de 1912 é o quadro com manequins mais conhecido do pintor, que aliás fez dele várias réplicas e "evoluções". Não é difícil de perceber o quão revolucionário este tipo de pintura foi nesses anos nem o quanto o Surrealismo a quis.
De 1914 é o "Retrato de Guillaume Apollinaire", o grande apóstolo de de Chirico em Paris. O pormenor dos óculos escuros é completamente pop avant-la-lettre.
Este "S.Jorge a matar o dragão", de 1940, é o exemplo de muitos quadros que o pintor fez depois dos anos vinte e que são difíceis de engolir. É verdade que a voluptuosa senhora presente é uma actualização provocante e dissonante da princesa que habitualmente é salva do dragão.
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