quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Contar a Luz ou Um Momento!

Um deste dias, devia eu estar naquele meu tão peculiar estado de sonolência depois de almoço com-uma-noite-meio-acordado-no-hospital ainda no pêlo, e tocaram à porta. É raro tocarem à minha porta, ainda mais à porta mesmo porta, não lá em baixo por onde entram as contas e a publicidade. Levantei-me, fui espreitar pelo buraquinho, perguntei: "quem é?". "Édêpê", disse um rapaz magro que num passo ballético tentava tocar a todas as portas ao mesmo tempo. "Um momento!", disse-lhe eu, como digo a quase tudo na vida. Estava em cuecas...
Passado o "momento", dirigi-me para a porta e abri. No momento exacto (ironia) em que o rapaz "Édêpê" entrava para o elevador e subia, ou descia, para nunca mais. Ainda repeti: "um momento!" Toda a gente sabe que dois (três, quatro...) momentos é demais. Fiquei ali, parado, sentindo-me traído. Ainda fui até ao elevador, apurando o ouvido. Voltei para a porta. Esperei outra vez. Depois fechei-a, aturdido.
 
Na minha vida já houve outros "momentos" assim, momentos "Quase", como diria Mário de Sá- Carneiro, e onde, como fez Eça de Queirós para sair do romance "Os Maias", fazemos de conta de que vamos apanhar aquele eléctrico e assim salvamos uma vida, a nossa vida. Falo de derrotas grandes como o mundo, mas que dizemos pequenas e que tratamos por tu. 
 
Mas, pensando agora bem, para que queria eu que aquele rapaz entrasse meio metro - nem isso - na minha casa e fizesse a famosa leitura no contador da luz? Para quê? Contabilizar o quê?
 
Estando a "Édêpê" em débito directo (como o tempo todos os dias) sei porém, verifico aproximadamente uma vez por ano, que as contas não fogem ao que realmente acontece. E o que realmente acontece?
 
Acontece (escassas vezes mas acontece) uma luz imensa. Acontece! E são esses momentos (poucos, ah! poucos) que contam. Cegam! Fazem ver mais.
 
Contar a luz? Acabei de o fazer.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Arouca e Monchique.



Em Monchique já ardeu uma área equivalente ao concelho de Ovar. 

Porque fechada a manhã fui até Arouca. Porque ainda há um mês chovia, nota-se que a terra ainda não secou. O verde? Exuberante. Limpas as beiras das estradas? Não. As matas, o mato baixo? Também não. Aliás, pelo relevo, em muitas zonas é impossível ou pelo menos difícil. As fileiras de eucaliptos terminam no asfalto. Alguma vegetação mais autóctone cobre alegremente a estrada. Uma sensação de perigo e de sorte. Conduzi em silêncio. 


Em Monchique não se sabe quando vai parar de arder. Talvez quando não houver mais nada para arder.