domingo, 28 de maio de 2017

As pútegas e as cerejas.


Diz o saber antigo que as pútegas são as fêmeas dos grilos e que a grila é a tringalha do meninos. Isto é, note-se, saber antigo comprovado, incluindo verificação no Google. A pútega aparece em vários sites como uma planta com flor parasítica e que pertence à flora da Serra da Arrábida, mas, atenção, abaixo nas “pesquizas relacionadas” aparece “fêmea de grilo”, ergo...

Há uns cinco. dez anos, havia na rotunda que em Arada na 327 recebe a ligação da A-29, havia, repito, putas. Uma delas, branca de tez e de roupa, calção curto e blusa justa, seria ucraniana, e alta. Depois deixou de haver. Ucranianas chamo eu a todas as moças estrangeiras muito brancas, altas e louras. Eu sei que não se faz.

Vai para uns meses reapareceu o negócio na rotunda que em Arada recebe na 327 a ligação da A-29. Desta vez moça com aspecto de portuguesa, cabelo com madeixas, miúda, um banco para esperar, logo atrás um Fiat Punto estacionado para, assumo, o trabalho não se fazer na caruma do pinhal. Até à quinze dias, quando uma carrinha e um toldo começaram por ali a vender cereja de Resende. É saber não tão antigo mas igualmente firme que isto das putas nas estradas portuguesas diz mais sobre a saúde da economia portuguesa, em inversa proporção, do que o PSI20.
Temo pelo fim da época da cereja.

Será que, se na próxima semana a Moody's melhorar o ranking da dívida pública portuguesa, a moça muda de ramo e não volta a aparecer, no banco sentada, à espera, na rotunda que em Arada da A-29 recebe a ligação à 327?

domingo, 14 de maio de 2017

A Encomenda.

Não vou estranhar, comentar e muito menos menosprezar. Fizeram-no reis, estadistas, poderosos, escritores, poetas, pensadores. Terrenos foram doados, conventos erguidos, promulgadas leis, escritos livros. Aconteceu a Oscar Wilde no leito de morte, a D.Afonso Henriques depois de Badajoz. Quando os anos avançam e acontecem as coisas que nos fazem pensar no finitos que são os dias, é frequente encomendarmos o seu fim a Alguém. Assim sendo, ver o meu pai a recitar com a minha mãe uma curta ladaínha antes de adormecer em nada me atrapalha, pelo contrário, dá-me até, enfim, alguma PAZ nestes tempos incertos.

domingo, 7 de maio de 2017

Vou falar sobre Fátima.




Até há relativamente pouco tempo não sabia que ia falar sobre Fátima.
 
Também eu tenho na minha consulta um senhor com origens naquelas terras do centro do País. Cuja mãe esteve no Milagre do Sol e lhe descreveu bem descrito a luz, as pétalas, os perfumes. O movimento não conforme às leis da Física. Digo também porque é uma referência frequente: "Ouvi falar a alguém que efectivamente foi assim...". Acabei de conversar com a irmã da pessoa que me trata da casa - trata no sentido de que ela comigo adoece: fica suja, mal cuidada, entremeada com roupa usada, engelhada com se um trapo. De tudo isto essa pessoa - uma mulher - trata e resolve, muito bem.  Acontece que todos os anos ela vai a Fátima a pé. Para que o bem estar da minha casa não sofra, vem a sua irmã substitui-la. E falámos. Cada família portuguesa tem uma história de uma fractura de anca/bacia ou de fémur em idoso para contar. Partilhámos as nossas.
Fátima é um nó górdio na religiosidade portuguesa. Acho que quem acredita em Deus não pode negar a hipótese de Fátima, independentemente das interpretações que lhe possam ser dadas. O meu  amigo Padre Nuno foi para Fátima - a pé não, claro. E fiquei preocupado.

O João Canijo realizou um filme de duas horas e meia sobre umas mulheres de Vinhais que vão a pé a Fátima. O filme merece ser visto. Há vários aspectos do filme que é para mim importante ressaltar. É um filme de mulheres. Não é um filme delicado. A distância de Vinhais a Fátima é de 364km, pela A24, que as peregrinas não fizeram. Caminhar isto não é uma coisa delicada. Para quem ainda não percebeu como a mulher é diferente do homem, recomendo ver este filme. Por outro lado o João Canijo consegue alguns sotaques trasmontanos muito razoáveis. E uma utilização compassada mas realista de expressões e palavras como "chulé", "peida"  e "caralhos me fodam". A Rita Blanco é uma grande actriz, a maior da sua geração com distância. Quem tem dúvidas recomendo também a visão deste filme. Duas horas e meia justificam-se amplamente porque isto de ir a Fátima não é um bochecho. Mas porquê ir a Fátima?

Fátima tem, dizem, um segredo. Terá até três. Nenhum desses segredos na realidade me interessa. Muito outros segredos tem Fátima, aqueles que levam alguém a caminhar duzentos, trezentos, quatrocentos quilómetros. No filme do João Canijo a Ana Maria (Rita Blanco) terá o seu, não enunciado. Aliás em duas horas e meia de filme ninguém conta porque está para ali a caminhar. Não contam porque é segredo.