domingo, 10 de maio de 2015

Valdelinares, pueblo de Teruel.

Fica a 1692m de altitude e é a cabeça de concelho mais alta de Espanha. Em Portugal já estaria extinto o concelho. Tem 123 habitantes. E mantem escola aberta com sete alunos até ao dez anos de idade. Escola que em Portugal já estaria fechada também. Valdelinares é um povoado turístico. Tem estação de esqui perto. Mas números são números. Concelho e escola em Portugal assim, impossível. Portugal virou as costas ao seu interior de aldeias, quero dizer, à sua alma. E este virar de costas é irreversível.

domingo, 3 de maio de 2015

O equilíbrio natural das coisas.

DPediram-me para comentar um filme. Um filme, moi? Lá fui. Era um dos últimos filmes de Robin Williams, "The Angriest Man in Brooklin", traduzido para português como "Aproveita a vida, Henry Altman". Pareceu-me que queriam que eu falasse sobre aproveitar a vida. Quem, eu? O filme não era grande coisa embora se aguentasse. A vida como aguentá-la, não sei. Apoiei-me em duas anedotas para iludir a minha incapacidade de resposta. A primeira foi contar ter visto escrito - citado, mais propriamente - numa daquelas portas que abrem e fecham do Jumbo Maia a seguinte frase: "A felicidade é aceitar corajosamente a vida". Esqueçam o autor, não interessa. Interessava sim esta frase naquele sítio. A plateia ignorou esta 1ª piada. A 2ª tinha a ver com a minha recente excursão a Lugo. Já contei que dei a volta à muralha - e como gostei de a dar! - apesar de ameaçar chuva. Desci da muralha, peguei no carro e, dez minutos depois, começou a chover e choveu sem parar até ao Porto. Apliquei aqui a noção de janela terapêutica ao meu ocioso turismo galego, tipo "aproveita a oprtunidade, Henry Altman". Enquanto me ouvia tocavam as sirenes da foleirice alto e bom som. Finalmente, desesperado, perguntei à audiência quem, para "aproveitar a vida" preferia assumir que tinha - latente - um problema médico como o de Henry Altman e, portanto, a "vida a prazo". Houve uma corajosa que no fim veio entregar-me a resposta pessoalmente. Sem me dar oportunidade para discordar. Saí "do espectáculo" com as trompetas da foleirice ainda a tocar. Cheguei ao carro. O vidro de trás estava partido. Alguém me vira a remexer na bata onde deixara um papel com uns apontamentos para a charla, apontamentos que aliás não usei. A mala do carro estava cheia - não sabiam eles - de inutilidades. "É justo", pensei eu. Armas-te no Tony Carreira dos comentadores de filmes e cai-te uma pedra do céu como castigo. Obviamente não acontecera isso mas era assim. Descobri no dia a seguir que a) o seguro cobria tudo b) tinham roubado o saco de equitação vazio da minha filha c) que os pobres rapazes da Carglass eram bons a arrumar malas de carros "inarrumáveis" e que, no processo, tinham redescoberto CD's meus que considerava perdidos a saber: The Sundays / Static & Silence; Paul Simon /One Trick Pony; Marcus Roberts /Deep in the Shed. Thanks, guys!

PS: obviamente estou agradecido a quem me convidou...

Lugo, um abraço!

É engraçado quando se pode abraçar uma cidade. E abraçar a cidade de Lugo é fácil. Fui a Lugo a semana passada, mais concretamente sexta-feira. Um amigo meu organizava um festival de blues. Por um lado, tinha curiosidade de ver como seriam os blues cantados por um espanhol (foram bons) e, por outro lado, queria matar as saudades desse meu amigo e do local do espectáculo, o Club Clavicembalo, um sítio inimitável. Tive o privilégio de jantar com os músicos, gente normal e cordata, e, depois, de os ouvir tocar bem duas horas. Algumas cervejas depois acompanhei-os ao hostal onde iam dormir, outras cervejas depois fui eu também dormir ao meu. Acordei no dia seguinte para o pequeno almoço devido e para conhecer a filha do meu amigo. Ah, por cierto, o amigo chama-se Hector. Conhecem? Despedimo-nos com um forte abraço. O tempo estava fechado e ameaçava chuva. Tinha 400 km até casa. Mas... fui dar a volta a Lugo fazendo o caminho da sua muralha. A muralha de Lugo tem origem romana e, acho, é Património da Humanidade. Feita em xisto, grossa como tudo, o seu topo é caminhável a toda a volta. E foi assim que eu dei um abraço a Lugo, fazendo o caminho da muralha. Desta vê-se o verde dos campos, percebe-se que não há assim muito muito mais Lugo para além daquele que nesta muralha coube. A Catedral quase se pode tocar e a muralha como que desce da sua altura quando por ela passa para lhe fazer homenagem. Noutra curva vemos bem a Praza Maior, o coração onde todo Lugo acontece. Não é grande este caminho - joggers passaram por mim, duas, três vezes - mas é muito giro! Lugo, um abraço!.