sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

A Grande Música e o Bloco Central.

Há um programa de rádio que se chama "Bloco Central". Dois Pedros, não muito separados politicamente, sabem tudo sobre o que acontece neste país. Ali se explicam todas as soluções. É um programa execrável. O nome comprova a desgraça política em que o Ocidente vive. Não há mesmo alternativa. 

Ouvi-los enquanto conduzo é perigoso. Adormeço quando não enjoo. 

Hoje, no fim, atrevem-se, atreveram-se a sugerir música. Uma versão do "The Whole of The Moon" dos Waterhouse feita pela Fiona Apple, dita "Happle". Que asco.


Os Waterboys foram um grupo seminal dos anos oitenta. "The Whole of The Moon" era uma versão simplificada da sua canção Maior, saída em 84, "The Big Music". Lembro-me Muito Bem do momento em que ouvi pela primeira vez está canção. Fiquei paralisado. A música ficara Maior. Oficialmente os críticos chamavam reverencialmente à música dos Waterboys "A Grande Música" e com razão.

Mas os anos oitenta não acabaram como tinham começado. O capitalismo ganhou, a desigualdade venceu, o sonho morreu. Nenhum dos Pedros conheceu isto, eles são bem mais novos do que eu. Em 88 os Waterboys viraram celtas, virtuosos mas não tão grandes. Fiona apareceu dez anos depois e nunca terá conhecido a ilusão que havia nesses tempos antigos.

Oh pá, não mexam nos Waterboys!!!




quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Amanhã é mesmo Outro Dia.

 Fui comprar rissóis e uma rosa. Em ambos os lugares desejei a quem me atendeu um "confinamento curto". Quem me vendeu a rosa (cara, por sinal) finalmente sorriu, contrafeita. Quem me vendeu os rissóis (em conta, quentes, bons) esclareceu-me que iam continuar a trabalhar, "é só telefonar, vendemos à porta ou entregamos em casa".

Porque amanhã vai ser mesmo um Outro Dia, vou só limpar algumas ideias e partilhar a limpeza convosco.


1. Das máscaras. Em Março, Abril, Maio, não havia máscaras na rua. Agora há. Há quem não concorde com as ditas. A opinião a rebater é a de que a máscara devia ser apenas para os grupos de risco. Bom. Vamos então definir os grupos de risco. Este grupo, aquele grupo, mais aquele. Quem vai decidir quem a eles pertence? Os Centros de Saúde, claro! O acesso a estes tem sido cristalino. Um problema aqui... Depois teríamos que ter a certeza de que as pessoas pertencentes ao dito grupo cumpriam a indicação de usar máscara na rua. Num encontro na rua dois amigos, um com máscara o outro não, o com diria "bom, sou hipertenso, sabes?" o outro diria "ah, a sério?". Se fossem pessoas informadas os dois pensariam que 20% dos hipertensos portugueses estão por diagnosticar e ficariam preocupados. Faltariam portanto 20% das máscaras, bem mais. Que, na cara de alguém, seriam também como uma pequena estrela de david. Olha uma pessoa de risco na rua! Hummmmm. Devemos todos usar máscara, portanto. Também por solidariedade e empenho social. Para que não haja uns e os outros.

2. Dos portadores assintomáticos. Sou médico mas muito pouco cientista. Dizem que os portadores assintomáticos transmitem pouco. Mais os pre-sintomáticos. Vejo como difícil definir a fronteira entre as duas coisas. De manhã assintomático, de tarde... testar, testar, testar, isolar se positivo, certo? Qual a dúvida?

3. Das crianças e das escolas. A memória é curta. A escola online em 2020 correu muito mal. Quem disser o contrário mente. Uma razão para a manter aberta. As crianças transmitem menos e raramente têm quaisquer sintomas. Com a idade esta vantagem desvanece-se progressivamente. Portanto, transmitem menos mas transmitem. Fechar as escolas seria um enorme transtorno social. Mantendo-as abertas a curva vai demorar mais a descer. Os professores deviam ser testados muito e vacinados precocemente.

4. Do confinamento. Algum que outro colega meu, gostando de fazer parangonas, considera-o ineficaz. O importante era testar, testar, testar, rastrear tudo e todos, parar os contágios. Era, teria sido, não foi, agora... Na realidade o problema devia ter sido resolvido em grande parte assim quinta+feira, mas hoje é sexta. Confinemos então.

5. Dos Centros de Saúde e de Nós, Hospital. Não me vou pronunciar sobre o trabalho Covid. O esforço tem sido imenso. Outras palavras por outras pessoas têm dito isto melhor. Nem os Centros de Saúde nem Os Hospitais têm cuidado bem dos doentes não-Covid. Obrigatório ser assim? Não sei. Quando por telefone um doente meu me diz que "está mais cansado" o que é que eu faço? Quando a telemedicina fôr a norma, felizmente estarei reformado.

6. Dos Erros deste Governo. Possivelmente não poderíamos ter melhor governo do que este, bem visto o panorama político actual. E tivemos muita sorte com um Presidente da República que compreendeu muito bem este dilema nosso governativo. Mas houve erros, e importantes.

- O início correu bem. A Itália e a Espanha explicaram-nos o que podia correr mal. E o tempo tido permitiu-nos comprar material qb - os famosos ventiladores - e os vários sectores do SNS foram-se preparando. Fomos heróis, etc., houve murais e até, creio, condecorações. Começámos a telefonar aos doentes, fecharam-se os Centros de Saúde, a triagem feita pelos seguranças. Pelos seguranças?

.- Depois as coisas melhoraram. E o governo pensou que se ia haver uma segunda vaga ela seria bem comportada, no mês certo, e que seria uma cópia da primeira, e seria "mais do mesmo" para o fantástico, heróico SNS. As coisas não correram como previsto. A segunda vaga começou mais cedo, baralhou Lisboa, o Norte, rapidamente marcou records, e rapidamente saltou dos jovens e dos trabalhadores para os alvos do costume, os lares outra vez. O trabalho de casa estava por fazer. Como explicado, um intensivista não se faz num trimestre mas a meio da segunda vaga acho que, julgo que, acho que não me engano, começaram a faltar rastreadores. Mais do que Intensivistas estará a faltar Saúde Pública. Nunca percebi a articulação entre a Saúde Pública e os Centros de Saúde. A linha SNS24 era e é apenas uma placa giratória da ansiedade pública. O por onde e a quem testar foi decidido errática e aleatoriamente e o parar dos contágios nunca aconteceu. Aliás a partir de Maio o nosso Governo foi sempre atrás do prejuízo. E nunca o conseguindo evitar. 

- Nós também falhámos. Porque quando nos habituámos à máscara esquecemo-nos da distância "social"- isto é, FÍSICA. Mascarados pudémos voltar a amontoar-nos nos hipermercados, nos centros comerciais. A fiscalização dos espaços e das distância foi a partir de Maio quase inexistente. Talvez a nossa ânsia turística a tenha desmotivado. Passado o Verão não voltou e muito menos em força. 

- Mascarados podíamos fazer tudo o que quiséssemos, afinal. Ou quase tudo. Quando as coisas começaram a piorar o Governo cometeu um erro crasso, que foi o de fechar os comércios às 13h aos fins-de-semana e feriados. Ainda há dias vi às 12h20 quarenta pessoas à espera de entrar num Lidl para um pacote de leite, um churrasco, umas batatas, sei lá. 2X40 seria oitenta metros. Mas não era... As manhãs de fim-de-semana foram uma asneira das grossas. Mas António Costa nunca reconhece um erro.

- E os privados? Marta Temido nunca agradeceu ao SNS não ter necessitado dos privados na primeira vaga. Nem pensou que os privados poderiam ser precisos numa segunda ou terceira vaga. Um certo grau de previsão poderia ter evitado o momento em que estamos. As camas de enfermaria e de intensivos - e respectivos profissionais - que vamos precisar daqui a semanas, dias, estão exactamente nos privados. As contas já deviam estar feitas e oleadas. Mas tudo ainda está por negociar. Um atraso imperdoável. Um trunfo macaco para o PSD usar macacamente.

7. Volto ao escrito: este governo foi um SUF+ no que à pandemia diz respeito. Mas o clima eleitoral deu para perceber, das múltiplas declarações, que não havia quaisquer alternativas credíveis. Temos muita muita pena.

8. Vamos então lá confinar. Trouxe livros-extra de Ovar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Larbi.

Larbi, foste embora. E foste mesmo embora? Eterna questão que a todos nós acontecerá e a ti aconteceu mais cedo. Foste, Larbi, foste embora. A tua cozinha, o teu sorriso, o teu silêncio, o teu espanhol aos saltos. A tua pintura com inigualáveis retratos. A tua delicadeza. O teu saber.

E sempre serás lembrado. Gostaria muito de ser um daqueles negacionistas que dizem  que o covid-19 não existe ou que não é importante e que isso permitisse negar o que aconteceu, ao fim de dois meses de dolorosa luta. 

Por ti sempre estarei acompanhado. Esposa e irmã te acompanharão para repousares na tua outra terra.