segunda-feira, 27 de junho de 2016

O Alto Varosa - Salzedas, Ucanha e Tarouca, S.João.

O Rio Douro oferece-nos coisas muito boas. Uma delas os seus afluentes, grandes e pequenos. O Rio Varosa nasce na Serra de Leomil e desagua no Douro a norte de Lamego. Dá nome com o Rio Távora a uma Região Vitivinícola recente, caracterizada pelos Espumantes  - o Murganheira, por ex., mas não só.
Na primeira metade dos 45 km de percurso podemos desenhar um triângulo cultural num território que poderemos chamar de Alto Varosa. Embora de alto não tenha muito, zona esta de rugosidades algo mais suaves do que, a oeste, o Montemuro.
E comecemos por Vila Pouca de Salzedas: lugar ocidental da freguesia de Salzedas onde alta ponte medieval salva o  Varosa e guarda uma zona de recreio fluvial para onde se pode descer mais abaixo. Olivais e pinheiros alternam pelas encostas.
Em vez de seguir para Salzedas primeiro façamos um rodeio por sul e aproximemo-nos de Ucanha pelo lado de Gouviães. Estacionemos no largo que engloba a rua que desce em direcção à ponte medieval. Esta é imponente, e ultrapassa um Varosa aqui bem mais calmo. Do outro lado vê-se uma Torre fortificada que, antigamente, defendia as terras do Couto do Mosteiro de Salzedas e cobrava as portagens da passagem da ponte. Se rivalidades havia entre as duas aldeias a recente união das freguesias acabou com elas. A aldeia de Ucanha é interessante, e tem um casario bem conservado. Merece um giro e tem onde lanchar em paz. Seguir para Salzedas. 
Salzedas vive à volta do Mosteiro do mesmo nome. Edifício imponente, recentemente restaurado, frontaria imponente e que domina o centro da aldeia. A porta de acesso para visita fechou antes da hora mas também não era essa a ideia. Do outro lado do largo acede-se a um aglomerado de construções, uma espécie de bairrro conhecido como "O Quelho" e que, dizem, foi uma judiaria. Medieval e interessantíssimo, sim. Um achado único em ambiente rural português. Judiaria? Em frente a um Mosteiro? I have my doubts! Espero que a reabilitação seja justa, adequada, minimalista.
Faltava S.João de Tarouca e seu Mosteiro, concorrente do de Salzedas, ambos fundados no século XII. S.João de Tarouca fica a leste do Rio Varosa. Foi fundado por intervenção do próprio Rei, enquanto a fundação de Salzedas decorre sob a protecção da mulher de Egas Moniz, ama dos filhos do Rei. A Igreja foi transformada em paroquial e contrasta com a de Salzedas ao revelar ainda as suas origens góticas. Por outro lado  o Antigo Dormitório e todas as ruínas que ficam de permeio impressionam pela sua grandiosidade - o primeiro - e extensão - o resto. Um gradeamento "artístico" encerra o conjunto (ie, impede a sua adequada visão) e obriga a visita paga. O conjunto lembra uma enorme necrópole. Descendo ao Varosa encontramos nova Ponte Medieval, novo espaço onde molhar os pés em água limpa e corrida.
Hora de partir em direcção ao poente: sugestão: jantar na Gralheira, no Restaurante Recanto dos Carvalhos: não é a hipótese de, provavelmente, ser o restaurante mais alto de Portugal. É o facto de se comer muito bem.



O Varosa em Vila Pouca.
A ponte de Vila Pouca.
A Torre de Ucanha.
A Ponte e a Torre de Ucanha.
Casa de Ucanha.
Mosteiro de Salzedas.
Mosteiro de Salzedas visto da entrada do Quelho.
O Bairro do Quelho em Salzedas.
O Mosteiro de S.João de Tarouca -  a Igreja.
O Dormitório do Mosteiro.
Idem.
Ponte medieval em S.João de Tarouca.

Arouca, vai uma Paradinha?

Há mundo em Arouca para além dos Passadiços do Paiva, e o ter observado filas em Espiunca à espera para entrar nos mesmos convenceu-me exactamente disso. E, porém, grande parte do concelho de Arouca - e do envolvente do Paiva - é Eucalipto Place, o que muito me entristece. E em Eucalipto Place, na freguesia de Alvarenga um pouco para sul, podemos descer até ao Paiva e observar a pequena aldeia da Paradinha. Esta já me parece não ter autóctones: aluga-se, vende-se. As casas não me parecem tão "optimizadas" como Lourizela-Águeda, embora pelo menos uma na periferia oeste tenha uma simpática piscina com vistas. O porquê da piscina quando duzentos metros abaixo está o rio de que se fala, não entendo - vá de ser preguiçoso! Duzentos metros abaixo, portanto, o Rio Paiva. Água nervosa, mexida, a não desiludir. Metade do leito está a descoberto oferecendo um rendilhado de pedras para calcorrear até à água. Três ou quatro crianças brincavam na água. Os temidos "espaços de apoio" dividiam-se entre um quadrilátero "exclusivo para a Associação dos Amigos de Cabrança e Paradinha" - a sério? mesmo? - com mesas para piquenique, e que eu não percebi se a proibição de (eu) entrar era para levar a sério ou não. À esquerda um pavilhão pre-fabricado em madeira fornecia lavabos, um bar e música de kizomba. Uns jovens adultos dançavam e bebiam umas cervejas. Era a zona para não-sócios. 
Em resumo: o Rio recomenda-se e muito embora a vegetação envolvente autóctone seja escassa. As encostas estão quase completamente eucaliptadas. Mas até na Paradinha encontrei filhos e enteados...

domingo, 26 de junho de 2016

A Espanha, o Ikea e os Venezuelanos.

Que engraçadas foram estas eleições espanholas, que engraçadas! A afluência desceu, o PP aumentou a percentagem de votantes, o PSOE desceu mas pouco, Unidos Podemos não subiu, e Ciudadanos sofreu um transvase de votos para o PP. Que aconteceu? 

1. Engana-se quem assume que existe uma bondade intrínseca primeva, apesar de tudo, no eleitorado de direita. Grande parte dele na realidade convive bem com a corrupção, as desigualdades, o desmantelar dos serviços públicos, desde que o "seu" se aguente e a Espanha siga "una".

2. É interessante estudar o mapa de Espanha e verificar onde Unidos Podemos ultrapassa o PSOE: Cataluña, Comunidad Valenciana, Madrid, Euskadi e a Galiza atlântica (Coruña e Pontevedra). Aqui está a divisão das Duas Espanhas, curiosamente replicada em Galiza - Litoral vs Interior. E atenção que Madrid tem um voto progressista interessante mas que a Castela profunda não replica.

3. Intriga-me a popularidade de Mariano Rajoy - mas o ponto 1. talvez explique um pouco isto. Por outro lado, Rajoy lembra um pouco o Cavaco Silva de antigamente: consegue - Deus saberá como, mas nós sabemos que Deus não existe - dar uma estranha sensação de não corrupto, estando rodeado por eles, por cima, por baixo, pelos lados... e, também, Rajoy consegue criar a ilusão de que só ele sabe governar, ninguém mais. Assim era também com Cavaco. 

4. Continua por resolver o problemas das Nacionalidades Históricas. As coligações regionais de Unidos Podemos podiam ser uma solução que renquadrasse estes nacionalismos num todo federal. A que se adivinha marginalização de Podemos vai agudizar o problema.

5. Em Espanha funcionou também o medo, o medo e a culpa, numa situação similar a Portugal. Espanha também acha que antes gastava demasiado e vivia acima das suas posses. E só Mariano Rajoy pode continuar a corrigir esta situação. A raiva a Cataluña e aos restantes nacionalismos fez o resto.

6. O PSOE, para sobreviver, permitiu que Felipe Gonzalez dissesse enormidades, e fosse ao osso. E não recebeu nem um cartão amarelo. Quando se avaliar o lugar de Gonzalez na História não será de esquecer estes dias. O PSOE não perdeu tudo agora mas, haja justiça, vai acabar por perder mais, talvez tudo. Utilizou o medo e a calúnia como arma política e isso um partido de esquerda não faz. Perder-se-á Espanha também? 

7. Hoje andei por terras de Arouca e de Cinfães. Duas vezes tive que esperar que vários exemplares da raça bovina desimpedissem a estrada - era o fim da tarde - para poder continuar a gastar gasóleo. Esperava tranquilamente e cumprimentava os guardadores daqueles animais - e de sonhos. Sei que no interior de Espanha - esse fantástico interior de Espanha - pela mesma hora o mesmo estaria a acontecer. Pergunto-me se Unidos Podemos pensou neste tipo de eleitores quando inventou um Programa Político decalcado dos catálogos do IKEA.

8. Independentemente de tudo isto, se eu fosse espanhol, hoje o meu voto teria sido para aqueles que o ABC chamava de "Los Venezolanos!": Unidos Podemos! E Hala!

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Exit.

Todos os povos têm qualidades e defeitos, todos. Começando por não serem bem povos mas sim uma colecção de pessoas, únicas, pequenas, invisíveis quase e porém, tendo... qualidades e defeitos, anseios, medos, capazes de coisas boas e das mais completas idiotices, ouvintes de boa música, de maus políticos. Os britânicos têm dois defeitos dois, assim para começar: Albufeira no verão, e levarem porrada dos russos sem dó nem piedade.
O Brexit atinge toda a Europa porque é um fenómeno Europeu, não só britânico. Consigo assim só num instante imaginar uma meia dúzia de países onde um referendo similar pode acontecer, e dois ou três onde ele  vai acontecer. Em Portugal o que nos defende de tal decisão é a ideia bem instalada no subconsciente português de que "sem a Europa não nos safamos", e não qualquer europeísmo nosso que, na realidade, não existe.
A Europa está à deriva há muitos anos. E não me lembro de ter aprendido ser a deriva o melhor método de navegação. A Europa, uma coisa boa, foi transformada por praticamente todos os governos europeus num bode expiatório para tudo o que eles não conseguiam resolver. Nunca conheci entidade com as costas mais largas. Que não tinha sido eleita, e tal... mas todos os seus cargos dirigentes foram eleitos sim, pelos nossos cargos eleitos, os nossos políticos. Eu, por exemplo, não votei no actual Primeiro Ministro de Portugal: foi o Parlamento que o escolheu. Isso transforma António Costa numa figura não democrática, como Juncker? Mais, sistematicamente as Eleições Europeias foram menorizadas. E o parlamento Europeu foi sempre mais notícia pelas suas mordomias e preguiça do que pelo facto de realmente ser a câmara eleita da primeira democracia supranacional do planeta.
O Brexit pode acontecer, por exemplo, na Finlândia ou na Itália ou na Áustria. E neste mesmos países o exercício do populismo puro e duro pode recompensar os audazes.
E foder-nos a todos nós.
Ontem recuámos, literalmente, oitenta anos na História.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Entre Tânger e Fez aconteceu uma batalha.


De El-Rei D. Sebastião ficaram para a História várias histórias, envoltadas no manto do mito. A que sempre mais me fascinou foi a frase que El-Rei terá proferido quando percebeu que a batalha estava perdida. “Morrer sim, mas devagar!”. El-Rei morreu no mês de Agosto de 1578 em Marrocos, quente mês de Agosto onde o batalhar deve ter sido custoso. A frase valente de um rapaz de vinte e quatro anos decapitou um País. El-Rei e a sua guarda de honra, na realidade a nata da nobreza portuguesa, foi por real desígnio guerreando e guerreando campo fora até que aos mouros, que prefeririam conseguir cativos para depois obter chorudos resgates, não lhes restou outra alternativa senão mata-los a todos. Solteiro e sem descendentes não por “opção” mas por capricho e teimosia, D. Sebastião, não mau governante nos poucos anos que teve as rédeas do poder, decidiu a cor da sua página na História naquela tarde de Agosto em Marrocos. Era Portugal muito menos e aceitou D. Afonso Henriques a condição de prisioneiro em Badajoz. Se El-Rei é a cabeça e o coração e o braço armado de um País, morto El-Rei o País morre ao não haver descendência. Tivesse D. Sebastião aceite a humilhação de uma prisão e de um resgate e salvava-se um País.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ana Luisa Amaral.


LUGARES COMUNS



Entrei em Londres
num café manhoso (não é só entre nós
que há cafés manhosos, os ingleses também,
e eles até tiveram mais coisas, agora
é só a Escócia e parte da Irlanda e aquelas
ilhotazitas, mais adiante)


Entrei em Londres
num café manhoso, pior ainda que um nosso bar
de praia (isto é só para quem não sabe
fazer uma pequena ideia do que eles por lá têm), era
mesmo muito manhoso,
não é que fosse mal intencionado, era manhoso
na nossa gíria, muito cheio de tapumes e de cozinha
suja. Muito rasca.

Claro que os meus preconceitos todos
de mulher me vieram ao de cima, porque o café
só tinha homens a comer bacon e ovos e tomate
(se fosse em Portugal era sandes de queijo),
mas pensei: Estou em Londres, estou
sozinha, quero lá saber dos homens, os ingleses
até nem se metem como os nossos,
e por aí fora...

E lá entrei no café manhoso, de árvore
de plástico ao canto.
Foi só depois de entrar que vi uma mulher
sentada a ler uma coisa qualquer. E senti-me
mais forte, não sei porquê, mas senti-me mais forte.
Era uma tribo de vinte e três homens e ela sozinha e
depois eu

Lá pedi o café, que não era nada mau
para café manhoso como aquele e o homem
que me serviu disse: There you are, love.
Apeteceu-me responder: I’m not your bloody love ou
Go to hell ou qualquer coisa assim, mas depois
pensei: Já lhes está tão entranhado
nas culturas e a intenção não era má, e também
vou-me embora daqui a pouco, tenho avião
quero lá saber

E paguei o café, que não era nada mau,
e fiquei um bocado assim a olhar à minha volta
a ver a tribo toda a comer ovos e presunto
e depois vi as horas e pensei que o táxi
estava a chegar e eu tinha que sair.
E quando me ia levantar, a mulher sorriu
Como quem diz: That’s it

e olhou assim à sua volta para o presunto
e os ovos e os homens todos a comer
e eu senti-me mais forte, não sei porquê,
mas senti-me mais forte
e pensei que afinal não interessa Londres ou nós,
que em toda a parte
as mesmas coisas são

Bach e o Fim do Mundo.

Podia o mundo ter acabado em 1755 e não só uma versão de Lisboa e,  mesmo assim, teria valido a pena. Cinco anos antes morrera Johann Sebastian Bach.
Considero Bach justificação bastante para a existência da Humanidade. Verdade seja que não encontro muitas mais. A música do compositor alemão abrange e ultrapassa todo o nosso sofrimento, a alegria contrita que às vezes nos é permitida, a tristeza que é diário alimento. Há Bach e os outros. Há Bach e, portanto, continuar a viver é possível.


quinta-feira, 16 de junho de 2016

Aracne - António Franco Alexandre.


Já estou a ficar velho, ainda que tenha
esta figura fixa sem idade,
e me mantenha em forma o aparelho
a que todos aqui somos sujeitos:
a correria cega, a suspensão elástica,
o salto em trave e trampolim de folhas,
e outras altas artes de ginástica.
Mas eu bem sei sentir além da aparência,
e já me aconteceu, ao visitar o canto
onde o mundo se acaba em chão de areia,
ali ver o meu fim anunciado.
Quando em tranquilo pouso assim medito,
peso, e calculo tudo aquilo
que não fiz, e não tive, e não alcanço
com o rosto extravagante que me deram,
já tudo bem pensado considero
se não devo encontrar algum consolo
na ciência que conduz o feiticeiro,
e acreditar também, como me diz,
que é, esta vida, emaranhada teia
de mal fiado, mal dobado fio,
e a morte tão somente um singular casulo
de onde sairei transfigurado.
Mas não sei de que valha imaginar
um outro ser incólume e perfeito
que da minha substância seja feito
e tome, noutro mundo, o meu lugar;
se me não lembra, como serei eu?
Se for quem sou, ainda que mude a capa,
há-de voltar aqui, onde hoje estou,
viver o mesmo instante, e ver
escapar-lhe das mãos o que me escapa;
veloz embora, e exímio no salto,
o que hoje perco, há-de então perdê-lo,
e faltar-lhe outra vez o que me falta.


António Franco  Alexandre, in Aracne - 2004, Assírio & Alvim.





(um dos cinco livros de poesia mais importantes editados este século em Portugal, talvez).

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Tati No jardim, de Joana Providência, Serralves Em Festa, 05/06/2016

Vou tentar fazer de conta que não sei que esta peça de quarenta minutos de duração foi preparada e ensaiada em menos de um mês nos intervalos do funcionamento normal das aulas do 2º ano do Curso de Interpretação da Academia Contemporânea do Espectáculo - Teatro do Bolhão.
 
Uma peça de teatro performativo com a duração de quarenta minutos a ser estreada no Serralves Em Festa corre o risco de cansar alguns dos seus - menos experimentados - espectadores. E, porém, foi nesta peça que eu acho que Joana Providência foi mais fiel ao espírito de Tati, desta vez buscando inspiração no filme "Les Vacances de Mr.Hulot". Ao dizer isto comparo com o projecto "Tati" apresentado ao público e/ou pais no fim de Janeiro do corrente ano e de que "sobreviveu" um condensado de 15 minutos que também foi apresentado em Serralves.
A peça acontece na praia. Elas e eles chegam e ocupam o espaço. As toalhas, o jornal, a bola, a cana de pesca. A zaragata, o namoro, as corridinhas. Tati tem um tempo muito especial: sendo os seus filmes meticulosamente "artificiais", o tempo aproxima-se do da nossa vida real, onde, parece, nada de especial acontece. Tati discorda e explica-nos porquê. Por isso os filmes de Tati são só DE VEZ EM QUANDO muito engraçados.
Por outro lado Tati repete-se. Porque a vida é repetição. Vê-se isso no "Traffic", em "Parade", também em "Les Vacances de...". E Joana Providência assim procede: há o almoço e depois tudo se repete, tudo: as toalhas, o jornal, a bola, a cana de pesca; a zaragata, o namoro, as corridinhas. Porque assim é numa praia portuguesa: à tarde faz-se também o que de manhã se faz. Compreendo que esta repetição cansou o espectador "transeunte" de Serralves Em Festa.
No fim há o lanche e o momento em que Joana Providência "nacionaliza" Tati com o famoso grito: "Olh'á bola de Berlim!"
 
Parabéns!

terça-feira, 7 de junho de 2016

Giorgio Griffa, em Serralves.

Serralves tem sempre uma exposição excepcional à nossa espera. Desta vez é a de Giorgio Griffa.

Nascido em Turim em 1936, onde ainda vive, Giorgio Griffa leva cinquenta anos de prática de uma pintura que se interroga sobre os sinais, as linhas e as cores que foram a base do trabalho do pintor.

Em tantas coisas "menos é mais". Assim a pintura de Giorgio Griffa. "Pobre" antes de o colocarem no movimento "Arte Povera", minimalista et pour cause mas não "simplista" nem "primitivo", a sua pintura tem um apelo imediato e natural - Serralves vendeu-me um saquinho por sete euros com uma reprodução duma obra sua, dentro "daquele espírito" de Serralves Em Festa.

A visitar, portanto!


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Fernando Lanhas e o Castro de San Paio.

É uma praia bem bonita e  foi-me recomendada por um amigo. Fui para lá caminhar ao fim da tarde.
A freguesia é Labruge e para chegar à praia, chamada  de Mosteiró, há que sair para Lavra e depois seguir para noroeste, atravessando a mistura de aldeia agrícola e subúrbio que é hoje Labruge.
A praia é extensa e ganhou a optimização habitual com uma zona pedonal, passadiço e um bar-restaurante. Que fica para sul e - na minha opinião - demasiado perto dos escassos restos de um castro que toma o nome da Capela de São Paio que logo ali também está. O passeio termina - ou não - no Alto do Facho. E aqui entra Fernando Lanhas.
Foi um dos descobridores do castro. Fernando Lanhas antes de pintor era arquitecto. Acho engraçado que lhe chamem precursor da arte abstracta em Portugal, quando os quadros que eu dele mais conheço foram pintados 40 anos depois de Kandinsky. Em Serralves pude também ver uma interessantíssima série sua de seixos pintados. Fernando Lanhas acreditava que umas depressões achadas em rochedos perto do castro os definiam como 'pedras amoladoras', para afiar pontas de madeira, usadas talvez para pescar.
O lugar é idílico. E reencontrei Fernando Lanhas. Meia aldeia é este mundo. Henrique, obrigado.

E Mário Centeno?

O que tem feito Mário Centeno? Vê-se muito menos que Maria Luís Albuquerque. Surge para se zangar com Carlos Costa, o seu ex-empregador no BdP. Os bancos têm sido o NOSSO (e dele) pior pesadelo. E pouco mais. Pede paciência. Os cortes, a poupança, não os decide ele mas o governo todo, e cada ministro assume-os: Saúde, Educação, etc. A folga orçamental não existe. Quem ler o seu ensaio 'O Trabalho, Uma Visão de Mercado' para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, apercebe-se que ele não é um perigoso esquerdista. Flexibilizar o despedimento mas penalizando quem mais despede, para que diminuam os contratos a prazo. Facilitar a negociação laboral fugindo à 'ditadura sindical'. Alterar o subsídio de desemprego e as indemnizações por despedimento (diminuir e aumentar, respectivamente) para estimular a reentrada no mundo de trabalho. Não, Centeno não é um perigoso esquerdista. Mas sabe que a política está primeiro: por isso aceitou sem mais o aumento do salário mínimo. E também sabe que - EXCEPTO NA ÁREA DA SAÚDE - a questão das 35 horas é secundária. Chegará algum dia Mário Centeno a poder pousar a máquina calculadora? Se calhar só mudando de ministério.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

União das freguesias de Ermelo e Pardelhas.

No princípio era apenas uma hipótese
remota.
Passaram os anos certos para
que hoje seja todos os dias.

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Pacotes de sementes: comprar.
Mas eu começaria pelo terreno.

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Se fores sempre pelo viaduto não verás
aqueles que se abrigam da chuva.
A pobreza obriga a um peso seco.

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Eu conheço a história do Titanic, claro:
podia ficar aqui a noite toda a
falar de nós. Mas quantos mais naufrágios
Estes anos todos?

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Procuro emprego. Uma barragem, um
muro alto que nos segure.
A vida é feita de deslizamentos.

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E sou um agente secreto.
Mesmo para ti. O que, ao
fim destes anos ao teu serviço,
não deixa de ser estranho.

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Eu ampliaria o plano nacio-
nal de vacinação. E investi-
garia como fazem as sarda-
niscas, que ao perder o rabo
fazem andar para trás o
tempo.

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E almoçámos todos separados
E só assim se conseguiu
sobreviver até à fotografia
de grupo.

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Enervam-me as variações
climáticas dos últimos dias,
o não serem suficientes para.

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Uma fenda na muralha?
Lisboa conquistada, ninguém mais
a viu.

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A neve, a neve, e a neve. E como na vida:
primeiro bastante, logo muito mais,
e, depois, para o fim,
a surpresa de (a neve) ainda me apa-
recer ao caminho.

@

Do True Finns have a heart?

Da sensatez de tudo isto.

'Bebes mais alguma coisa? É sensato separar as nossas forças?'

Vítor Nogueira