domingo, 26 de junho de 2016

A Espanha, o Ikea e os Venezuelanos.

Que engraçadas foram estas eleições espanholas, que engraçadas! A afluência desceu, o PP aumentou a percentagem de votantes, o PSOE desceu mas pouco, Unidos Podemos não subiu, e Ciudadanos sofreu um transvase de votos para o PP. Que aconteceu? 

1. Engana-se quem assume que existe uma bondade intrínseca primeva, apesar de tudo, no eleitorado de direita. Grande parte dele na realidade convive bem com a corrupção, as desigualdades, o desmantelar dos serviços públicos, desde que o "seu" se aguente e a Espanha siga "una".

2. É interessante estudar o mapa de Espanha e verificar onde Unidos Podemos ultrapassa o PSOE: Cataluña, Comunidad Valenciana, Madrid, Euskadi e a Galiza atlântica (Coruña e Pontevedra). Aqui está a divisão das Duas Espanhas, curiosamente replicada em Galiza - Litoral vs Interior. E atenção que Madrid tem um voto progressista interessante mas que a Castela profunda não replica.

3. Intriga-me a popularidade de Mariano Rajoy - mas o ponto 1. talvez explique um pouco isto. Por outro lado, Rajoy lembra um pouco o Cavaco Silva de antigamente: consegue - Deus saberá como, mas nós sabemos que Deus não existe - dar uma estranha sensação de não corrupto, estando rodeado por eles, por cima, por baixo, pelos lados... e, também, Rajoy consegue criar a ilusão de que só ele sabe governar, ninguém mais. Assim era também com Cavaco. 

4. Continua por resolver o problemas das Nacionalidades Históricas. As coligações regionais de Unidos Podemos podiam ser uma solução que renquadrasse estes nacionalismos num todo federal. A que se adivinha marginalização de Podemos vai agudizar o problema.

5. Em Espanha funcionou também o medo, o medo e a culpa, numa situação similar a Portugal. Espanha também acha que antes gastava demasiado e vivia acima das suas posses. E só Mariano Rajoy pode continuar a corrigir esta situação. A raiva a Cataluña e aos restantes nacionalismos fez o resto.

6. O PSOE, para sobreviver, permitiu que Felipe Gonzalez dissesse enormidades, e fosse ao osso. E não recebeu nem um cartão amarelo. Quando se avaliar o lugar de Gonzalez na História não será de esquecer estes dias. O PSOE não perdeu tudo agora mas, haja justiça, vai acabar por perder mais, talvez tudo. Utilizou o medo e a calúnia como arma política e isso um partido de esquerda não faz. Perder-se-á Espanha também? 

7. Hoje andei por terras de Arouca e de Cinfães. Duas vezes tive que esperar que vários exemplares da raça bovina desimpedissem a estrada - era o fim da tarde - para poder continuar a gastar gasóleo. Esperava tranquilamente e cumprimentava os guardadores daqueles animais - e de sonhos. Sei que no interior de Espanha - esse fantástico interior de Espanha - pela mesma hora o mesmo estaria a acontecer. Pergunto-me se Unidos Podemos pensou neste tipo de eleitores quando inventou um Programa Político decalcado dos catálogos do IKEA.

8. Independentemente de tudo isto, se eu fosse espanhol, hoje o meu voto teria sido para aqueles que o ABC chamava de "Los Venezolanos!": Unidos Podemos! E Hala!

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