domingo, 27 de março de 2022

Mariupol e os Neo-Nazis que a defendem.


O Donbas é parte importante nas razões apresentadas por Putin para invadir a Ucrânia. O Donbas é constituído pelos dois oblasts (distritos) mais a leste da Ucrânia, os de Donetsk e de Luhansk. Destes oblasts antes de Fevereiro menos de metade não estava sob controlo da Ucrânia. Significativamente ambas as capitais. Mas Mariupol, pertencente ao oblast de Donetsk, foi recuperado para a Ucrânia em 2014. Em grande parte este recuperar foi obra do Batalhão de Azov, um regimento ucraniano com cores extremistas, neo-nazi dizem. Em 2014 terá havido exageros de ambas as partes. Mortos com orelhas cortadas, por ex.
Portanto, Mariupol para além de ser um porto estratégico e servir para fazer a ponte entre o Donbas e a Crimeia, é todo um símbolo. 
É sempre difícil saber o que realmente está a acontecer numa guerra. Sim, o Batalhão de Azov estará a defender Mariupol, terra ucraniana fundada por russos no séc.XVIII, terra de ucranianos falantes de russo. Mas os testemunhos de múltiplas fontes (BBC, aljazeera, Euronews, nativos que conseguiram fugir) parecem ser coincidentes: as tropas russas estão efectivamente a arrasar a cidade, os naturais que ainda não morreram estão encurralados pelos russos e sobrevivem sem comida, sem água, sem electricidade. A maior parte dos habitantes só fogem para a Rússia se sequestrados ou enganados, e portanto Mariupol parece hoje de livre vontade querer permanecer ucraniana. Não restará um edifício residencial incólume. Os mortos estão a ser enterradas em valas comuns.
Putin vai destruir por completo a cidade, matar ou sequestrar todos os seus habitantes e depois, "devolvendo" uma possível "população salva" à cidade que já não existe, vai inventar um referendo para anexar a terra, só a terra, porque nada restará do que antes havia.

No meio disto tudo que seja o Batalhão de Azov a fazer parte da defesa de Mariupol parece-me hoje (infelizmente) um triste detalhe.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Ghazni




A província de Ghazni é das mais populosas do Afeganistão, bem mais de um milhão de habitantes, e fica a meio caminho entre Kabul e Kandahar, sendo a cidade capital de Ghazni o principal entreposto comercial na estrada que liga os dois grandes centros. A província é rica em história e em pouco mais. A pouca agricultura que resiste à seca crónica completa aquilo que os homens emigrados em Kabul, no Paquistão, noutros sítios, enviam para casa. O norte da província é Hazara, a parte que é mais montanhosa. O sul é Pashtun, incluindo a cidade capital, de nome Ghazni também. A segurança desta província nunca foi muita. E algumas províncias pashtun deixaram de estar controladas pelas forças governamentais já desde 2017, 2018. 

Eis nove coisas sobre a província de Ghazni.

1 - A origem da cidade de Ghazni perde-se no fundo dos tempos. No entanto também Ghazni foi refundada (depois de destruída?) por Alexandre o Grande, como Alexandria Opiana.

2 - No séc X dc um governador de Ghazni, então províncias do Império Persa dos Samânidas, um turco mameluco, expandiu o território sob o seu governo e tornou-se de facto independente. O reino Ghaznávida atingiu o seu apogeu no século seguinte, ocupando partes da índia e do Irão, e atingindo inclusivé o Oceano índico. Ghazni era então uma metrópole comercial e cultural de primeira grandeza. Este apogeu pouco mais tempo durou porém, e a dinastia e o reino extingiram-se em 1186. Os Ghaznávidas culturalmente foram uma extensão da cultura persa do tempo e introduziram o islamismo na Índia como paga dos inúmeros saques realizados.

3 - A complexa história da cidade de Ghazni está expressa na presença de dois minaretes, restos de uma enorme mesquita e as escavações do palácio de Mas'ud III (séc. XII). Os minaretes, construídos em forma estrelada, eram também "torres de vitória" ao possuírem nas suas paredes descrições em baixo-relevo das vitórias dos Ghaznávidas. A citadela é algo posterior mas é enorme e imponente, embora também em ruínas. 

4 - Em Ghazni repousam os restos mortais de al-Biruni, um génio nascido mais para o norte em terras hoje do Uzbequistão mas que, coagido a estabelecer-se em Ghazni, nesta viveu até falecer. Viajou com o Imperador de Ghazni várias vezes até à India, escrevendo as primeiras obras relevantes sobre os seus costumes, obras consultadas séculos depois pelos ingleses! Foi astrónomo (ciência que diferenciava bem da astrologia), físico, linguista, e, com os seus estudos da Índia, está descrito como o "primeiro antropólogo", escrevendo vários livros onde comparava as várias religiões, dentro de uma visão abrangente e nunca integrista. Dos primeiros ainda a dividir a hora em sessenta minutos e estes em sessenta segundos, este grande homem tem direito a ter dado o nome a uma cratera na lua e a um asteróide. O seu cálculo do raio da Terra falhou por 2%, sendo a primeira aplicação conhecida da Lei dos Senos.

5 - A ISESCO declarou em 2013 Ghazni Capital Islâmica da Cultura.

6 - Ghazni foi o local de várias batalhas, devido à sua localização estratégica. Em  1148 os Gaznávidas perderam a cidade para um reino rival, sinal da sua decadência, embora a tenham reconquistado no ano a seguir. No século XIII Ghazni também foi arrasada pelos mongóis. Os ingleses tomaram Ghazni em 1839 na 1ª Guerra Anglo-Afegã, fazendo explodir parte do pano de muralha da cidadela, considerada inexpugnável. Em 2018 os talibã, que já dominavam vários distritos da província de Ghazni e controlavam a estrada Kabul-Kandahar, obrigando quem passava a pagar um tributo, atacaram Ghazni e durante quatro dias, dominaram parte da cidade. Retiraram finalmente após muita mortandade e destruição, não sabemos se derrotados ou se apenas porque sabaim que, três anos depois, entrariam de vez em Ghazni sem dificuldade nenhuma 

7 - Em 1988 viajou numa missão Soyuz o primeiro e até agora único natural do Afeganistão a chegar ao espaço. Era o tempo da presença soviética no Afeganistão. O homem chamava-se (e chama-se, ainda é vivo) Abdul Ahad Momand e é natural dum distrito do leste da província de Ghazni, da etnia pashtun. Quando da queda do regime em 1992, Abdul Momand emigrou para a Alemanha, tornando-se cidadão alaemão em 2003.

8 - Os hazaras compõem a população da metade noroeste da província. Em 1998 o Hazarajat, cercado pelos talibã, foi subjugado pela fome. Morreram mais de 100000 pessoas, no que foi para todos os efeitos um genocídio.

9 - Os hazaras curiosamente são conhecidos pela sua dedicação, tão espúria no Afeganistão, em escolarizar as suas crianças, incluindo as meninas, nas esperança de que a escolarização corrija a sua marginalização da sociedade afegã.


 

As Minhas Leituras. 21-30.

 Causa das Coisas, A - Miguel Esteves Cardoso.

O humor português actual nasceu de dois pais: Herman José e Miguel Esteves Cardoso. É difícil descrever hoje a importância que as crónicas do Miguel no Expresso tiveram no seu tempo. E que vieram na sequência de uns primeiros escritos sobre música que ele enviava do Reino Unido onde estava a estudar. Durutti Column, Virginia Astley, A Certain Ratio, Comsat Angles, etc., etc., tudo o Miguel apresentou à plebe portuguesa. Depois veio para Portugal e começou a escrever sobre nós, e assim se fêz português, ele que era um menino de educação oh! tão inglesa. A Causa das Coisas colige a primeira fatia dessas crónicas, a melhor. Retrato de um tempo, não perde porém frescura. "Ninguém sabe nem como nem quando a Humanidade começou a conversar. Há várias teorias, mas a maioria delas é só conversa. / Sabe-se, porém, uma coisa muito mais importante e, para nós, portugueses, motivo de orgulho e prestígio internacional. É que foi aqui, em pleno Portugal Continental, que dois compatriotas nossos inventaram a arte de desconversar." 


Cecil Essentials of Internal Medicine, 4th Ed. - Andreoli et al.

 A idade da sageza serve para restringir a leitura para exames. Este livro foi a minha base para o exame de saída da Especialidade de Medicina Interna. Correu bem. Andreoli, amigo, um abraço! O exame foi uma história engraçada.. mas isso é outra história!


Cem Obras Primas da Pintura Europeia - Redacção de Ed. Verbo.

A este livrinho devo a minha paixão pela pintura, essa arte quase extinta. Conheço de cor todos os quadros lá reproduzidos, um Cristo de Cimabue o primeiro, o último um entramado de Maria Helena Vieira da Silva chamado "Au Four et à Mesure". Mas a obra que mais me fascinou foi "Am Nil", de Paul Klee. A sua simplicidade interrogou-me, até hoje. Um amor que depois se criou, cresceu e hoje é para a vida, o meu por Paul Klee.

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Cico Queda Livre - E. M. Melo e Castro

No final dos anos cinquenta do século passado este poeta, o pai da cantora Geninha Melo e Castro, esteve na primeira linha de uma coisa chamada Poesia Experimental. Herberto Helder partiu daqui e a geração de setenta, a geração do "Cartucho", abominava esta poesia e estes anos. O livro em questão desenvolve mal. E Melo e Castro escreveu muita má poesia, é verdade.Mas o primeiro poema, "Refutação Pacífica da Beleza" ressoou durante anos. "Desde que há mais do que um homem / o Belo já não chega. / As mãos são supérfluas / desde que há mais do que um homem no mundo. / Foi por isso que Abel matou Caim matou Abel / e o fogo invisível // queimou o espírito novo. / Se me olhas nos olhos / não me olhas - devoras-me, meu irmão. / Se penso em ti, destruo-te. / Para que a pura beleza em movimento possa reinar / aprendemos as guerras. / Mas na paz a beleza não chega. / E necessário inventar outra forma de destruição." 


Circo Galiano, O - Enid Blyton

Li tudo o que havia de Enid Blyton à minha disposição na Biblioteca da Câmara de Ovar. Cresci com ela, pois ela tinha leituras para diferentes idades. Este livro, a história de uma família que é adoptada por um circo, tem para mim uma aura de uma felicidade imensa que afinal era possível, numa vida de alegria e festa, pois onde mais ter assim uma vida do que num circo? Depois aprendi que a vida não é isto e hoje ainda me custa.


Colher na Boca, A - Herberto Helder

Este livro foi uma revolução na poesia portuguesa. A sua publicação correspondeu à confirmação da (primeira) revolução que tinha sido a publicação do Poema "O Amor em Visita" em 1958. Repito o que todos dizem, Herberto Helder foi o mais eficaz contraponto no século XX à poesia de Fernando Pessoa. Uma poesia pesada, difícil de seguir, na realidade sem grandes discípulos. Os anos setenta fugiram dele, houve uma famosa carta de Joaquim Manuel Magalhães onde este dizia que o amor e o fascínio era tão grande que a única forma de subsistir era escrever "contra Herberto Helder". Fica esta noção simples: Herberto Helder foi o outro grande monstro da poesia portuguesa no séc. XX. "Estou deitado no meu poema. Estou universalmente só, / deitado de costas, com o nariz que aspira, / a boca que emudece, /o sexo negro no seu quieto pensamento. / Batem, sobem, abrem, fecham, / gritam à volta da minha carne que é a complicada carne / do poema. (...)". É o pai do comentador Daniel Oliveira. Acontece aos melhores.


Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos - Olga Tokarczuk

Escolhi este livro da obra de Olga Tokarczuk porque foi o primeiro que li. Toda a sua obra é excelente e é dos escritores actuais aquele de que eu espero com mais ansiedade a tradução das sua obra mais recente (ela é polaca e eu não leio polaco e não a quero ler em inglês). É também um livro um pouco atípico em relação ao resto da sua obra, uma espécie de thriller ecológico que glosa com várias frentes e não se compromete com nenhuma. Tokarczuk é mesmo uma escritora desalinhada! O livro começa assim: "Já atingi uma idade e, além disso, um estado em que, antes de me deitar, devia lavar muito bem os pés, no caso de uma ambulância ter de me levar durante a Noite.".


D. Afonso Henriques - José Mattoso

Muito boa coisa escreveu o nosso melhor historiador. Mas o livro que eu ponho na primeira linha é esta biografia do nosso primeiro rei, a primeira de uma simpática colecção real de que eu escolhi alguns outros bons volumes. E saí aliviado da leitura deste livro. José Mattoso, com um cuidado cirúrgicomas também admiração apresenta ao mundo a História de um Homem que a ferro e fogo e malícia e astúcia e muita teimosia criou um país, porque um reino só seu queria.  


Danúbio - Claudio Magris

Claudio Magris é um intelectual italiano nascido em Trieste, e nunca o local de nascimento terá marcado mais a história de alguém, Trieste uma cidade encravada entre a Itália e o Mundo Antigo, nomeadamente o mundo Austro-Húngaro. Na wikipedia portuguesa aparece como "germanista" e haverá razão para este epíteto. A sua obra mais imortante é esta, "Danúbio", onde Magris conta uma sua viagem das nascentes do rio Danúbio até à sua foz no Mar Negro, e, enquanto isso, escrevendo/falando sobre as mil e uma histórias que cada local lhe oferecem. A Europa Central toda, em suma.


Demasiada Felicidade - Alice Munro.

Muito antes de Alice Munro ter recebido o Prémio Nobel já ela era apontada como a melhor escritora de contos /ficção curta viva.Li dela também o romance autobiográfico (da família que emigrou para o Canadá) "A Vista de Castle Rock" e também é muito bom. O título "Demasiada Felicidade", título de um dos contos nesta colectânea de, resume a angústia fina que toda a escrita de Munro oferece: porque nunca sabemos se em determinado momento uma qualquer "felicidade" que nos esteja a acontecer não poderá ser... "demasiada".  "Morreu pelas quatro. A autópsia demonstrou que a pneumonia tinha destroçado por completo os pulmões e que o coração apresentava doença que arrastaria desde há vários anos. Como todo o mundo esperava, o cérebro tinha um grande tamanho.".












domingo, 13 de março de 2022

As primeiras cidades europeias foram ucranianas.

 



Há 6000-7000 anos existia nas terras férteis entre o leste da Roménia, a Moldávia e o oeste da Ucrânia uma cultura chamada Cucuteni-Trypillia. Os aglomerados populacionais destas gentes terão atingido mais de 15000-20000 habitantes e distinguiam-se por não terem grandes monumentos, nem grandes praças. As habitações eram quase todas da mesma dimensão embora nunca iguais. A sociedade seria aparentemente bastante igualitária e sem grande diferenciação profissional. Viveriam da caça, pesca, alguma pastorícia e agricutura de subsistência. O seu declínio coincidiu com as invasões oriundas da estepe a nordeste de tribus guerreiras, agressivas e hierarquizadas, os Yamnaya.

Ontem como hoje...

segunda-feira, 7 de março de 2022

As Minhas 101 Leituras - 11-20.

 Artes Marginais - A M Pires Cabral

Nasceu em Chacim, Macedo de Cavaleiros o mais importante trasmontano vivo. E o que seria de nós sem os trasmontanos? Gente curta de conhecimentos esquece que, do Norte, estes são os melhores. Reconhecido este poeta pelos seus pares da geração de setenta como um entre iguais. "Artes Marginais" recupera os poemas dos seus primeiros dez anos de publicação. No ensaio de saída do livro, Joaquim Manuel Magalhães escrevia: "Tenho a impressão que uma outra vantagem, para lá de pertencer a uma geração votada ao alheamento, coloca a poesia de A M Pires Cabral num espaço onde as páginas literárias promocionantes não chegam: o afastamento do centro." Este afastamento que lhe permitiu escrever coisas como: "Quando de mim disserem finalmente: / eis aquele cujos olhos injuriaram / em vão alguns astros poderosos - / estarei longe, estarei mudo e só, / estarei (se estiver, em todo o caso) / tecendo um fio intérmino e volátil. /  Estarei não restarei. / O costume. Que fácil rendição." Diga-se que a poesia subsequente a este livro não tem desmerecido. A M Pires Cabral, o homem que nasceu em Chacim, a terra do Real Filatório, pois que Trás-Os-Montes chegou a produzir a melhor seda.


Astérix Gladiador - Goscinny & Uderzo

Vi umas pranchas deste livro de BD há muitos anos num exemplar isolado da revista portuguesa Tintin que me chegou às mãos em tempos de penúria. Numa só página estava lá todo o humor de Goscinny e a limpeza de método do desenho de Uderzo. Desta dupla não há um livro mau. Li-os pela noite à minha filha vezes sem conta. São obras primas. 


Para quem cisma em comprar os Astérix's que não têm Goscinny sugiro antes "Hum-Pá-Pá" 😀


Astronomia - ?

A mais estranha das minhas amigas ofereceu-me este livro, usado, sublinhado, há muitos, muitos anos. Pertencia a uma colecção de divulgação duma editora portuguesa a que eu perdi o rasto. E ao livro.  O fascínio sobre esta ciência, ou seja, o estudo de tudo o que nos rodeia para além da exosfera já existia e foi exponenciado com o pequenino livro. Até hoje. Obrigado.



Bairro da Lata - John Steinbeck

Já escrevi várias vezes sobre a colecção de livros da RTP que surgiu nos anos setenta e que por 15 escudos o volume introduzia muita boa leitura e informação na casa das gentes. No que ao ler diz respeito este foi o livro de que eu mais gostei. Este livro não é uma comédia. Do que sei de Steinbeck este livro não destoa da sua produção. Mas para mim é o meu "feelgood-book". Porque habitado pelas melhores pessoas que eu já conheci no mundo dos livros. Para além de tudo isto sugiro a leitura de uma certa e determinada caça às rãs. Steinbeck escreve: "Os seus habitantes são, como disse o homem certa vez, "pegas, alcoviteiras, batoteiros e filhos da mãe", com o que pretendia dizer "toda a gente". Tivesse o homem espreitado por outra frincha e talvez dissesse: " Santos e anjos, mártires e homens bons", e significaria a mesma coisa.".


 Berlim, 1919.1933 - coord. Lionel Richard.

Este livro pertence a uma velha colecção da editora Terramar que se dedicava ao estudo de determinadas cidades - julgo que todas europeias - em determinada epóca, onde nelas a História correra mais depressa, ou mais espessa. Na realidade falamos da tradução de uma colecção francesa da editora Autrement. E a cidade mais importante para a História Europeia recente viveu os seus anos mais marcantes naqueles que este livro pretende retratar. "Os nazis fizeram da infiltração nos feudos comunistas o objectivo da sua acção em Berlim. Aliás, a partir de 1933, os cronistas oficiais das SA atribuíram um lugar central à vitória nazi sobre a "Babilónia Vermelha"- A secção nazi de Berlim foi fundada no início de 1925, as SA na primavera de 1926 e, desde logo, consagraram todos os seus esforços à "conquista do operário alemão"." Mas este livro é muito mais do que isto.


Boxe, O - Joyce Carol Oates

Este pequeno livro colecciona ensaios e histórias sobre boxe. Joyce Carol Oates assistiu a combates de boxe desde criança, quando era levada pelo pai. Ela escreve: “The only sport I’ve been interested in is boxing—but then, boxing isn’t a ‘sport’." A escrita é brilhante. Não, o boxe não é um desporto. 


Caderno do Regresso - Regina Guimarães

Tenho o prazer de conhecer de raspão pessoalmente a Regina Guimarães. Ela é muito próxima de gente que não me está longe. Este livro, pouco divulgado, que eu adquiri na velha Poetria com a Dina Ferreira, é assumidamente um diário poético, pessoal e lírico como só esta poeta podia escrever. Tem um dos poemas da minha vida e que eu desafio a procurarem. Começa assim: "Passeias dentro de mim / quando passeias comigo / embora eu não seja abrigo / nem sombra onde te deleites. / Cada olhar me trespassa / (...)"


Calvin & Hobbes - Bill Watterson

O que dizer sobre esta BD?  Aparecia na última página do Público e o meu pai cortava as tiras e guardava-as para as dar à neta, embora esta tivesse acesso generoso aos livros encadernados. Um jovem doente tive que, por curiosa coincidência onomástica, recebeu como presente a colectânea "Plácidos Domingos", onde se agrupavam as coloridas páginas domingueiras dos nossos heróis. O que dizer sobre o Calvin, sobre o Hobbes?


Cancioneiro para Timor, Um - Ruy Cinatti

Este livro é um dos mais bonitos que tenho. A poesia de Ruy Cinatti, contemporâneo de Sena e Sophia, tem muitos pontos altos. Ruy Cinatti, que lá trabalhou como agrónomo, apaixonou-se pelas gentes e pela terra e tentou na metrópole defender os povos timorenses da máquina colonial. A Guerra no Ultramar abafou a sua voz e foi proibido de voltar a Timor. A invasão de Timor pela Indonésia provocou-lhe uma crise existencial grave que quase o destruia. A poesia aqui escrita é o que o título diz, a tentativa de uma criação de um "cancioneiro", ou seja uma colecções de canções-poema para uma terra e um povo, em diálogo com poemas populares timorenses. O livro interessa também pelas fotografias e por outros textos de Cinatti sobre os timorenses nele incluidos. "O timorense meu amigo ensinou-me muito."


Cartilha Escolar - Ed Lello, Domignos Cerqueira

Neste livrinho muito cedo aprendi a ler, pelas mãos de minha mãe. Lembro.me bem da página onde aparecia a palavra "o-vo", cujo soletrar era-me, sei lá porquê, difícil. Na primeira classe tive um professor que dava pelo nome de Brandão e que, no intervalo de bater nos alunos, exibia-me aos colegas dadas as minhas qualidades de leitura. Visitei-o nos finais de 74, estava já eu no 1º ano do Ciclo Preparatório, por insistência dos meus pais. "Estás a ver, Manuel Guilherme? - dizia ele, mostrando-me a classe confusa e rebelde como nos meus tempos não era. "Agora não se pode bater em ninguém!". Que grande cabrão!