sábado, 3 de junho de 2023

Almada, o Dantas e os Maus Hábitos.


Almocei com a minha filha nos Maus Hábitos. Calha que não conhecia o espaço. Nunca calhara. Calha que almocei ( desconsoladamente, mas isso é outra história não culpa do espaço) uma pizza. 
A minha filha é inquilina de uma homónima rapariga em Lisboa. Que por apelido vai a Dantas. Como as cerejas acabámos a falar de Almada Negreiros e do Manifesto Anti-Dantas. No YouTube há varias interpretações do mesmo pelo Mário Viegas. Hoje o texto do Almada obrigaria a salvaguarda e explicação. Ali pelo meio ele exclama, como insulto: "O Dantas é um cigano! / O Dantas é meio cigano!" O Dantas era então o símbolo do atraso da "elite" intelectual do início do séc. XX. 
Mais se colocaria a questão, se quiséssemos escarafunchar um pouco mais, de esclarecer quanto Almada Negreiros colaborou com o Estado Novo e se e quando e porquê se separou dele. 
Hoje nós (os que não pertencemos ao Chega) não insultamos os ciganos, não se deve. Tentamos sim ignorar que existem. 
Hoje gente como o Dantas é o que mais há. E gente como o Almada Negreiros, népia. 
Ninguém se manifesta, portanto não há razão para manifestos. 
Assim tristes estamos, nós que hoje somos ciganos e os ciganos que sempre foram ciganos.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

A Turquia é mais europeia do que pensamos.

Erdogan ganhou as eleições presidenciais turcas, numa segunda volta que acabou por ser pouco renhida. Não se fala aliás em fraude eleitoral, embora Erdogan controle os principais jornais, as televisões, as rádios. E os tribunais, e a polícia. Vamos por num mapa os resultados das eleições.



Como se pode ver Erdogan perdeu em Istambul, em Ankara e em Izmir, bem como no Curdistão turco. Mas a Turquia profunda deu-lhe a vitória.

Será este padrão estranho? Exclusivo da Turquia? Anti-europeu?

Vejamos as últimas eleições húngaras, que aconteceram em 2022. Orban melhorou os resultados anteriores, para surpresa de todos. E vejamos o mapa.



Orban aparece neste mapa com a cor castanho-merda enquanto a oposição é azul-clara. A oposição vence Budapest (que é 1/4 da população do país) e duas outras cidades, Szeged e Pecs. Mas a "Hungria profunda" afoga a votação mais urbana dando a Viktor Orban 53% dos votos. Não houve muitos protestos sobre uma eventual fraude, embora os votos da diáspora húngara fossem muito discutidos...

As eleições presidenciais polacas de 2020 forma muito discutidas por terem sido em plena pandemia e só com voto por correio. Apesar da completa parcialidade da televisão pública, nâo foi considerado pelos observadores internacionais existir qualquer evidência de fraude em grande escala. O populista Andrzej Duda ganhou na 2ª volta com a distribuição espacial de votos no mapa do país que se segue:

Aqui a oposição europeísta aparece de castanho e domina Varsóvia, Gdansk, Lodz e algumas zonas mais ocidentais. Também aqui a "Polónia profunda" decide o resultado, embora a evolução geográfica oeste-leste também dê que pensar. 

Vamos até à República Checa para terminarmos com uma nota mais optimista. Um candidato pro-europeu ganhou já este anos as Presidenciais, contra o populista Andrej Babis. Mas podemos ver neste mapa da 1ª volta que a Chéquia profunda resistiu enquanto o vencedor Petr Pavel arrasava, por ex.,  em Praga...


Moral da história: a Turquia não é mais do que um país da Europa Oriental... e o problemas nestas terras do Oriente é o país profundo e antigo que neles existe e que domina as contas e o que ele quer.