quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Alpe d'Huez.

Em setenta e nove Agostinho manteve-se na Flandria, “governado” por de Gribaldy. Tinham saído Pollentier e Kelly. Tinham ficado Maertens e Demeyer para o plano e Agostinho para as tarefas mais empinadas. Na primavera ninguém ouviu falar dele. Viajou até à Setmana Catalana com o seu companheiro Freddy Maertens em Março mas perdeu – com Maertens – 23’ logo no primeiro dia e pronto! Foi a sua pior Setmana Catalana e não a voltaria a correr. Correu depois alguns critérium’s e apareceu no Dauphiné em Maio, uma corrida que foi completamente dominada por Hinault. Sem grande alarde foi sexto. Seguiu-se o Luxemburgo onde Agostinho rodou e matou saudades da sua estreia com de Gribaldy dez anos antes: foi 14º. Depois a Flandria foi em toda a força para o Midi-Libre, que estava prometido à jovem estrela italiana Giuseppe Saronni, de 21 anos, recém-vencedor do Giro. Agostinho, 15 anos mais velho, ganhou a etapa rainha e terminou 2º a 13 segundos do italiano. Rolou no Tour de l’Aude – 21º - pequena prova por etapas francesa onde Hinault tentou ajudar um gregário seu, Villemiane, a ganhar a Moser e, já agora, humilhá-lo. Não conseguiu… Agora era a vez do Tour… e Agostinho repete o 3º lugar. Já contei esta história: o Tour voltou a iniciar-se nos Pirenéus. Uma cronoescalada no dia 2 colocou Agostinho em 3º ao ser 2º logo após Hinault. Depois 2 – para quê? – CR por equipas – tiraram 3’ a Agostinho e numa etapa em paralelo para Roubaix uma queda tirou-lhe 14’. Na 2ª cronoescalada foi terceiro e com a vitória no Alpe d’Huez, a tal vitória que lhe valeu uma placa comemorativa numa curva, recuperou até 5º. À frente, para além dos “monstros” Hinault e Zoetemelk, estava o holandês Kuiper e o super-gregário de Hinault Bernaudeau. Bernaudeau foi ultrapassado logo na etapa a seguir, e Kuiper no último contra-relógio. Desta vez Agostinho não começara o Tour como gregário de ninguém e acabara também só atrás dos dois únicos corredores que lhe eram superiores no Tour, Hinault e Zoetemelk. Este 3º lugar mais o 2º lugar no Midi-Libre, cada um pontuado por duas vitórias em etapa, eram um Agostinho como nunca se tinha visto antes. Agostinho tinha feito uma extensa preparação para o Tour com pouco esforço prévio. A equipa Flandria tinha belgas esforçados qb para se apresentar em todas as provas da primavera e não ter saudades do português. E este tinha respondido ganhando em setenta e nove sem espinhas onde no ano anterior Pollentier tinha sido expulso da prova. Lá vieram os critérium’s e o dinheiro. Depois Agostinho foi ao GP des Nations e não brilhou e em Montjuich foi décimo, embora ganhasse o CR em duo com Criquielion, um belga 14 anos mais novo do que ele e do que o conterrâneo van Springel, parceiro da vitória no Baracchi dez anos antes… enfim, o ano estava GANHO. Uma palavra para José Martins: a correr na equipa espanhola Moliner-Vereco de Miguel-Maria Lasa, durante todo o ano não se deu por ele. Voltaria em oitenta para a casa-mãe, o Coelima, para acabar a carreira, um corredor oito anos mais novo que Agostinho…

As estatinas e a solidão - parte 2.



Na mala não ia só dinheiro. Foi o que me disseram...

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Matéria dada? Não, só palavras.

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Manipulação cervical: posso?

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Mais do que sinais eu queria sintomas claros.

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A aorta vem antes da carótida. E no início está o coração.

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Esquece o coração. Vai à carótida.

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Estou à espera da recanalização expontânea.

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A vida parece estar boa para um que outro careca.

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Os mecanismos da erecção são estes: porque sim e porque não. A luz e o calor estão claramente envolvidos.

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Take home message: take me home.

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E tu vês tudo isso nos olhos dele?

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O açúcar, a gordura, o sal… o calor próximo, a luz intensa, a música alta…

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Estudemos as estatinas e a solidão.

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Sofro de uma disfunção culinária.

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Beware of heart mimics.

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Olhar para o lado, certo? E olhar para o lado certo.


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Nunca irmão. Talvez primo…

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Feridos pelo amor, sangrando pela amizade traída. Mas a família mata.

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Uma menção honrosa é uma forma de entrar em depressão.

As estatinas e a solidão - parte 1.

Ser passivo é uma opção?

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Double dummy. And again.

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Could I be your matching placebo?

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A medicina interna.

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Ontem à noite foi um erro gástrico.

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A fibrilhação anual foi ontem, se não me engano.

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And forever naive.

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Sou igual ao outros, não quero viver mais tempo do que tu.

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Ontem sangraste do nariz?

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E a ansiedade é evidente.

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 Esculturas, as colunas de som.

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Dormir é do mais útil.

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Era aqui a sala da interrogação.

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Um precipício. Uma oportunidade.

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Que bom seria outra vez uma discoteca.

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Utiliza a fotografia só para o bem.

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Há corpos que mobilizam.

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Um tecto falso: remover.

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Que inveja o cabelo daquele rapaz e ser ele rapaz.

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Os dados não estão todos publicados.

Sobre o que se segue.

Vou confessar uma coisa. Gosto de congressos. Congressos médicos, explico. Há sempre um dia que eu escolho para em vez de adormecer na sexta fila escrever pedaços das coisas que vou ouvindo, extractos, amostras, deixando que apareçam significados novos, ou os mesmos mas agora com mais relevo. Está bom de ler que o que eu acabo por escrever não tem nada a ver com a Medicina. Os meus amigos congressistas, gente letrada e que se leva muito a sério, diz coisas muito giras e que, retiradas do contexto, ganham, finalmente utilidade. Para mim, pelo menos.
O post a seguir resultou do último congresso em que participei. Consta que até fiz parte da organização e que apresentei um tema. Não se pode acreditar em tudo o que para aí se diz. Ah, quem fôr ao defunto “dêdêtê” facilmente detecta outros farrapos com origem em outros congressos. ps.: a piada final é que o que aparece no blog não foi o que se escreveu no congresso nem ainda a versão definitiva. Há aliás coisas que escrevi e que hoje por hoje eu não entendo porque não entendo... a letra!

 A work in progress com um toque de aleatoriedade... nice!

Para o Panteão é que vamos.

Eusébio vai para o Panteão Nacional. Um bom amigo meu disse: 'Agora só falta a N.S. de Fátima!'. Como alternativa sugeri-lhe a irmã Lúcia.

E pergunto eu: porque não o embaixador Aristides de Sousa Mendes?

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Spertiza?

Sobre a engraçada aliança do Syriza com um partido que acha que os únicos gregos que não pagam impostos são judeus, nada a dizer. Giro giro era domingo à noite a Mariana Mortágua garantir que a aliança do Syriza, qual fosse seria sempre à esquerda, e 2af ao almoço o Rui Tavares a fazer história e comparar os 'Gregos Independentes' ao PP de Manuel Monteiro, pedindo compreensão para o nacionalismo pan-helénico...
Sobre a engraçada aliança grega portanto só tenho a dizer que um ministro da defesa xenófobo é perigoso. E que apoiar o Putin, ó Mariana Mortágua...
Wait and see não é o mesmo que turn the blind eye...

domingo, 25 de janeiro de 2015

Os putos do Porto.

Os putos do F.C.Porto vieram depois do treino jogar às escondidas para o Dolce Vita. :-)

Estou em Atenas neste preciso momento.

Terá sido Churchill – sim, eu também falo dele, smiley face – a dizer que a democracia é péssima mas não há melhor. Hoje chegou a vez da Grécia demonstrar esta infeliz verdade. Nós tivémos a nossa dose – duas vitórias de Sócrates, a mais recente de Passos Coelho. As eleições na Grécia de hoje estão um grau acima. A análise da crise grega não foge à questão dos “europeus de cima” vs os “europeus de baixo”. Que Merkel precise deste discurso para ganhar eleições na Alemanha deve fazer-nos pensar. Que a nossa preocupação seja demonstrar que nós não somos “tão baixo assim” também. A Grécia economicamente sempre esteve um patamar acima de Portugal. Alguns recursos naturais, mais agricultura, mais pescas, uma frota mercante enorme, um turismo gigante, uma posição estratégica ao ser a antecâmara do Médio Oriente. Atenas e Istambul são “primas-inimigas”. As eleições são entre o Syriza, a esquerda que quer renegociar a dívida e parar com a epidemia de culpabilização grega, e a Nova Democracia, o PSD lá da zona, que cumpriu com quase tudo o que a Troika ditou, etc. Acho engraçado que se fale de “esquerda radical” ao falar do Syriza. Na realidade é na Grécia, neste momento a única esquerda. Lembro que em Portugal não se pode classificar o PS como partido de esquerda. Alguém sabe o que António Costa vai fazer depois das eleições? Nem eu. O charme pode comprar um país? Deus nos defenda da sua maioria absoluta. O Syriza é aquilo que o Bloco de Esquerda não conseguiu ser em Portugal, o veículo do descontentamento que procura uma alternativa. A Grécia era apenas “o pior de todos” e, efectivamente, bateu records de perda de poder de compra e de geração de desemprego. Portugal ao menos podia comparar favoravelmente com alguém – a Grécia – e o drama não foi tão fundo. E, claro, temos os olhos de Catarina Martins. Oh, como esta rapariga me mete medo. Sim, confesso, mete-me medo. Ah, pois, afinal é fácil, é só não votar nela! Já está. João Semedo, pelo contrário podia infundir toda a confiança do mundo mas… era como se não fosse ele as escrever os seus discursos, não era, a ir atrás do fogo “visual” da Catarina. Pobre homem… Os gregos vão hoje fazer uma experiência. Talvez – a par da jovem democracia tunisina – a experiência democrática mais interessante no Ocidente dos últimos dez. Era giro que funcionasse. PS.: sim, a Tunísia é Ocidente.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Women'secret & Tawny

Ontem o senhor A ofereceu-me um Porto Tawny Quinta do Noval num saco da Women'secret.
Será que o sr. A sabe coisas que eu não sei? Por via das dúvidas pedi-lhe umas análises.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Dos lenços que acabaram.

Ontem à noite, e quando digo noite quero dizer noite entrada, a minha filha pediu-me um lenço. De papel, que outros não usamos. Procurei, procurei. E, olha, não encontrei. Sempre havia por aqui lenços de papel. Quando os acabei?
Escondido algures deve estar um lenço de tecido que com, adivinho, hesitação foi-me oferecido em 1983.

Enxambelhado.

O que quer dizer? Aceitam-se apostas.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Agostinho, o gregário que vira (outra vez) estrela.

O ano de setenta e oito começou com algumas expectativas: Agostinho voltava a trabalhar com de Gribaldy, na equipa Flandria. A equipa Flandria era “a” equipa belga de Maertens e Pollentier, mas de Gribaldy repescara Agostinho e começara a trabalhar… Sean Kelly. O contrato de Agostinho estipulava o seu papel: ajudar Maertens nas montanhas do Tour. AGgostinho assumen uma entrevista a um jornal - queria ganhar dinheiro, aumentar a sua quinta. Por outro lado José Martins estava numa Teka bem mais humilde do que em 77 mas que mantinha um líder, Lasa. Agostinho começou a época no pódio da Volta à Corsega, 3º, sem grande barulho. Era uma estreia na prova. Depois desistiu precocemente no Paris-Nice. Na Setmana Catalana a Flandria mandou Kelly e deixou Agostinho em casa. Martins continuou a mal se fazer notar na Teka – foi 22º. Uma equipa do Lousa e do Coelima – bendito Coelima – andou por ali a fazer… umas coisitas. O melhor foi Firmino Bernardino, ex-companheiro de Agostinho no Sporting, 32º. O Lousa/Coelima fez melhor na prova espanhola seguinte, a Volta ao País Vasco, uma volta só de espanhóis e portugueses. Bernardino participou na fuga que decidiu os primeiros e conseguiu acabar em nono na geral (com o Sporting em 75 tinha ficado dez lugares abaixo). Conseguiu assim o seu único resultado interessante fora de Portugal de toda a carreira. Na Vuelta só participou Martins que terminou 20º, sem grande brilho. Agostinho possivelmente foi mesmo reservado por de Gribaldy para o Tour. Reapareceu na Dauphiné-Liberé, onde foi um discreto 23º. Na Suiça foi 21º. Mas qual seria a hierarquia numa equipa belga com Maertens e Pollentier? Agostinho sabia que era um gregário e não o chefe. No Tour iam portanto participar Martins e Agostinho. De Martins não havia muito a esperar. Preparara o Tour passeando no Tour de l’Aude e nos Valles Mineros, uma prova que ganhara 3 anos antes… A Flandria andou a entreter-se nas primeiras etapas do Tour com Maertens, Kelly e Bittinger. Na 1ª etapa de montanha a sério apareceram Pollentier e Agostinho – e este já subiu para sexto da geral. Mas à frente estava o belga Pollentier,o homem que tinha ganho antes o Dauphiné. Pollentier, dias depois, vestiu a camisola amarela ao ganhar o Alpe d'Huez para uma hora depois a despir: entregara para controlo anti-doping uma urina que não era a sua. Mas Agostinho não - ele ALIÁS não voltaria a ter um positivo até à sua morte na estrada. Agostinho, contratado para ajudar Pollentier e sobretudo Maertens na montanha, era agora o indubitável chefe de fila da Flandria, e manteve-se ao mais alto nível na montanha. Na 17ª etapa já era 3º. À frente apenas Hinault e Zoetemelk. A grande surpresa do Tour tinha portanto… 35 anos. Por outro lado Martins conseguira ser o 2º melhor Teka em 22º, mas nunca fizera sequer um top dez em nenhuma etapa. Agostinho - possivelmente como recompensa - não voltou a competir neste ano. Teve direito aos seus critérium's franceses de Verão, ganhou uns outros não, etc. Martins terminou o ano como começou, discretamente em 18º na Volta a Catalunha. E saiu da Teka.

Teka - 2.

77: en Andalucia começaram Martins pela Kas e Mendes pela Teka, sendo respectivamente 10º e 13º. Agostinho apareceu na Volta a Levante e foi 7º. Seguiu depois para se estrear na Tirreno-Adriatico, corrida que nunca tinha feito, onde foi 13. Chegou ao fim na Milano-Sanremo e voltou a Espanha para cumprir a sua sexta Setmana Catalana, onde foi 4º no meio de cinco belgas. Ganhou Maertens, a nova coqueluche. Mendes foi 21º. Martins reaparece com a Kas em Euskadi onde se mostra bastante mas termina 17º. Ganha a prova outro Kas, Gonzalez Linares… As equipas espanholas sempre se apresentaram na sua máxima força na Vuelta. Sintomaticamente Martins não foi escolhido para a Vuelta, ao contrário de Agostinho e Mendes na Teka… A Teka de 77 não era a Teka de setenta e seis. Agostinho no ano anterior só tinha a concocrrência de Aja. Em 77 a Teka tinha contratado Tamames, Elorriaga, Thaler, Miguel Maria Lasa e Pedro Torres. Agostinho perdeu quase 4 minutos - Mendes não… - logo na 3ª etapa e Gandarias, um seu gregário dizia aos jornais: “yo veo que estamos cuatro hombres solamente para trabajar, que los restantes son capitanes!”. Agostinho voltou a perder seis minutos na 9a etapa e foi assim até ao fim o 6º melhor… da Teka, mantendo-se sempre atrás de um Fernando Mendes mais regular. Para o fim da Vuelta Agostinho acordou, entrou em fugas, andou com os primeiros mas o estrago estava feito. A Teka tinha feito 2º - Lasa – e 3º - Thaler – na Vuelta. Agostinho? Sobre os sinais de vida do ano passado pesava uma interrogação e começava a falar-se da idade de Agostinho: 34 anos. Agostinho não voltaria à Vuelta. E até hoje não voltou a haver um português no top dez da Vuelta. Os três portugueses reencontraram-se (castigados?) na pequena Volta aos Valles Mineros, prova asturiana de Maio que Martins já ganhara em 75. Este ano Martins apenas ganhou umas metas volantes. Mendes foi 2º como 2º tinha sido na etapa decisiva, e Agostinho 4º, tendo ganho as duas etapas do 3º dia. Nazabal tinha sido o vencedor, sendo da Teka. Aproximava-se o Tour… como vingança pode dizer-se que a equipa escolhida pela Teka para ir ao Giro passou ao lado da corrida… Os mesmos três corredores portugueses vão ao Dauphiné Liberé. E… Agostinho ressuscita. Trepa com o s melhores e termina 4º, apenas atrás do jovem Hinault - a sua 1ª grande vitória – Thévenet e van Impe. Mendes foi um honroso 13º e Martins 24º, ambos com bons “apontamentos”. Convictamente, Agostinho fôra o melhor “espanhol”. As equipas espanholas esqueceram-se do Midi-Libre e só a Kas foi à Suiça onde, ao contrário do ano anterior, Martins terminou num discreto décimo oitavo. O Tour… o Tour decidiu começar nos Pirinéus e na 2ª etapa – 253 km e o Aspin, o Aubisque e o Tourmalet para subir – Agostinho perdeu dezoito minutos para um grupo dianteiro de 14 onde seguia… Gonzalo Aja. Daí para a frente Agostinho foi recuperando tempo, fugiu numa etapa onde depois acabou por levar 10’ de penalização por doping – Mendes também , enfim, terminou ainda assim 13º, ao menos à frente de Aja que se veu progressivamente a apagar. Agostinho fôra o melhor “Teka”, mas sem brilho. Martins conseguiu um bom 16º – e foi o 2º Kas, atrás de Galdos – e Mendes 27º. Agostinho voltara ao Tour, fizera uns foguetes mas… Refira-se que o doping de Agostinho foi muito contestado… pelos espanhóis! Agostinho e Mendes foram suspensos por um mês… e esse ano não se ouviu falar mais deles. Martins foi 11º nos 3 Dias de Leganés e ganhou a Clásica de Sabiñanigo, uma prova com boa reputação em Espanha. No entanto o facto de ter sido utilizado para o Trofeo Masferrer, prova de abertura da Volta a Catalunya mas na própria Volta mostrava o seu lugar na equipa: nenhum. Em setenta e oito Martins rumou para a Teka, Mendes voltou a Portugal, para… o Porto! E Agostinho? 77 fôra o 1º ano em que o seu melhor lugar tinha sido numa prova de uma semana, o prestigiado Dauphiné...

Teka - 1.

Em 75 Agostinho, Mendes e Martins corriam em equipas portuguesas. Em setenta e seis correriam os três por equipas espanholas. Martins foi correr para a “Kas”, Agostinho e Mendes para a”Teka”. O Sporting fechara as portas, o Benfica e o Coelima deixaram de viajar ao exterior. A “Kas” era mais rica e mais reconhecida no continente. Afinal, tinha sido a equipa de Fuente. Por isso Martins começou o ano no Paris-Nice, onde foi 20º. Mendes e Agostinho fizeram a primavera peninsular, isto é, Andalucía e Levante. A Volta à Andalucía foi corrida anonimamente por ambos. Levante não. Agostinho lutou pela vitória e terminou terceiro. Ganhou Aja, um companheiro de equipa, um tal que lhe tinha ficado também à frente no Tour de 74. Agostinho queixou-se de ter sido discriminado pela equipa. Encontraram-se os três na Setmana Catalana, então a prova espanhola de primavera com mais prestígio. Agostinho terminou sexto, mas Aja terminou segundo, atrás de Merckx – a última prova em etapas que Merckx ganhou. Por seu lado Martins foi sétimo mas Pujol, uma esperança espanhola, também da Kas, tinha sido quinto. Seguiu-se Euskadi, menos competitiva, onde Agostinho fez terceiro, enquanto Martins e Mendes não brilharam. E chegou a Vuelta. Agostinho lutou pela vitória até à última semana e chegou a ser primeiro alguns dias. Numa etapa de montanha perdeu muito tempo. Terminou sétimo e a vitória sorriu a um "Kas", Pesarrodona. Esta Vuelta tinha sido mais competitiva que a de 75: Martins foi 15º, Mendes 20º. Mendes e Agostinho seguiram depois para Itália. Agostinho desistiu – doente? – quando era 11º, Mendes seguiu e com pezinhos de lã terminou 18º. Ainda hoje Mendes é o único ciclista português a ter terminado as três provas de 3 semanas, Vuelta, Giro e Tour, dentro dos primeiros vinte da classificação geral. Agostinho e Mendes desapareceram do radar e só voltaram em Setembro para competir sem brilho na Volta à Catalunha. Martins, pelo seu lado, continuou a ser apenas mais um no colectivo mais forte do circo velocipédico europeu. A Kas tinha perdido Fuente, mas ganhara a Vuelta com Pesarrodona, e tinha também Lopez Carril, o 3º do Tour de 74, e Galdos, que tinha sido 2º no Giro de 75. Martins foi 16º no Dauphiné mas brilhou na Suiça, ao ser 4º, melhor do que Agostinho 4 anos antes. À sua frente Pesarrodona… No Tour Martins foi 12º - e o 4º melhor da sua equipa – à sua frente Galdos em sexto, Lopez Carril 10º, Pesarrodona 11º... Ao falar de Agostinho esqueci-me de uma coisa: ele voltou a ser convidado para terminar a época em Montjuich, ele e… José Martins. Agostinho foi 3º, Martins 13º. A hierarquia portuguesa fôra restabelecida. Curiosamente no CR de duos que Montjuich também englobava, a Kas foi 3ª – Pesarrodona e Martins – e a Teka apenas 5ª – Agostinho e Aja. Agostinho estava vivo/melhor, Martins bem mas afogado numa equipa de “ases”, Mendes a descer para o quase anonimato. Em 77 os três seguiriam nas mesmas equipas, com resultados diferentes.

A ano que teve muita gente mas Agostinho nem por isso.

Como já escrevi antes, 1975 foi um ano mau na carreira de Joaquim Agostinho, talvez o pior de todos. No entanto 1975 talvez tenha sido um dos anos de maior sucesso do ciclismo português enquanto todo colectivo. E Isto porque vários ciclistas portugueses, representando equipas portuguesas, estiveram em destaque em várias provas velocipédicas de relevo. E a equipa mais activa todo o ano foi a equipa do Coelima. Desde pelo menos 72 a equipa patrocinada pela Coelima fazia várias provas do calendário espanhol de ciclismo, no geral com resultados médios a maus. Em 74, a história foi diferente: o chefe de fila era um espanhol de valor, Agustín Tamamés, mas quem mais brilhou foi José Martins, um rapaz de Fafe então com 24 anos. Já referi o top 5 na Volta a Catalunha. Foi também 3º na Volta às Asturias, 4º na Volta a Mallorca e 13º na Volta ao Levante. Felizmente ninguém reparou nele e continuou no Coelima em 75. Em 75 Martins foi 7ª na Volta ao Levante, 10º na Setmana Catalana, 5º no País Vasco, 8º na Vuelta, ganhou Valles Mineros (uma pequena corrida de etapas nas Astúrias), foi 2º em Aragon e 3º na Volta a Catalunya (melhorando o 5º do ano anterior). Outros corredores do Coelima portaram-se bem: Manuel Rego foi 13º na Setm Catalana, 10º em Euskadi e 20º na Vuelta. Joaquim Andrade foi 26º em Levante, 24º na Vuelta e 10º em Aragón. João Sampaio foi 5º nos Valles Mineros. Por outro lado Fernando Mendes continuou uma meritória carreira internacional com o Benfica: 15º na Volta ao Levante, 6º na Vuelta (menos brilhante que Martins mas mais consistente), foi 9º nos Valles Mineros, 5º em Aragón. Correu “emprestado” a uma equipa holandesa o Tour de France mas abandonou cedo. O Benfica tinha outros corredores interessantes, nos quais se deve destacar José Madeira, 14ª no Levante, 12º na Vuelta e 4º nos Valles Mineros, António Martins (não parente do José), 13º na Vuelta, e o pai da Vanessa Fernandes, Venceslau, 12º em Levante. Volto a referir que estas duas equipas, o Coelima e o Benfica, ao contrário do Sporting, conseguiam posições interessantes na classificação colectiva. E o nunca repetido facto de se apresentarem 5 portugueses nos 20 1ºs lugares da Vuelta. É um facto que a presença de estrangeiros neste ano na Vuelta não foi extensa mas mesmo assim, por uma vez, duas equipas portuguesas dialogaram de igual para igual com o exigente pelotão espanhol.

BIC - 2.

Em 74 Agostinho cumpriu o prometido e não correu em Portugal. Mantinha-se na equipa BIC… de Luis Ocaña. E voltou a iniciar o ano no Paris-Nice. Ocaña começou aqui um ano que seria de calvário, multiplicando as quedas, as bronquites e as desistências. Nunca voltaria a ser o mesmo. Depois de Ocaña desistir do Paris-Nice Agostinho apareceu. Foi segundo na cronoescalada do Éze e segundo na etapa da subida a La Turbie. Mas acabou 25º. Na Setmana Catalana Ocaña voltou a implodir. E Agostinho, desta vez mais atento, ficou em terceiro logo atrás de Zoetemelk – a primeira metade de 74 assitiu ao melhor Zoetemelk de sempre – e Merckx. E chegámos à Vuelta. Ocaña bem tentou, mas aqui e ali ia abaixo. Acabou por desistir. Outro espanhol, o asturiano Fuente, dominou a montanha… até Covadonga. Aqui ganhou Agostinho, que assumiu a liderança da BIC. Fuente era o chefe de fila da poderosa equipa espanhola KAS. Tremeu nas últimas etapas, mas a equipa segurou-o. E Agostinho confiou no contra-relógio final para dar a volta à classificação e ganhar a Vuelta. Falhou… por 11 segundos. Os jornalistas portugueses insinuaram tramóia, que não terá havido. Mas Fuente nunca ganhou mais nada de jeito. Salvaguardando as distâncias, este foi o 1º de três pódios de Agostinho em voltas de três semanas. Fernando Mendes, de quem já falámos, ficou num óptimo 11º lugar, como melhor classificado duma equipa mista Benfica-Coelima. Na preparação para o Tour Agostinho foi dos poucos favoritos que não caiu no Midi-Libre, terminando discretamente em 8º. Caíram Zoetemelk, van Impe, Ocaña viria a cair depois com gravidade no Tour de l’Aude… a concorrência no Tour estava a ficar escassa… que poderia fazer Agostinho? O Tour de 1974 foi um Tour onde um Meckx já não Super-Merckx mais ainda bom quanto-baste superou um rejuvenescido Poulidor e outro trepador espanhol da KAS, Lopez Carril. Agostinho andou lá por cima mas nunca brilhou. Foi sexto quando, por pedigree, devia ter sido terceiro. Não há mais provas relevantes corridas por Agostinho neste ano. A BIC – em litígio com um Luis Ocaña doente – fechou as portas. Agostinho finalmente correu os critérios de verão de França, ganhou alguns, outros não, ganhou o seu dinheiro sempre. O que seria dele em 1975? Curiosamente um outro português mas de 24 anos, José Martins, representando a portuguesa Coelima, brilhou inesperadamente na Volta a Catalunya e terminou em 5º lugar, com duas vitórias em etapa. Aqui ganhou Thévenet, que Agostinho tinha superado na Vuelta, e Ocaña terminou em 10º. Merckx fez o pleno sendo Campeão do Mundo, com Poulidor outra vez 2º. Merckx continuava a ganhar embora sem arrasar. O Giro fora ganho por segundos a um novato de nome Baronchelli. Que ano mais estranho este, como seria 75?

BIC - 1.

No início de 1973 que expectativas existiriam sobre Agostinho’ Possivelmente não muitas. Fora de Portugal, entenda-se. O mundo do ciclismo tinha os seus "ases" e, ao fazer a lista, o nome de Agostinho viria um pouco para trás na lista. À frente Merckx, o “monstro”, o “canibal”. Depois Ocaña, o único a fazê-lo tremer em 71, um 72 menos conseguido. De Espanha também um trepador brilhante, Fuente. Em França o veterano Poulidor, o jovem (e lesionado) Guimard, o brilhante (e inconstante) Thévenet. A Itália tinha o já veterano Gimondi. A Holanda o tímido Zoetemelk. A Bélgica acrescentava o veterano van Springel, e o trepador van Impe, um achado estranho num país plano. A Suécia fornecera Gosta Pettersson. Nas periferias astros menores: pela Dinamarca Mortensen (outro ciclista BIC), pela Noruega Knudsen. A Suiça e o Luxemburgo, fornecedores de campeões, estavam em fase off. Agostinho era portanto mais um na equipa BIC de Ocaña. Nem o estatuto de nº 2 estaria assegurado. Esclareça-se, a equipa BIC era francesa, Ocaña vivia em França, em França tinha-se feito ciclista desde novo. A época de Agostinho voltou a começar no Paris-Nice. Sem grande aparato foi 15º. Picou o ponto na Milão-Sanremo e depois foi 5º na Subida a Arrate, prova espanhola que precede a Setmana Catalana. Aqui Ocaña ganhou a Merckx, sendo Agostinho mera testemunha, acabando 28º. Na Vuelta a España Merckx, pelo contrário, conseguiu resistir a Ocaña e ganhar. Agostinho acabou 7º mas quase por arrasto, e foi criticado pelos espanhóis por não ajudar Ocaña como devia a destronar Merckx. Na preparação para o Tour Agostinho foi 13º no Dauphiné (que Ocaña ganhou) e já se mostrou mais, e fez 5º no Midi-Libre, onde teve mais espaço de manobra ao estourar Ocaña e abandonar. Era a 2ª prova de uma semana onde Agostinho fazia top dez. E chegámos ao Tour. O ciclismo profissional era e é um espectáculo e um negócio. E é um desporto. Onde o segundo era e é... o primeiro dos últimos. Em 73 os rivais Merckx e Ocaña passaram quase todo o ano a evitar-se. Merckx não foi ao Tour oficialmente porque a sua equipa, a italiana Molteni, não quis. Fez a Vuelta e o Giro – e ganhou as duas provas. Para Ocaña ficou o Tour, que ganhou folgadamente, destroçando qualquer oposição. Agostinho era “apenas” mais um gregário de Ocaña mas… no seu Tour, não conseguiu evitar subir razoavelmente e brilhar no contra-relógio. Ganhou aliás um destes. Terminou – outra vez – oitavo. Outro português, Fernando Mendes, que já tinha dado boas indicações – até desistir – em 72, terminou 18º, por outra equipa estrangeira, a belga Flandria. Havia de fazer ainda melhor. Terminara em 33º o jovem José Martins, emprestado pelo Coelima à equipa holandesa Canada Dry, de quem voltarei a falar. Agostinho fora pela 6ª vez consecutiva Campeão de Portugal de Estrada. Ganhou a Volta a Portugal mas foi desclassificado por doping. Jurou – e cumpriu – nunca mais a correr. Terminou a época brilhando na Volta a Catalunya – andou pela frente até adoecer e desistir. Picou o ponto em Montjuich sendo 6º. Por outro lado o chefe Ocaña terminou 73 em esforço, perdendo provas, ao contrário de Merckx. Como seria 74?

1972, o ano de todos os enganos.

O ano de 1972 foi um ano chave na carreira de Joaquim Agostinho. Não foi um bom ano. Agostinho manteve-se com de Gribaldy. Desta vez a equipa chamava-se Magniflex. E Agostinho começou o ano no Paris-Nice. E caiu. Depois fez o circuito das Clássicas, com escasso ou nenhum proveito. Milano-Torino, 27º. Gent-Wevelgen, 97º, Liege-Bastogne-Liege, 17º. Fleche Wallone 29º. O objectivo destas participações não é discernível. Agostinho resistia às duras condições destas clássicas. Mas não tinha ponta final nem estratégia para as ganhar, sequer discutir os primeiros lugares. Rodagem? Apoio a outros elementos da equipa? Gribaldy nunca tinha usado Agostinho para tal coisa. Perda de tempo? Talvez. Agostinho reaparece no seu terreno com a primeira participação na Vuelta a España, então ainda em fase de afirmação como prova de primeira linha. Mostra-se nos primeiros dias mas depois tem uma queda muito grave que o atira para o Hospital um mês e lhe terá condicionado o resto do ano. Recuperou a tempo de fazer a Volta à Suiça, onde ganhou a etapa rainha e o contra-relógio, fazendo quinto – a 1ª vez que Agostinho consegue um top dez numa prova de topo de 1 semana. O objectivo era o Tour portanto esta rodagem prometia. O Tour de 72 foi uma prova muito diferente da do ano anterior. Merckx dominou-a por completo, enquanto Ocaña se mostrou débil e acabou por abandonar. Agostinho esteve discreto na primeira metade até numa etapa escapar com van Impe na montanha e fazer segundo – para depois acusar doping. Agostinho voltou a fazer no fim oitavo – o seu lugar mais frequente, afinal... e os dez minutos de penalização pelo doping – era assim naqueles tempos, não lhe mudaram o lugar, pois tinha catorze minutos de avanço sobre o nono... Agostinho fôra portanto o último dos primeiros... Agostinho não terá ficado 100% contente, para mais quando uma jovem revelação da sua própria equipa, o trepador francês Mariano Martinez (de origem espanhola) – lhe ficara à frente, em 6º. Era um amigo, tinham partilhado o mesmo quarto, mas mesmo assim... O resto da época foi mais um Campeonato e uma Volta em Portugal, um Critério em Sintra onde curiosamente Agostinho venceu a Zoetemelk (!), um Campeonato do Mundo corrido com muito calor onde Agostinho foi... 42º e último! E a escalada a Montjuich onde mais uma vez ficou à porta do pódio, em quarto. Consigo adivinhar a desilusão. Por isto ou por qualquer outra razão – dinheiro sendo também uma boa hipótese – Agostinho abandonou Gribaldy e em 73 passou para a equipa BIC.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Agostinho, ano 3.

O ano de 71 começou internacionalmente para Agostinho outra vez em Espanha, em Março, na Setmana Catalana, integrado num misto do Sporting e da equipa de Gribaldy, este ano patrocinada pela Hoover. Agostinho furou duas vezes na etapa rainha e sobreviveu qb para um 20º lugar. Reaparece em Maio indo pela primeira vez à volta à Romandia. A volta à Romandia decorre na Suiça de expressão francesa e antigamente servia para preparar o Giro de Italia. A participação também foi discreta, terminando em décimo sexto. A aproximação ao Tour passou outra vez pelo Dauphiné Liberé. Agostinho voltou a começar bem, fazendo pódio na 1ª etapa, mas alguma irregularidade atirou-o para 17°. As corridas de uma semana ou menos complicavam a vida a Agostinho, um corredor a quem quase sempre uma etapa saia mal. Em três semanas havia tempo para recuperar e voltar lá acima, numa semana não. E chegámos ao Tour, o terceiro. O Tour de 71 pertence à dezena de Tours mais importantes da história do ciclismo de estrada. Nele Merckx foi dominado por Ocaña, até que Ocaña caiu. Merckx acabou por ganhar mas ficaram sombras sobre a sua vitória, nomeadamente nas montanhas. E Agostinho? Esquecendo Ocaña, caído, Agostinho foi o 2° melhor contra-relogista do Tour, só atrás de Merckx, e foi o 5° melhor trepador. Acabou em 5°, a sua melhor classificação de sempre e a que ficou como a melhor até setenta e oito. À sua frente só vencedores do Tour: Merckx, Zoetemelk, van Impe, Thévenet. Isto, no mundo de hoje, equivaleria a um Tour onde tivesse caído Contador e à frente de Costa – para fazer o paralelismo – só aparecessem Froome, Nibali, Quintana e Valverde. Agostinho fora top dez em nove etapas e fizera segundo no contra-relógio final e terceiro numa chegada de montanha, à frente de Merckx. Mais uma vez Agostinho voltou à terrinha para ganhar a Volta, e depois, no fechar da época, foi terceiro em A Travers Lausanne, 4° em Montjuich e 4°no GP Lugano, uma prova de Contra-Relógio.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Agostinho, ano 2.

O músico tem sempre o problema do segundo disco. Agostinho teve o problema do segundo ano. Em 1970 Agostinho manteve-se sob a batuta de Gribaldy na Frimatic e na primavera foi “circular” para Espanha. Começou pela Volta Ciclista a Mallorca, onde foi sexto e sprintou com os melhores, coisa estranha, capricho de juventude. Depois iniciou a Setmana Catalana de Ciclisme, então uma das corridas de etapas mais concorrida da primavera. Ganhou a primeira etapa escapado e depois, indisposto, desistiu. Não volto a conseguir detectar actividade ciclística de Agostinho até finais de Maio. Na segunda quinzena de Maio Agostinho fez o seu primeiro Dauphiné Liberé. O Dauphiné é uma carreira alpina de uma semana que usa muitas das montanhas do Tour. Ganha o Dauphiné quem quer ganhar o Tour mas não o Giro, que então coincidia. Seria ganho por Ocaña, que antes ganhara a Vuelta. Agostinho não se fez notar a não ser no contra-relógio, onde foi 4º. Depois seguiu para o Midi-Libre, corrida também francesa de montanha mais suave. Agostinho esteve mais presente mas perdeu-se em algumas fugas e cortes, terminando 14º. Agostinho voltou a Portugal para ser outra vez Campeão. E chegámos ao Tour. Já sabiam de Agostinho, estavam avisados. Agostinho não subiu tão bem, mantendo apenas uma boa prestação no contra-relógio. Terminou 14º. A única vez que fugiu a sério levou um companheiro de equipa, o dinamarquês Morgens Frey, a reboque. No fim este passou-o, coisa corrente, claro, mas cruel de acontecer entre colegas de equipa. Agostinho atirou-o contra as barreiras e foi desclassificado. Uma vez mais Agostinho voltou a Portugal para ganhar a Volta. O fim da temporada forneceu, para melhorar a moral, 3º's lugares na subida ao Puy de Dome, atrás de Merckx (2°) e, em Montjuich, 3º também atrás de Merckx e Ocaña. Como seria o ano 3?

Agostinho, o ano de 69.

O ano de 69 foi realmente o ano em que Agostinho se apresentou ao mundo. Em Portugal e no Sporting foi ganhando todas as provas em que entrava. Era conhecido pelo “Quim Cambalhotas” porque fartava-se de cair. Mas ganhava na mesma. Na Frimatic de Gribaldy foi primeiro “treinar” para a Volta ao Luxemburgo para depois avançar para o grande desafio, a Volta a França. A Volta ao Luxemburgo é um corrida de pouco menos de uma semana que, na prática, é uma sucessão de etapas com relevo variável mas não muito duro – o Luxemburgo não dá para mais - e que pode – ou não – ter um contra-relógio para “alargar” as diferenças. A sua localização no tempo – aproximadamente um mês antes do Tour – faz dela uma alternativa para preparar o Tour, sendo as outras alternativas a Volta à Suiça. o Dauphiné e o extinto Midi-Libre. A Volta ao Luxemburgo já foi, portanto, corrida por Merckx, Hinault, Armstrong. Em sessenta e nove foi Agostinho. A competição então presente era sobretudo de roladores. Ganhou Peter Post, um holandês de boa casta, porque Agostinho numa etapa se distraiu - ainda não sabia da poda - e falhou um corte no pelotão, perdendo tempo. O contra-relógio ganhou-o com boa vantagem, o primeiro de muitos. Agostinho “dera boas indicações” , como se costuma dizer. O Tour de 69 foi o Tour da há muito anunciada “entrada” de Merckx em França. Merckx, hoje unanimemente considerado o maior ciclista de todos os tempos, ganhara categoricamente o Giro de Itália em sessenta e oito – a sua primeira vitória em corridas de três semanas – e fôra polemicamente expulso do Giro de 69 por doping. Merckx foi para este Tour decidido a arrasar a competição e assim fez. E Agostinho? Ninguém o conhecia e a equipa de Gribaldy era relativamente modesta. Um dia arrancou e ganhou uma etapa. Outro dia arrancou outra vez e, apesar de agora o pelotão – Merckx e os demais – reagir já com preocupação, voltou a ganhar. As descrições dos jornais da época são deliciosas. A força de Agostinho saltava à vista, a sua falta de estilo também. Escrevia quem viu que cada curva (mal) feita era ou parecia uma queda iminente. A segunda vitória foi imediatamente antes do início da grande montanha, e aí Agostinho pagou o esforço, atrasando-se. Porém no resto do Tour ele conseguiu subir com os primeiros e voltar a mostrar as suas qualidades de contra-relogista. Terminou oitavo – e foi considerado unanimemente a revelação da prova – isto porque a vitória de Merckx já estava prevista. Merckx terá dito: “quando vejo Agostinho a ir para a frente, ataco eu, antes que ele ataque.” O que terá surpreendido o ciclismo terá sido o aparecer assim do nada – e já com vinte e seis anos – de um corredor tão bom a rolar como a subir. Fazendo umas continhas "minhas" Agostinho foi o nono melhor contra-relogista e o nono melhor trepador – não indo aos pontos mas aos tempos nas etapas mais empinadas - de 69. No conjunto deu no que deu. Depois do Tour Agostinho podia ter ficado por França a ganhar dinheiro nos "criteriums" de verão, como todos os outros. Preferiu voltar a Portugal para ganhar a Volta, a primeira que ganhou e a primeira que depois perdeu por doping. Foi assim todos os anos até 73, para grande prejuízo monetário seu, depois zangou-se e não voltou à Volta – quando perdeu a 2a pela mesma razão. Antes do Tour tinha ganho o Campeonato de Portugal - no total foram seis anos seguidos, até 73 também. Acontecida a Volta, Agostinho voltou a França e ao circuito internacional para curar as mágoas e foi outra vez 8° em Montjuic - Barcelona, 5°na similar "A Travers Lausanne", 5° no GP des Nations, então o campeonato do mundo “oficioso” de contra-relógio – onde caiu e não terá gostado, só lá voltou mais uma vez, e terminou o ano com uma vitória, no então muito conhecido Trofeo Baracchi, em Itália, uma prova de CR em dupla, onde correu com um outro grande ciclista belga, Herman van Springel. Para enquadrar bem esta vitória, o 2° par tinha o dinamarquês Ole Ritter, recordista da hora, e o 3° par era constituído pelo italiano Boifava e… Merckx. Agostinho tinha chegado ao ciclismo pela porta grande e ia demorar quinze anos a despedir-se dele, da forma que sabemos. PS: a palavra doping apareceu aqui duas vezes. Nestes tempos antigos o doping era… estimulantes. Agostinho foi apanhado quatro vezes, duas em Portugal e duas em França. Este doping, usado praticamente por todo o pelotão, era de outra “grandeza” comparado com o de Armstrong e cia. Merckx também foi "apanhado", Zoetemelk, Gimondi... A frase que então se usava era “não se consegue fazer de um burro um cavalo de corrida” e, à parte todos os riscos inerentes e que chegaram a matar ciclistas, era verdade. Os tempos da EPO vieram desmentir completamente esta frase.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A sério?

Talvez não seja esta a fotografia artística mais adequada para estar na parede de um hospital.

O Mercado Comum.

Ontem mataram 12, hoje as bolsas europeias estão em alta.

Camilo Lourenço e o Salário Mínimo.

É numa humilde sala, sem quaisquer sinais de riqueza, que Camilo Lourenço critica a subida do Salário Mínimo Português.
Obsceno.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Georges Wolinski, 1934-2015

Georges Wolinski foi um dos cartoonistas assassinados hoje de manhã na sede do Charlie Hebdo em Paris por radicais islâmicos. Radical ele mas no bom sentido, iconoclasta, rebelde, grande prémio de Angoulême em 2005 e júri convidado do Porto Cartoon, Wolinski pertencia à minha memória do despertar para os comics e o cartoon nos anos oitenta. Para ele não havia limites, porque eles não devem existir. Choro os doze mortos e choro Georges Wolinski. É uma guerra, efectivamente. A França está a pagar um preço muito pesado pelo seu passado colonial. O terror não está à porta do Ocidente: está cá dentro. O espaço de Schengen está em cheque. Wolinski não merecia fazer parte disto. Ninguém aliás merece. A imagem que acrescento é de 86 e era um comentário "directo" à situação política francesa dessa época.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Quando tudo realmente começou, ou talvez não.

Os sites divergem sobre o ano de nascimento de Joaquim Agostinho: 42? 43? O certo é que terá sido em 68 que, na sequência de alguém no Ultramar - Moçambique - ter reparado que ninguém como ele entregava - de bicicleta - as mensagens mais depressa, terá sido em 68 que, repito, Agostinho foi convidado a treinar com a equipa do seu quase vizinho João Roque, o Sporting. Rapidamente deu para perceber que Agostinho era melhor do que eles todos. Nos anos sessenta o ciclismo português, embora sem grandes figuras que brilhassem no exterior, era extremamente popular, e a Volta a Portugal em Bicicleta era um acontecimento anual de grande impacto, ou não fossem as equipas mais importantes o Porto, O Sporting e o Benfica. Havia ainda as equipas de entusiastas de sempre, o Sangalhos e o Tavira, e as pioneiras associadas a empresas, lembro-me principalmente da Coelima, mas também havia a Ambar! Agostinho fez a 1a Volta a Portugal em Bicicleta em 68 e perdeu-a por poucos segundos para o benfiquista Américo Silva. Foi - para o fim do ano - numa comitiva do Sporting - ganhar um dinheiro extra correndo a Volta Ciclista a São Paulo, no Brasil, e ganhou-a. Estava a assistir o treinador de ciclismo francês Jean de Gribaldy, e o resto é história. Apesar de amador antes fora ao Mundial de Estrada, onde provocou a escapada que deu a vitória ao italiano Adorni. E ainda foi convidado para a então já famosa escalada de Montjuich, em Barcelona, um conjunto de cronoescalada e etapa em linha na mesma subida a acontecer no mesmo dia e que "fechava" a época de 68 e que foi ganha por Poulidor com Ocaña em segundo. Agostinho foi oitavo. A escalada a Montjuic teria a presença de Agostinho mais oito vezes, duas resultando em pódio.

Do ciclismo.

Há mais de um ano comecei a fazer contas sobre ciclismo. Antes tinha feito sobre automobilismo e depois sobre motociclismo. Os últimos posts de "dêdêtê" já metiam alguma coisa disso. Contas é bom. Ocupam a mente e os dedos. Queimam tempo. E já passou mais de um ano. Onde perdi anéis e dedos. Mas fiquei eu. A 20 de Janeiro começa uma nova temporada ciclística na Austrália. Vou entreter-me a escrever sobre ciclismo. Para que não se percam mais anéis, dedos. O ciclismo é, a seguir ao futebol, o mais popular dos desportos. Para praticar um basta uma bola, para o outro uma bicicleta. Em ambos só a vitória interessa, e o ciclismo tem a vantagem de - ou pelo menos aparentar - ser mais individual. Os heróis são óbvios, as virtudes e defeitos transparentes. Desporto de imenso sacrifício, o doping tornou-se um vício que, ao apagar aquela noção de transparencia, colocou a popularidade do mesmo em risco. Vivemos tempos de recuperação. Enquanto não há mais, vou entreter-me por aqui. Nota: os posts sobre ciclismo não vão para o Face. Nem lógica tinha.