terça-feira, 31 de maio de 2016

O Pacheco.

SEGUNDO BALCÃO DOS BOMBEIROS


Nesses tempos eu já lera as Brontë mas
como era um adolescente retardado
passava a noite em atrozes dilemas
que mais vale: amar, ser doutrem amado!

ainda não descobrira o simples disto
nem o essencial disto que é tão claro
se tudo no amor vem do imprevisto
deitar regras ao jogo pode sair caro

por isso amo e sou ou não benquisto
depende do instante bem ou mal azado
amor tem alegria, tem enfado
o happy end é coisa dos cinemas





Fernando Assis Pacheco

in Poemas com Cinema, Assírio & Alvim.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Os 42 álbuns de música que eu prefiro.

A lista está aqui e hoje não a vou explicar. Resultam do muito que eu ouvi estes anos todos, sobretudo desde 1980 até há... poucos anos. Não é uma avaliação, é uma escolha... pessoal: vícios privados com as ocasionais virtudes. Agora estou em pousio. Ou talvez não, devo ter uns vinte a trinta CD's ainda por ouvir!

-1970
The Beatles – Revolver - 1966
Amália Rodrigues – Com Que Voz - 1970
Neil Young – After The Gold Rush - 1970
The Doors – In Concert – 1970+
1971 - 1980
Carlos Paredes - Movimento Perpétuo - 1971
Stevie Wonder – Innervisions - 1973
Tom Jobim e Elis Regina – Elis & Tom - 1974
Tom Waits – Nighthawks At The Diner - 1975
Banda Do Casaco – Coisas Do Arco Da Velha - 1976
David Bowie – Station To Station – 1976
Chic – C’est Chic - 1978
Talking Heads – Remain In Light - 1980
1981 -1990
Echo And The Bunnymen – Heaven Up Here - 1981
Penguin Cafe Orchestra – Penguin Cafe Orchestra - 1981
José Mário Branco – Ser Solidário - 1982
The Smiths – Best – 1983-7
Robert Wyatt – Old Rottenhat - 1985
Working Week – Working Nights - 1985
Caetano Veloso – Totalmente Demais - 1986
Prince – Parade - 1986
David Sylvian – Secrets Of The Beehive - 1987
Billy Bragg – Workers Playtime - 1988
Prefab Sprout – Jordan: The Comeback - 1990
1991 -2000
Marisa Monte – Mais - 1991
Wim Mertens – Strategie De La Rupture - 1991
Nicolette – Now Is Early - 1992
Bjork – Debut - 1993
U2 – Zooropa - 1993
Portishead – Dummy - 1994
Underworld – Dubnobasswithmyheadman - 1994
DJ Food – Refried Food - 1996
Ryuichi Sakamoto – 1996 - 1996
Alpha – Come From Heaven - 1997
Erykah Badu – Baduizm - 1997
The Sundays  - Static & Silence - 1997
Elvis Costello & Burt Bacharach – Painted From Memory - 1998
Frederic Galliano Electronic Sextet – Live Infinis - 1998
Herbert – Around The House - 1998
The Cinematic Orchestra – Motion - 1999
Extended Spirit – Solid Water - 1999
2001 - hoje
Sofa Surfers – Sofa Surfers - 2005
Sufjan Stevens – Come On Feel The Illinoise - 2005

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O bambuzal de Águeda.

Águeda tem um parque muito interessante na parte alta da terra que se chama... "de Alta Vila"! Interessante porque ainda, em grande medida, abandonado, tem como "anomalia" um espectacular BAMBUZAL na sua encosta sul. Como ali nasceu a internet não explica.
E só vendo!





Os quesitos que se colocam contra Lourizela.

Lourizela é um lugar da freguesia de Préstimo do concelho de Águeda. Fica na encosta leste do vale do rio Alfusqueiro, por entre eucaliptos. 

Lourizela é uma aldeia que existe e não existe. A parte de cima da aldeia é meia dúzia de casas inespecíficas de gente que efectivamente ali vive e trabalha. Continuando a conduzir e a descer chegamos a um estacionamento que serve uma dúzia de casas recuperadas, umas mais "ricas" do que outras, todas de xisto, e, parece-me que todas forma recuperadas pelo mesmo molde, unilateral. Lourizela de Baixo é uma aldeia-turismo de habitação. Portanto não existe. Os materiais são todos novos, as madeiras - em excesso - brilham, o xisto é quase todo de ontem e não de antes. É possível que a história da reconstrução das casa de xisto de Lourizela seja uma história bonita, mas não me cativou. Até porque os beneficiários nunca serão dali. Uma aldeia pode ter turismo de habitação mas não "ser" turismo de habitação. E disse.



O caso que se apresenta em favor de Macieira de Alcôba.

Isto das "aldeias típicas" enerva-me. Em Portugal uma aldeia típica é uma aldeia morta. Mas que não, que pessimismo! Ele há as "vinhateiras", ele há "as do xisto", as "históricas"...
O dinheiro autárquico potenciou a translação popular portuguesa onde das aldeias migrámos para as vilas, enquanto das vilas migravam para as pequenas cidades enquanto destas se migrava para o Porto, para Lisboa. Este movimento uniformemente acontecido da esquerda para a direita ou a inversa conforme se ponha o slide, despovoou até à quase extinção as aldeias, pois que à esquerda - ou à direita - delas nada havia, já que os portugueses não nascem de geração expontânea.








No concelho de Águeda existem duas aldeias "típicas" sinalizadas no mapa: Lourizela e Macieira de Alcôba. Comecemos por esta.

O concelho de Águeda é um concelho grande e estende-se desde os contrafortes da ria de Aveiro - a pateira de Fermentelos um seu equivalente - até aos contrafortes da serra do Caramulo. Macieira de Alcôba fica a 24 km de Águeda numa reentrância concelhia que se desenrola para leste. Quando começamos a descer começamos a sair do eterno eucaliptal que decora estas paragens. E à direita ao fundo vemos as costas do Caramulo com o Caramulinho em cima. E a aldeia. Macieira de Alcôba é cabeça de freguesia e talvez isso explique a subsistência. Zona mais de granito, há um misto de casas antigas e outras não tanto assim. Nenhuma destoa demasiado. O campo, meio cultivado meio abandonado - porque faltará gente - está debruado por videiras e oliveiras. A empinada Rua Principal serpenteia pela aldeia acima até voltar a descer para chegar a uma represa engraçada a que chamam "Piscina Municipal"! Construção não demasiado recente e vazia, provocava a indiferença das ovelhas que pastavam a montante. E as gentes? Uma senhora de idade à janela, que cumprimentámos. E um casal de meia idade que chegou de jeep e se internou por um aglomerado de casas antigas adentro, para gáudio de vários cães.

PS: Macieira de Alcôba tem um restaurante - que funcionará ao fim-de-semana? - que está no edifício da antiga escola. Uma transversal da Rua Principal chama-se "Rua da Professora". Mas a professora... já não está!

PS2: Macieira de Alcôba tem um "Centro de Interpretação do Milho Antigo" onde tive o cuidado de não entrar: estava aberto. Já os espigueiros... um espectáculo!

PS3: e viva Macieira de Alcôba, e por muitos anos! 

sábado, 21 de maio de 2016

Raul Brandão - Húmus. Etc.

"Do sonho que revolve o mundo cabe também uma parte à mulher da esfrega. Arrasta tudo consigo. Cai o Inverno dentro da Primavera. Engrandece-a, espalma-lhe os pés, esfarrapa-lhe os vestidos. 
Está aqui a figura - está aqui outra coisa. Muda de expressão, como se fosse possível as lágrimas usarem por dentro as figuras humanas, como a chuva e os passos gastam a pedra. Aquilo dura um momento, transparece um minuto, mas esse minuto chega. Logo à submissão e à humildade se mistura um nada de entontecimento. Quase nada. Trouxe sempre consigo debaixo do xale um resto de sonho amargo. Remoeu-o transida de frio pela vida fora, quando fez recados, aqueceu a água e rachou a lenha. É um nada e ampara-a. Atreve-se... Toda a gente precisa de um qualquer estonteamento para suportar a vida."

Raul Brandão - Húmus.




Estava anteontem a tomar um café na "sala de pausa" e ofereceram-me um chocolate, daqueles que se compram à meia dúzia no Lidl e sabem bem e são baratos... 
Soube-me muito bem. 
Obrigado.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Hummmmmm

Não é bem a inquietação de que o Zé Mário falava, não é. Nem tem nada a ver. Mas está aqui e existe uma sensação confusa de que isto não está a ir para melhor. E porquê? Porque perdemos o CENTRO.
 
Os States estão entre Trump e Sanders e vão ficar para desgosto de todos com Hillary. O Reino Unido tem um governo à Tatcher sem a sinceridade, com Corbyn muito do outro lado e a Escócia a despedir-se com amizade. A Espanha está esticada entre um enigma chamado Podemos, inteligentemente unido à IU e um PP esvaziado pela corrupção e chefiado por um anormal paralítico, Rajoy. Ainda maior enigma é a nova direita dos Ciudadanos. Na Áustria a primeira volta das presidenciais foi ganha pela extrema-direita, em segundo lugar ficando um ecologista. A Grécia sobrevive ao e com o Syriza, embora não seja para esquecer os fascistas da Aurora Dourada. A França é le Front National versus o caos dos socialistas e dos republicanos de direita. Mais à esquerda esboça-se uma solução frentista. A governar o último dos vaidosos, Valls. Merkel é pressionada na Alemanha pela ala direita do seu partido. Os sociais-democratas não existem. Os ecologistas e o "Die Linke" são a alternativa. Em Portugal sucedeu ao governo mais à direita desde o 25 de Abril o governo com o apoio parlamentar mais à esquerda desde o 25 de Abril.
 
Something's Got To Give! 

domingo, 8 de maio de 2016

Um Milagre Benfeito.

Tenho eu esta ideia de que no inverno se dizem que encobre chove, e no verão se dizem que chove apenas fecha o sol sem mais. Ainda não percebi onde estamos.
 
Ontem decidi levar a minha filha a ver uma peça no Teatro Regional do Montemuro. Tem esta companhia de vida um quarto de século e a sede na aldeia de Campo Benfeito, que nem freguesia é, no concelho de Castro Daire. Isto, a andar bem, fica a pouco menos de duas horas do Porto.
Almoçámos em Ovar. Pouco depois começou a chover. Só pararia à noite. Na auto-estrada de Viseu para Vila Real sai-se para Bigorne. Depois há um desvio que diz Campo Benfeito. Não há eucaliptos e os pinheiros são escassos. Os carvalhos estão verdes de tanto líquene e formam grupos fantasmagóricos. Ninguém cá fora: o termómetro marcava oito graus. E estávamos a 800-900m de altitude. Gosendinho, Gosende e Campo Benfeito. Aldeia que se encontrou dentro de um denso nevoeiro. Logo à entrada uma espécie de armazém pintado de verde é o teatro. Já num desvio antes dizia "Teatro", sem mais. Ali não haverá outro, claro. À chuva rodeamos o paralelepípedo e batemos a uma porta. A peça estaria a ser ensaiada, os últimos retoques a serem dados. Eram cinco da tarde, chovia imenso. "Era só para confirmar que há espectáculo, viemos do Porto.." "Claro! Apareçam!" "Olha, já vi o cenário!", disse a Cata. "Onde jantar?" "Na Gralheira!"
Fomos lanchar alguma coisa a Lamego, que fica relativamente perto. Já vos disse que gosto de Lamego? Fomos lanchar à Scala. E depois era encontrar a Gralheira para jantar. Voltámos portanto para trás, voltámos a encontrar Campo Benfeito e, desta vez, atravessámos o lugar. Que bem bonito será, mas a névoa não deixou ver quase nada. Seguimos e seguimos, pelo meio das nuvens, percebemos que passámos a cumeada porque o concelho de Cinfães nos saudou. Depois começámos a descer e era a Gralheira. A Gralheira é das aldeias mais altas de Portugal: 1100 m. E é conhecida por dois restaurantes que fazem um cozido. de truz. Um doente meu, nonagenário, ainda recentemente me falou deste cozido. Prometi-lhe uma visita, eis que cumpria. Mas cozido à noite... Comi meia dose de um arroz de feijão com enchidos que estava muito bom. A minha filha foi surpreendida por uma carta de pizzas - sim, fazem-se pizzas na Gralheira! E comeu uma mega-mini-pizza.
Chovia ainda. Conseguimos adivinhar o caminho  de volta até Campo Benfeito. O Teatro, lembro, ficava à entrada da aldeia num pequeno patamar elevado onde dava para estacionar. Em frente residia um parque infantil. Estacionámos e esperámos um pouco. Chegava um carro, chegava outro. Os ocupantes saiam a correr pela chuva e desapareciam. Saímos nós. Tentámos uma porta, fechada. Outra, fechada também. Voltámos para trás. Tentámos uma terceira vez numa terceira porta - não havia sinais que identificassem a função de cada uma das ditas. A porta abriu-se e entrámos de sopetão num bar improvisado onde se serviam cafés e se cobravam os bilhetes para a peça: 2+1 euros no nosso caso. Nas paredes cartazes e cartazes de peças antigas. Numa cesta o programa do Festival Altitudes de 2015 e umas separatas duma freguesia do concelho de... Felgueiras. À frente a folha de sala pousada: "Recuerdos de Avignon", por uma companhia de Sevilla.
Conheciam-se todos. Seriam... das aldeias?... de Castro Daire?... de Lamego ou Viseu? Só nós os forasteiros. Entrámos para o "auditório" com uma meia hora de atraso, talvez porque "já teriam enfim chegado todos os que eram para chegar".  A chuva ouvia-se a martelar o telhado - de zinco? Os vozes mais baixas dos actores espanhóis não se ouviam bem - e nós estávamos na segunda fila... Aqui e ali a peça pedia um ruído de chuva e de relâmpagos.  Podiam ter-se poupado ao esforço.
Não vou comentar a peça, a minha acompanhante será melhor para isso. Havia uma peça dentro da peça e um triângulo amoroso e de idades. Talvez a ideia fosse postular a hipótese de, se calhar, vivermos rodeados por peças de teatro sem o saber.
Trinta pessoas assistiam, das quais meia dúzia de crianças: a receita da bilheteira uns cinquenta euros?
A peça acabou pelas onze menos um quarto da noite, cedo demais para irmos experimentar o túnel do Marão. Chovia menos o suficiente para pela noite dentro conseguirmos acabar por passar a Ponte da Arrábida um quarto depois da meia noite. No banco de trás a garrafa de água de litro e meio comprada na Gralheira estava torcida, metida para dentro, pela diferença da pressão atmosférica.
Não vou investigar como subsiste o Teatro Regional do Montemuro, como serão as contas, de onde vem o dinheiro e para onde ele vai. Fico na minha: tínhamos assistido a um Milagre. E Benfeito! 

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O Sr. Silva do Azevedo e o historiador Rui Ramos.

O Sr. Silva vai fazer 80 anos. Não tem doença que justifique o cansaço mas o cansaço é da lembrança perene do que foi e já não é, um homem forte, de muito trabalho e de tudo vencer. Mas calado e metido na sua vida, que antes do Vinte e Cinco de Abril no Azevedo era preciso cuidado. Havia lá um senhor que tinha um café - era um bom homem - e que era da PIDE. O médico da Caixa também. Mas se ninguém bulisse não havia problemas. Nas eleições o Sr. Silva não saía de casa. Dias depois recebia um carta da Junta de Freguesia a comprovar que "tinha votado". Era assim naqueles tempos, não sei se o historiador Rui Ramos estará de acordo, eu confio nestas minhas fontes. A esposa do Sr. Silva trabalhava numa fábrica onde já havia médico - outro. Este era do "contra" e "chateavam-no", de vez em quando "chateavam-no". "O quê, prendiam-no?", perguntei. Que não, que não o chegaram a prender. "Chateavam-no". E mais não disse a simpática senhora do Sr. Silva, no mais calada e metida a si mesma. Ele há coisas que não se esquece. 

domingo, 1 de maio de 2016

Ainda 'O Bosque', escrito em 2012, no consulado.

'Mas não esqueço a insolência dos políticos. A arrogância da sua nenhuma dúvida. Parece que não têm de lutar com problemas, esse é um aspecto que pertence aos governados, que são todos aqueles que para além de terem de enfrentar as suas incertezas íntimas - doença, desemprego, desagregação das classes sociais - têm ainda que suportar o oposto do estranho, as impressões que a dominante reles casta lhes vai quotidianamente roubando. Há muito que o estado em lugar de ser vigilante do seu espaço de nação, se exerce de um modo negativo; isto é, rouba-nos tempo - a descoberta que só podemos fazer através do pensamento. E quem entre os nossos políticos de hoje esboça uma compreensão do país que governa? Quem se importa já com a imagem de que cada um dos portugueses possa ser mais do que o conteúdo de um frigorífico, do carro a trocar, ou de uma viagem a paragem distante - mas há todos aqueles, e cada vez serão mais, que procuram nos contentores do lixo um pedaço de pão - e lhes queira dar em troca um sentimento de utilidade nacional e um olhar de grandeza sobre o seu modo e forma de existir.'