O Sr. Silva vai fazer 80 anos. Não tem doença que justifique o cansaço mas o cansaço é da lembrança perene do que foi e já não é, um homem forte, de muito trabalho e de tudo vencer. Mas calado e metido na sua vida, que antes do Vinte e Cinco de Abril no Azevedo era preciso cuidado. Havia lá um senhor que tinha um café - era um bom homem - e que era da PIDE. O médico da Caixa também. Mas se ninguém bulisse não havia problemas. Nas eleições o Sr. Silva não saía de casa. Dias depois recebia um carta da Junta de Freguesia a comprovar que "tinha votado". Era assim naqueles tempos, não sei se o historiador Rui Ramos estará de acordo, eu confio nestas minhas fontes. A esposa do Sr. Silva trabalhava numa fábrica onde já havia médico - outro. Este era do "contra" e "chateavam-no", de vez em quando "chateavam-no". "O quê, prendiam-no?", perguntei. Que não, que não o chegaram a prender. "Chateavam-no". E mais não disse a simpática senhora do Sr. Silva, no mais calada e metida a si mesma. Ele há coisas que não se esquece.
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