sábado, 21 de maio de 2016

Raul Brandão - Húmus. Etc.

"Do sonho que revolve o mundo cabe também uma parte à mulher da esfrega. Arrasta tudo consigo. Cai o Inverno dentro da Primavera. Engrandece-a, espalma-lhe os pés, esfarrapa-lhe os vestidos. 
Está aqui a figura - está aqui outra coisa. Muda de expressão, como se fosse possível as lágrimas usarem por dentro as figuras humanas, como a chuva e os passos gastam a pedra. Aquilo dura um momento, transparece um minuto, mas esse minuto chega. Logo à submissão e à humildade se mistura um nada de entontecimento. Quase nada. Trouxe sempre consigo debaixo do xale um resto de sonho amargo. Remoeu-o transida de frio pela vida fora, quando fez recados, aqueceu a água e rachou a lenha. É um nada e ampara-a. Atreve-se... Toda a gente precisa de um qualquer estonteamento para suportar a vida."

Raul Brandão - Húmus.




Estava anteontem a tomar um café na "sala de pausa" e ofereceram-me um chocolate, daqueles que se compram à meia dúzia no Lidl e sabem bem e são baratos... 
Soube-me muito bem. 
Obrigado.

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