sábado, 30 de dezembro de 2023

Morreu o Tozé.

Morreu o enfermeiro Tozé. Ontem foram suspendidas medidas nos intensivos em Gaia, onde estava internado.
Conheci o Tozé na Urgência do S.João. Coincidiam nele competência e boa disposição. Sabia porém mais do que falava. Outras vezes a rir dizia as verdades. Lembro-me dele sobretudo em duas ocasiões. Um dos primeiros dias meus a trabalhar em Gaia, em 98, eu chegava para trabalhar. De uma janela do hospital (como toda a enfermagem ele acumulava vários trabalhos) ele saudou-me sorridente: "Então, por aqui?" E o dia mudou. Muitos anos depois noite dentro a mãe da minha mulher entrava na Unidade Coronária depois de uma angioplastia por enfarte do miocárdio e o seu sorriso brincalhão também aqui nos recebeu, desta vez não só a mim: quem ficava ficava bem entregue.
Uma doença rápida e muito extensa tomou-lhe a vida. Pelo que soube assumiu-a em silêncio. Os colegas de trabalho souberam da mesma só há poucos dias quando o Tozé desfaleceu, a trabalhar.
Foram suspensas medidas e assim se confirmou aquilo que seria o desejo do Tozé: falecer sem grande confusão, sem barulho. 
Senhor Enfermeiro, (para sempre) um Abraço.

domingo, 24 de dezembro de 2023

Pedro Passos Coelho - parte 2.

 



A liderança do PSD por Pedro Passos Coelho deixou marcas e como! Lembro que foi o líder do PSD mais tempo no poder a seguir a Cavaco Silva.

O PSD sempre foi uma manta de retalhos. O surgimento da Iniciativa Liberal e do Chega implicaram a perda de dois "retalhos". Como assim?

O governo Passos Coelho foi o mais "liberal" que este país já teve. Fazendo paradoxalmente algumas coisas ao contrário - como subir impostos - mas prometendo que mais à frente iria haver uma valente marcha-atrás. O "ir além da Troika" foi a tentativa de diminuir o Estado ainda além daquilo que a Troika pedia, muitas vezes sem razão nem jeito. 

A Iniciativa Liberal (IL) nasceu a partir de um grupo de gente dos blogues e seduziu parte deste PSD mais liberal, carregando nas tintas com as noções da "flat tax", e da privatização uber alles. Num país anormalmente taxado, a "flat tax" apelaria sempre a uma certa parte da população, mas com "tecto terapêutico". A IL acabou por ficar como uma espécie de CD sem S (e pouco D, dado o que aconteceu com Carla Castro).

Outra história o CHEGA. O CHEGA nasceu quando um inspector de finanças e escritor nas horas vagas de nome André Ventura concorreu à Câmara de Loures com o apoio de Pedro Passos Coelho, discurso anti-cigano incluido, e a venerável escusa do CDS em apoiá-lo. Ventura percebeu, sobretudo pelas redes sociais mas também pelos órgãos de comunicação social, que havia um nicho de descontentes da vida em Portugal que pedia uma voz. Que ora votava CDS/PSD ora não votava mas sempre sem entusiasmo e pouco engodo. O resto é história. Nas sondagens está agora em 16%.

Pedro Passos Coelho, muito obrigado! 

A tua herança pode ter arruinado a alternância democrática em Portugal, deixando-nos reféns dum PS que não precisa de ser grande m... para ganhar... sempre!


quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Pedro Passos Coelho, Pedro Nuno Santos e o amor pelos portugueses - parte 1.


Talvez custe um pouco lembrar mas em 2011 José Sócrates pediu a demissão de Primeiro-Ministro de Portugal pelo chumbo do PEC IV  e a necessidade de "chamar a Troika". O défice das contas públicas em 2010 foi de 11,2% e o nível da dívida pública quase duplicara em seis anos.

Pedro Passos Coelho foi e não foi Primeiro-Ministro de Portugal entre 2011 e 2015. O governo financeiro foi na realidade externo, da famosa "Troika", que aplicou um ajuste férreo à economia e ao estado português. O governo de Pedro Passos Coelho foi um conjunto de "bonecos" de quem ninguém tem boa memória - Vítor Gaspar, Miguel Relvas, Álvaro Santos Pereira, Nuno Crato - e eles pagaram na mesma moeda, parecendo sempre não gostar do país que governavam. O meu ministro da Saúde,  Paulo Macedo, no meio desta tormenta foi uma honrosa excepção. Pedro Passos Coelho foi aliás muito coerente nesta falta de empatia com o momento difícil que o "seu país" passava, sugerindo inclusivé  que quem não estivesse contente que emigrasse. Em 2014 conseguiu a famosa "Saída Limpa", mas ninguém lhe agradeceu o feito. Mito ou realidade, o povo acreditou qie Passos Coelho ao governar fora "Ainda Além da Troika" no "esganar" do País. Mito ou realidade, assim ficou na memória colectiva. Em 2015 foi despachado e substituido pela "Geringonça" de António Costa. António Costa foi Primeiro-Ministro obtendo apenas mais 4% de votos do que Sócrates em 2011.

Portugal sobreviveu à Troika com nota alta por duas ordens de factores: Turismo e Exportações. Mas sem o aperto de 2011-2014 a "Geringonça" não teria podido fazer o brilharete de, muito gradualmente e de forma não completa, desfazer o novelo de arame da "Troika". A "Esgana" de Pedro Passos Coelho e a "Saída Limpa" forma fundamentais. Isto e também o País ter continuado, esforçado mas sereno, independentemente do governo de turno, a receber cada vez mais Turistas e a Exportar cada vez mais. 

Os Governos de Costa, incluindo a "Geringonça", foram governos de navegação à vista, de cativações certas e de investimentos poucos e incertos. A popularidade da dita "Geringonça" nasceu muito do contraste em relação a Passos Coelho. Centeno parecia quer nos queria deixar ter mais dinheiro, António Costa parecia gostar de nos governar. Gostar gostava, o "nos" um mero detalhe. 

Não houve um rasgo diferenciador, um momento de excepção neste oito anos. Eu sei que houve uma pandemia, mas esta também foi de navegação à vista, mérito houve mas não das cúpulas, sim nas classes profissionais que perfazem o SNS e que se excederam, surpreendendo até a mim.

Acumulado todo o dinheirinho estes anos todos "em cativanço" por Centeno e Medina, eis que chegamos a 2023 e era um tal de lançar obra: ele é comboios, ele é aeroporto, ele é lítio e hidrogénio...

Eis senão quando António Costa decide que é ele que manda e não demite o Galamba.

78000 euros depois, temos como se nada um PS de cara lavada a todo o vapor a correr para eleições tendo a maquinista Pedro Nuno Santos, um "Fazedor", a versão 2.0 de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, de seu nome completo.

No 3º parágrafo dei a minha opinião sobre se este País deve alguma coisa a Pedro Passos Coelho. A minha resposta é sim.

No parágrafo anterior explico porque Pedro Passos Coelho nunca deverá ser Presidente da República.


domingo, 17 de dezembro de 2023

Um Mundo Melhor






Caminhava eu ainda há pouco pela Avenida da Igreja acima, em Lisboa, em direcção ao quarto onde a minha filha mora e vai dar uma festita, e um rapaz tocava viola e trauteava uma canção qualquer, numa varanda de um primeiro andar.
E aí eu pensei, enquanto andava, que talvez ainda seja possível um Mundo Melhor.

PS: a fotografia mostra o que se vê da sala da casa onde a minha filha mora, numa lateral da mesma avenida 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Marcelo e os detalhes.


Este caso das gémeas luso-brasileiras deve estar a ser celebrado nos gabinetes dos candidatos à nomeação PS como uma benção dos céus tropicais. Parece que já nem nos lembramos do porquê irmos para eleições em Março de 24. Agora só conta se o Marcelo cometeu ou não crime (sim, eu já ouvi a palavra crime mencionada mais do que uma vez) nesta história das gémeas.

Que distracção mais conveniente. Os socialistas estão quase a perdoar à Sandra Felgueiras agruras passadas.

Vamos ao que interessa.

As gémeas terão mesmo diagnóstico de Atrofia Muscular Espinal tipo 1 (AME1). O diagnóstico terá sido confirmado por um "especialista em Miami".

As gémeas têm mãe e avó com nacionalidade portuguesa. A família parece ser abonada de dinheiro e informada. Terá também problemas com o fisco brasileiro. Mas... quem não?

O tratamento da AME1 é caro, muito caro. Sem tratamento são muito raras as crianças com AME1 vivas aos 2 anos de idade. E se o são - raros casos - vivem com apoio ventilatório e nutrição artificial.

Há 2 tratamentos para a AME1:o Spinraza é administrado q14d as 1ªs 3 doses, depois q1mês e depois q4meses para sempre, INTRATECAL. Não preciso de explicar os riscos associados. Tenta corrigir e em parte consegue o defeito proteico que produz a doença. O Zolgensma é uma terapêutica genética que substitui o gene defeituoso. É admimistrado com uma toma única, ev. Quanto mais cedo melhor, claro. Não está recomendado para crianças > 2 anos de idade. 

O Zolgensma é muito mais prático, talvez seja mais eficaz (ver autorização EMA).  É também muito caro. Mesmo muito caro.

As gémeas terão começado no Brasil o Spinraza. A família sabia que o Zolgensma não tinha autorização no Brasil. Pensaram: e Portugal? Calha que em Portugal o Zolgensma estava autorizado.

As gémeas são naturalizadas em Setembro de 2019 e começa a chegar correspondência ao D.Estefânia em Outubro. Ao D.Estefânia e ao Presidente Marcelo. Do filho. Nessa correspondência há um "relatório médico" onde se fala de "cura".

Nenhum tratamento cura a AME1. Prolongam a vida, minoram os sintomas. A vida será sempre uma de grande dependência. Sem tratamento porém as gémeas hoje já não estariam vivas. O que correu mal?

Assumo que as hesitações do D.Estefânia teriam que ver que três itens: 

Primeiro, a indicação. Não há dados sobre a utilidade da sobreposição dos dois tratamentos para a AME1. Mas quem não preferiria para os seus filhos uma toma única ev vs q4meses intratecal? E foi também assim o percurso da famosa bebé Matilde. Por outro lado não consigo obter dados sobre a idade das gémeas em Outubro de 2019. E não houve qualquer consulta presencial. O diagnóstico seria inferido. As bebés permaneciam no Brasil.

Segundo e terceiro: serem não residentes e o custo do tratamento tendo em atenção o primeiro quesito. Lembro que este tratamento quanto mais cedo entrar, melhor. Não haverá lista de espera: o dx de AME1 é raro.

Até agora tudo se entende.

ERRO NÚMERO UM:  de Marcelo Rebelo de Sousa. O nosso Presidente terá reencaminhado como "normal" mails de um tal de "Nuno Rebelo de Sousa". Acredito que pouco mais terá feito do que isto. Acredito mesmo. Mas nem isto devia ter feito. O apelido em questão tira qualquer neutralidade à correspondência havida. Os detalhes, Marcelo, os detalhes. 

ERRO NÚMERO DOIS:  perante uma insistência familiar com ajuda do Dr Nuno, a pressão rodou não percebo muito bem porquê para o Santa Maria, onde algum comissário socialista, e tudo aponta para a equipa "comissária" ter sido Lacerda Sales + Director Clínico, para agradar ao apelido em questão - lembram-se daquela história de mudar um horário dum avião? - e forçado a consulta e posteriormente a concessão do tratamento às gémeas. Claro que Lacerda Sales não se lembra. Talvez no momento nem tenha percebido o valor monetário em jogo. Acabara de começar uma... pandemia! Com se fosse um reset.

Para cunha a coisa não correu assim tão bem. Um governo tinha mudado, uma pandemia estava a acontecer e atrapalhou os eventos. O tratmento aconteceu em Junho de 2020, oito meses depois da 1ª correspondência ter chegado ao D. Estefânia. Espero que as crianças residentes não esperem tanto pelo tratamento. Claro que a coincidência de haver suposto tratamento prévio com o Spinraza confunde aqui um pouco as vazas. 

Como piada anexa a história das quatro - ou seis? - cadeiras motorizadas que as crianças terão à sua espera em Portugal. Se as outras crianças não as tiveram só pode ser porque os médicos que as trataram não se lembraram de lhas pedir. Só pode ser, não?

Lembro: sem tratamento, estas gémeas já não estariam vivas. Os pais delas comportaram-se sempre como quaisquer pais se comportariam postos nas mesmas circunstâncias. E não são médicos. 

MAS, AGORA QUE A COISA ESTÁ EXPLICADA, VOLTEMOS AO QUE INTERESSA.

HOJE FOI FINALMENTE DEMITIDO O GOVERNO COSTA, com toda a pompa, no Palácio da Bolsa na minha cidade do Porto. 

Ficará para História a história dos governos PS com maioria absoluta: o primeiro de José Sócrates e o último de António Costa.

Atenção a Pedro Nuno Santos, é um Sócrates 2.0. 

Voltando a Marcelo: não há Presidências "informais". Sendo que os "afectos" embotam a clareza do pensamento.