segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

BIC - 1.

No início de 1973 que expectativas existiriam sobre Agostinho’ Possivelmente não muitas. Fora de Portugal, entenda-se. O mundo do ciclismo tinha os seus "ases" e, ao fazer a lista, o nome de Agostinho viria um pouco para trás na lista. À frente Merckx, o “monstro”, o “canibal”. Depois Ocaña, o único a fazê-lo tremer em 71, um 72 menos conseguido. De Espanha também um trepador brilhante, Fuente. Em França o veterano Poulidor, o jovem (e lesionado) Guimard, o brilhante (e inconstante) Thévenet. A Itália tinha o já veterano Gimondi. A Holanda o tímido Zoetemelk. A Bélgica acrescentava o veterano van Springel, e o trepador van Impe, um achado estranho num país plano. A Suécia fornecera Gosta Pettersson. Nas periferias astros menores: pela Dinamarca Mortensen (outro ciclista BIC), pela Noruega Knudsen. A Suiça e o Luxemburgo, fornecedores de campeões, estavam em fase off. Agostinho era portanto mais um na equipa BIC de Ocaña. Nem o estatuto de nº 2 estaria assegurado. Esclareça-se, a equipa BIC era francesa, Ocaña vivia em França, em França tinha-se feito ciclista desde novo. A época de Agostinho voltou a começar no Paris-Nice. Sem grande aparato foi 15º. Picou o ponto na Milão-Sanremo e depois foi 5º na Subida a Arrate, prova espanhola que precede a Setmana Catalana. Aqui Ocaña ganhou a Merckx, sendo Agostinho mera testemunha, acabando 28º. Na Vuelta a España Merckx, pelo contrário, conseguiu resistir a Ocaña e ganhar. Agostinho acabou 7º mas quase por arrasto, e foi criticado pelos espanhóis por não ajudar Ocaña como devia a destronar Merckx. Na preparação para o Tour Agostinho foi 13º no Dauphiné (que Ocaña ganhou) e já se mostrou mais, e fez 5º no Midi-Libre, onde teve mais espaço de manobra ao estourar Ocaña e abandonar. Era a 2ª prova de uma semana onde Agostinho fazia top dez. E chegámos ao Tour. O ciclismo profissional era e é um espectáculo e um negócio. E é um desporto. Onde o segundo era e é... o primeiro dos últimos. Em 73 os rivais Merckx e Ocaña passaram quase todo o ano a evitar-se. Merckx não foi ao Tour oficialmente porque a sua equipa, a italiana Molteni, não quis. Fez a Vuelta e o Giro – e ganhou as duas provas. Para Ocaña ficou o Tour, que ganhou folgadamente, destroçando qualquer oposição. Agostinho era “apenas” mais um gregário de Ocaña mas… no seu Tour, não conseguiu evitar subir razoavelmente e brilhar no contra-relógio. Ganhou aliás um destes. Terminou – outra vez – oitavo. Outro português, Fernando Mendes, que já tinha dado boas indicações – até desistir – em 72, terminou 18º, por outra equipa estrangeira, a belga Flandria. Havia de fazer ainda melhor. Terminara em 33º o jovem José Martins, emprestado pelo Coelima à equipa holandesa Canada Dry, de quem voltarei a falar. Agostinho fora pela 6ª vez consecutiva Campeão de Portugal de Estrada. Ganhou a Volta a Portugal mas foi desclassificado por doping. Jurou – e cumpriu – nunca mais a correr. Terminou a época brilhando na Volta a Catalunya – andou pela frente até adoecer e desistir. Picou o ponto em Montjuich sendo 6º. Por outro lado o chefe Ocaña terminou 73 em esforço, perdendo provas, ao contrário de Merckx. Como seria 74?

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