quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Amanhã Puigdemont...

Rajoy vai aplicar o artigo 155 enquanto Puigdemont vai declarar a independência de Catalunha. Digo os nomes dos trastes e não digo "a Espanha" ou "a Catalunha" pelo respeito que me devem as gentes que constituem as entidades em questão, sendo que Catalunha é Espanha, por enquanto. 

A lei é a lei é a lei. Tudo o que Puigdemont tem feito é ilegal. Independentemente de os tribunais mais altos de Espanha me parecerem muito tingidos pelas cores do PP. Talvez a Espanha esteja a precisar de uma segunda transição.

Mas a lei e o correcto e o bom nem sempre coincidem. A pena de morte foi legal até deixar de o ser. A subjugação da mulher ao marido foi lei até deixar de o ser.

Fala-se igualmente tanto da "Espanha dos cinco reinos" como da "Península dos cinco reinos" na história medieval. Sim, mais uma vez a história. Na primeira versão, Portugal, Leão, Castela, Navarra e Aragão. Engolido o leão e para que os números continuassem a rimar, acrescentou-se Granada. Para o escudo não podia ser Portugal,ressuscita-se o leão. Os Reis Católicos acabaram com este idílio reunindo toda a malta excepto... "nóses". Diz-se que os Reis Católicos inventaram Espanha. Sim e não. Cada reino "adquirido" conservava os seus usos e costumes, nomeadamente Navarra, nomeadamente Aragão. Os foros e prerrogativas destes reinos foram abolidos só mais de dois séculos depois pela dinastia dos Bourbons, estes sim os inventores do centralismo espanhol (isto é, castelhano). O dia nacional da Catalunha é o dia de uma derrota e de uma invasão, esta, onde o rei Bourbon acaba com a autonomia catalã. 

Bom, isto da história é muito bonito mas já no século XVIII Espanha era um país empobrecido e frágil. O centralismo Bourbónico nunca conseguiu vergar as periferias mais dinâmicas e nestas à frente a catalã. Nem dois séculos depois Franco. Franco que bombardeou Guernica para "matar" os bascos com um tiro no peito, e que derrotou definitivamente a República com a batalha do Ebro, na Catalunha. 

Portanto e porém Espanha nunca deixou de ser, sem dúvida, um mosaico de culturas e de sensibilidades populares bastante diferentes umas das outras, e que pedem uma narrativa histórica plural e multifacetada. Recentemente um ministro da Educação do PP discordou disto tudo e decidiu que em toda a Espanha só devia haver um livro de história, uma só narrativa. As autonomias podias acrescentar umas folhas, com interesse apenas decorativo. 

Portanto pode não parecer mas nas ruas de Barcelona discute-se duas visões de Espanha: uma multifacetada e multilateral, outra monolítica e unilateral. O nacionalismo catalão é na realidade uma resposta ao nacionalismo espanhol. Qualquer nacionalismo é mau.

Os dois governos, o espanhol e o catalão, são maus. Exploram sentimentos primários, criam xenofobismos e ampliam preconceitos e distâncias. Jordi Pujol foi o Alberto João Jardim da Catalunha. Puigdemont é um seu desajeitado aprendiz. Porém, desde já digo que prefiro Barcelona a Madrid. E não é só por ter mar...

Lembro-me de, muito puto e maníaco das estatísticas, admirar-me de em 1972 o jornal mais vendido em Espanha ser então o barcelonês La Vanguardia. Eu acho que é coisas como estas que fodem tudo isto.

Sem comentários:

Enviar um comentário