domingo, 4 de setembro de 2022

Helmand (voltemos ao Afeganistão)


Helmand é a maior província do Afeganistão. Fica no sul inóspito e desértico, sob a influência de Kandahar, e dependente do rio que lhe dá o nome, o rio Helmand, o maior rio do Afeganistão, nascido no Hindu Kush e que depois desce para sudoeste indo terminar as suas vidas numa zona pantanosa no Irão. As águas deste rio e do seu afluente Arghandab enchem um sitema de irrigação complexo que fornece água para várias culturas nas zonas bafejadas com a mesma. Muita desta água servirá também para a cultura da papoila. Esta província sozinha produz mais ópio do que Myanmar. A capital é Lashkargah e fica na confluência dos dois rios acima mencionados. Helmand é uma província Pashtun, com excepção de algumas populações que foram importada para os trabalhos agrícolas. As gentes de Helmand sãodo mais conservador que se consegue arranjar por estes lados. Foi a província que mais trabalho deu durante a ocupação americana, ou chamemos-lhe da NATO, porque Helmand esteve entregue aos Ingleses durante vários anos, Ingleses que aqui perderam bastantes soldados.

Onze coisas sobre a província de Helmand:

1. Entre os anos de 4500 e 2000 ac está descrita uma "Cultura de Helmand", com uma forte interacção com a chamada cultura do vale do Indo (Harappa, Mohenjo Daro...) mas com início talvez anterior até. Terá tido expressão urbana e, apesar do nome, os sítios de excavação mais relevantes ficam no Irão e na província de Kandahar. O nome da cultura refere-se ao rio: o rio Helmand é o único rio perene (ie, que não seca no verão) entre o complexo Tigre-Eufrates a oeste e o Indo a leste.



2. Após ensaios em anos anteriores em 1952 constitui-se como agência governamental a Autoridade para o Vale de Helmand, fortemente subsidiada e orientada pelos Estados Unidos, e que, nos vinte anos seguintes, construiu um projecto de irrigação aproveitando as águas do rio Helmand, com várias barrragens e canais, projecto este que incluia também a produção de energia eléctrica, estradas, a construção de novas cidades, a fixação de populações nómadas. Foi um êxito razoável até à invasão soviética. A mesma empresa que tinha construido a hisstórica Barragem Hoover no rio Tennessee foi parte principal neste projecto.



3. Lashkargah é a capital da província, terá para aí 200000 habitantes. Fica junto à confluência do Arghandab com o Helmand. Muito perto ficam as ruínas de Qala Bost, a capital de inverno dos Ghaznávidas (j+a mencionados na provínica de Ghazni), incluindo um famoso arco decorativo do séc. XI que reside na nota de 100 afganis. A leste da cidade de Lashkargah estão as ruínas dum palácio Lashkari Bazaar, uma construção sobretudo Ghaznávida mas com origem em tempos mais antigos que vão até aos Partos.



4. Parte da Lashkargah moderna foi desenhada pelos americanos como sede da sua Helmand Valey Authority. Ruas largas desenhadas em quadrícula, casas de tijolo com jardim à frente... após muitos anos de guerra ainda alguma coisa se consegue adivinhar disto, embora uma casa com jardim à frente e sem muros não seja grande modelo para defesa de um qualquer inimigo. Estes bairros, estas terras construidas à volta deste projecto foram até chamados de "Little America"... 

5 . Sendo a província com o maior complexo de canais de irrigação do Afeganistão é portanto também hoje a província que mais cultiva a papoila e mais produz ópio. A irrigação foi criada sobrdetudo pelos americanos mas as centenas de toneladas de heroína produzidas são sobretudo consumidas por europeus.

6. Os talibãs tentaram erradicar o cultivo da papoila pela primeira vez em 2000, invocando razões religiosas. Depois, durante a guerra, deixaram de se preocupar com isso, taxando os agricultores e os transportadores da coisa. Em Abril deste ano voltaram a emitir uma ordem de suspensão do cultivo da papoila. Estando o Afeganistão na sua maior crise económica de sempre tem lógica...



7. O complexo conjunto de barragens e canais que controlam as águas do rio Helmand e do seu afluente Arghandab matou por completo um complexo de lagos chamados Hamun que ficavam na fronteira entre o Afeganistão e o Irão e deles recebian água. Os lagos já não existem, a vegetação e a biodiversidade animal que faziam desta área um sítio Ramsar, desapareceu. Os lagos são agora zonas de deserto salgado, com fortíssimos ventos e tempestades de areia que fazem da cidade de Zabol no Irão que lhes fica a oeste a cidade com a pior qualidade de ar do mundo segundo uma lista da OMS feita em 2016. O Irão ainda não reconheceu oficialmente o governo dos talibãs. 

8. O estudioso inglês Mike Martin escreveu e publicou em 2017 o livro "An Intimate War (An Oral History of the Helmand Conflixt)" onde aparecem aprox. 150 entrevistas de pessoas da província de Helmand, sendo elas a fazer o retrato "íntimo" de décadas de guerra. Diz quem leu que "se tivessem lido antes..."

9. A província de Helmand foi entregue os britânicos em 2006. Até aí só tinham morrido 5 soldados do Reino Unido no Afeganistão em 4 anos. 15 anos depois a conta ia em aprox. 450. A decisão de abandonar o Afeganiastão foi tomada pelos Estados Unidos sem consultar nenhum dos seus aliados.

10. Em Lashkargah o rio Helmand tem água suficiente para permitir passeios com basrcos de recreio. Junto ao rio e à volta da cidade exstem vários  e extensos parques. No site "placeandsee.com" está escrito que também há um "park for females". O parque em questão terá sido construído pelos britânicos em 2012 e o seu custo, 400000 libras, foi muito discutido at home.


11. A vegetação e os animais que se extinguiram no complexo de lagos de Hamun existem em Lashkargah, no outro lado do rio, num bosque espesso que bebe a sua riqueza das águas abundantes.

    

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