quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Como vão ser as Grandes Voltas Ciclísticas em 2023 - análise equipa a equipa.



A narrativa do ciclismo de estrada de 2022 está a terminar. O ciclista mais forte da temporada voltou a ser Pogacar mas... ele perdeu o Tour para Vingegaard.  2023 vai viver à volta da tentativa de desforra de Pogacar. Pogacar e Vingegaard são corredores com perfis não iguais. A fantástica história do ciclismo de estrada continua a escrever-se.

Pogacar tem 24 anos e já ganhou 2 Tours. Com a mesma idade Merckx, Hinault ou Anquetil só tinham ganho um Tour, Merckx o único que por outras vitórias - um Campeonato do Mundo, vários Monumentos, um Giro de Itália - pode considerar-se ter aos 24 anos construído um palmarés um pouco mais extenso do que aquele que Pogacar tem. Dos italianos Bartali aos 24 anos tinha ganho o primeiro de dois Tours e dois Giros, Fausto Coppi um Giro -  a sua carreira precocemente interrompida pela 2ª Guerra Mundial. Indo a outros nomes, LeMond ganhou pela primeira vez o Tour aos 25, Indurain aos 27, Lance Armstrong (não) ganhou aos 28 anos de idade, idem Chris Froome, Alberto Contador ganhou pela primeira vez aos 25 anos, como Vingegaard (que só faz 26 anos em Dezembro). 

Bom, mas estamos a dispersar-nos.

A equipa que ganhou o WorldTour foi a Jumbo-Visma. Os seus cabeças de cartaz para três semanas são os mesmos mas a ordem de enunciação mudou: Vingegaard à frente, um Tour no bolso,  depois Roglic, 7 anos mais velho. Roglic ganhou três Vueltas e, não houvesse um problema de ombro, talvez tivesse conseguido atrapalhar mais a vida de Evenepoel na Vuelta de 22 e ganhar a 4ª. Não pôde ser. Dependendo de como acontecer a primeira parte da época eu acho que a Jumbo-Visma vai levar os dois ao Tour a não ser que Roglic peça especificamente para ir ao Giro - que vai ter muito CR,  dizem. A Jumbo-Visma tem muitos outros nomes capazes para três semanas, mas poucos com perfil de líder: Dennis, Foss, Gesink, Kruijswijk, Kuss... Dennis já se deixou disso, Kuss a liderar nunca deu conta do recado, Gesink já passou o tempo dele. Foss, um pouco mais novo do que Vingegaard e que já ganhou um Tour du Avenir e fez um top 10 num Giro (em 21), só mostrou serviço em 22 ganhando surpreendentemente o título mundial de CR. Pode ser renovada a aposta no Giro (o CR... ) ou numa Vuelta. Por outro lado Krujswijk, que já fez pódio num Tour e que podia ter ganho aqui há anos um Giro não fosse certa e determinada queda, pode merecer da equipa uma última hipótese de liderança, num Giro ou numa Vuelta. Tudo isto dependerá do plano para Roglic. E da equipa escalada para o Tour. 

A segunda equipa na classificação WorldTour é a UAE. a equipa do 2º classificado no Tour, Pogacar. E Pogacar vai tentar o 3º Tour, contra Vingegasard. Embora os tempos não sejam os mesmos, Pogacar domina o calendário da equipa UAE como Merckx dominava o calendário das equipas em que se encontrava. Pogacar é o novo "Canibal", Evenepoel apenas um candidato a sê-lo. Portanto tudo dependerá da equipa que se considerar que Pogacar necessite para o Tour. Escaladores como Majka, Bennett, Soler, não terão qualquer alternativa senão assumir o papel de gregários. Dos outros líderes putativos, Almeida, Ayuso, McNulty e Adam Yates, alguém pode ter que "amochar" no Tour. O nosso Almeida pode ir pela 3ª vez ao Giro, como líder ou co-líder, acompanhado por Ayuso ou Yates, A este não sei o que foi prometido para além de dinheiro. Ayuso quererá tentar melhorar o que fez na Vuelta? Pogacar quererá também ganhar a Vuelta se conseguir ganhar o Tour? Por outro lado, McNulty, o australiano tido como o melhor herdeiro de Cadel Evans, tem  a mesma idade de Almeida mas não tem os três top-dez em 3 semanas que Almeida tem. Vai ser o ano do tudo ou nada. Talvez Almeida e McNulty ou Ayuso no Giro,  Yates e Ayuso ou McNulty na Vuelta. Sobre João Almeida, vamos ter calma. Está nos dez-quinze melhores voltistas do pelotão internacional. Só isto já é um orgulho.  

A terceira equipa é a Ineos-Grenadiers. Vamos assumir que até ao fim do ano a Ineos não consegue comprar Evenepoel. A aposta 2023 será o retorno de Bernal. Bernal fará 26 anos no início de 23 e, dependendo de como se apresentar durante a primeira metade da época, irá ao Tour. Só que a Ineos, longe dos tempos de Froome em que dominava as corridas, será apenas e só mais uma das equipas presentes. Geraint Thomas conseguiu um pódio no Tour em 22, mas foi ele que o conseguiu e não a equipa. O comboio escangalhou-se em 2020 e nunca mais voltou a ser o que tinha sido antes. A Ineos precisaria mais do que contratar novos corredores uma nova equipa de psicólogos. Não vamos duvidar da opção Bernal, para dar alguma estabilidade ao nosso raciocínio. E os outros? Comecemos por Thomas. Thomas não deve voltar ao Tour mas sim tentar o Giro, onde a sorte não lhe tem sorrido. Como co-líder talvez leve Carlos Rodriguez, a penúltima novidade espanhola. Agora é importante falar de dois corredores cujo futuro não percebo qual vai ser: Geoghegan Hart, 28 anos e o agora francês Sivakov, 26 anos. Hart ganhou o Giro "às costas" de Rohan Dennis em 2021 e depois não fez mais nada de jeito. Sivakov nos sub-23 era uma espécie de Evenepoel, ganhando tudo, fez 9º no Giro em 2019 e depois... nada. Gregários apenas? O comboio de Froome tinha em tempos que já lá vão ciclistas que não tinham projectos seus de 3 semanas, com a excepção de Thomas, que soube esperar o seu momento. Estes dois vão fazer o quê em 2023? "Gregariar" e mais nada? Geoghegan Hart tem o handicap de não ser um CR excepcional. É que entretanto a equpa foi buscar a sensação holandesa Arensman, 23 anos e 6º na Vuelta e tem duas pérolas inglesas a crescer, Pidcock, 23 anos também e que ainda não decidiu se quer ser um voltista,  e Leo Hayter, 21 anos, que arrasou no Baby Giro de 22. Termino com Daniel Martinez, o gregário que segurou Bernal no Giro de 21 e que em 22 não conseguiu ganhar mais protagonismo. Vai ser o gregário de eleição no Tour de 2023, this much we know. Talvez lhe ofereçam a Vuelta ao lado de gente mais nova.

Em 4º lugar ficou a equipa alemã Bora-Hansgrohe. As suas estrelas de 3 semanas são duas: Jay Hindley, que ganhou o Giro em 22 e Vlasov, que foi 5º no Tour de 22. Quem ganha o Giro habitualmente salta para o Tour no ano a seguir. E Vlasov pode "recuar" para o Giro para o tentar ganhar (já foi 4º), é um bom CR e sobe bem. As restantes figuras de 3 semanas da equipa seriam a) Buchmann, 30anos, um homem que já foi 4º no Tour em 19 mas que depois por doenças e lesões só voltou a correr decentemente em 22, fazendo 7º no Giro. b) Higuita, um colombiano que teima em não conseguir saltar das corridas de 1 semana para as de três. Talvez não queira. Este ano ganhou a Catalunya e foi segundo na Suiça.e teve bons resultados em provas de 1 dia. A um deles será oferecida a Vuelta.

A Intermarché-Wanty é uma equipa belga que teve resultados muito bons em 22. Em 23 vai correr com Rui Costa integrado no seu elenco, vamos ver para o quê. Para três semanas esta equipa só tem um cruzado que luta sózinho contra a vocação (que é outra) da equipa e que se chama Louis Meintjes, um sul-africano que em 22 teve a sua melhor época de sempre: 7º no Tour e 11º na Vuelta. Em 23 não deve fazer muito melhor mas talvez não pior.

A Quick-Step - que em 23 se vai chamar Soudal-Quick Step - tem uma só estrela para três semanas e chama-se Evenepoel. E que estrela! Se houver juízo vai tentar em 23 ganhar o Giro depois de ter ganho em 22 a Vuelta. Se não houver juízo vai correr o Tour e ser trucidado pelo duelo Pogacar-Vingegaard. Com a mesma idade brilhou a seu lado na Vuelta o belga Ilan Van Wilder. Tem a mesma idade. Seria uma pena se este corredor fosse apenas entendido como um gregário.

Atrás da Quick Step aparece-nos uma equipa, a Bahrain, que sofreu bastante em 22, incluindo rusgas policiais por suspeitas de doping, aparentemente não confirmadas. Aqui gente para 3 semanas há bastante. Ha 2 espanhóis, por ex., que não podem ser o mais diferentes um do outro. Um chama-se Landa, e nunca se sabe o que esperar dele. Foi 3º no Giro e 3º na Lombardia, no resto da época desapareceu. Há muito que lhe está prometida uma vitória numa Grande Volta que, provavelmente, nunca irá acontecer. Peio Bilbao, por outro lado, é constante e fiável, embora se perceba quer nunca será homem de pódio. Tem 4 top dez em 3 semanas, 3 no Giro, 1 no Tour. E entregou ao longo da época pontos e pontos à equipa, como mais ninguém fez. Também nesta equipa está um trepador australiano que dá pelo nome de Jack Haig e que nos últimos 2 anos desistiu precocemente do Tour por queda. Em 21 voltou para fazer pódio na Vuelta, em 22 não mais voltou. A equipa tem ainda o suiço Mäder, que fez 5º na Vuelta de 21 mas este ano que passou não confirmou, e um novo colombiano, Buitrago, que pode fazer coisas interessantes. Os veteranos Caruso e Wout Poels estão ambos com 36 anos e épocas de 22 para esquecer e não devem entrar nestas contas. Parece-me a mim que Bilbao vai voltar ao Giro, talvez com Mäder. Landa é imprevisível e talvez se guarde para a Vuelta depois de falhar no Tour. Haig tentará o Tour pela 3ª vez?

A primeira equipa francesa nesta história só tem um homem para as 3 semanas e chama-se David Gaudu que, em 22, finalmente conseguiu um respeitável 4º lugar no Tour. Dificilmente conseguirá melhor mas ainda não deve desistir em 2023 de tentar um pódio na corrida de casa. Pinot já abandonou estas andanças. Outros elementos na equipa poderão fazer alguma coisa se houver uma aposta noutra Grande Volta, nomeadamente Michael Storer, mas isso implicaria retirar a Gaudu o apoio do seu melhor gregário. A euipa tem ainda, recém-promovidos da formação dois trepadores franceses de 19 naos com muita qualidade, Romain Gregóire e Lenny Martinez, vamos ver o que fazem em 23.

A Alpecin é a equipa que vem a seguir e em 2023 vai subir ao nível WorldTour. Sendo a equipa de Mathieu Van Der Poel, não tem corredores com tradição de 3 semanas. E assim deverá continuar - a não ser que decidam oferecer ao neozelandês Jay Vine, que brilhou na montanha da Vuelta em 22, carta branca numa prova de 3 semanas para tentar a CG e não ganhar etapas. Equipa de apoio não terá.

A Cofidis é a próxima equipa francesa na classificação de 2022 e como a Groupama só tem um homem para as 3 semanas e que se chama Guillaume Martin. Mas enquanto o lugar natural de Gaudu é um top 5 o lugar natural de Martin é um top 10. Em 21 fez 8º no Tour e 9º na Vuelta. Em 22 não repetiu nada disso. Terá 30 anos... A Cofidis contratou o espanhol Ion Iazguirre esperando talvez fazer dele um líder. Não aocnteceu. O seu top 10 na Vuelta já tem uns anos em cima. O seu jeito para as provas de 1 semana manteve-se.

A Movistar agora, no fim de 22, só respira Mas, Mas, Mas, depois do seu combativo 2º lugar na Vuelta, o 3º da carreira. Aos 28 anos Eric Mas tem 6 top 10 em Grandes Voltas.  No Tour já foi 5º. Conseguirá melhor em 23? A Movistar não tem mais nada do que isto neste momento, reformado Valverde. Ivan Ramiro Sosa é mais um colombiano que prometeu muito mas tarda em dar o salto. Em 23 fará 26 anos. A equipa tem ainda um americano interessante, Matteo Jorgenson, que fará 24 anos em 2023. Nota: não está confirmada a transferência de Rúben Guerreiro para a Movistar, sendo que o Rúben não é um corredor para 3 semanas, apesar de todas as suas qualidades.

Aparece agora aqui a equipa americana Trek-Segafredo. Nela brilha um homem que já foi de 3 semanas, o holandês Bauke Mollema, mas que agora já não se dá ao trabalho, caçando etapas e outras corridas. Tem 36 anos... Por outro lado Giulio Ciccone é um italiano que tem prometido talvez dar o salto para as 3 semanas. Esteve muto bem no Giro de 21 até desistir. Aos 28 anos quererá ele voltar a tentar a CG do Giro?

A equipa francesa Arkéa Samsic tinha um homem de 3 semanas e que dava pelo nome de Nairo Quintana. O seu valoroso 6º lugar no Tour está agora hipotecado a um positivo para tramadol (que não é doping mas...). Quintana quer sair da equipa e ninguém até agora o quis pelo que... está neste momento sem contrato. O futuro de Nairo Quintana está neste momento por se saber.


A AG2R é mais uma equipa francesa e que tem apenas uma vaza para as três semanas: Ben O'Connor. O australiano foi um surpreendente 4º no Tour de 21 e (apenas?) 8º na Vuelta de 22, depois de ter-se "afundado" no Tour. Deve voltar ao Tour em 23, o ano em que faz 28 anos. A equipa tem um austríaco interessante, Felix Gall, mas é pouco provável que lhe permitam um salto para as provas de 3 semanas.

A Lotto-Soudal vai descer do nível WorldTour em 2023. Não tem corredores para 3 semanas nem nunca foi o seu objectivo tê-los.

A equipa australiana BykeExchange tem um único homem para 3 semanss, Simon  Yates. Yates já ganhou uma Vuelta.  Mas em 22 não terminou nem o Giro nem a Vuelta. Capaz do melhor e do pior - e no melhor podemos pôr o melhor início de uma Grande Volta a que eu jamais assisti (o Giro de 2018 que acabou com a vitória de Froome). Que fará ele em 2023?  Teimosamente, vai voltar ao Giro.

No 17º lugar ficou a equipa Total Energies, que em 2023 continuará a não ser WT, e que não tem corredores para 3 semanas.

No 18º lugar tivémos a americana EF Education. Ainda não se sabe se Rigoberto Urán vai continuar a correr. Mas os seus tempos de 3 semanas já passaram. Entrou Richard Carapaz. E o objectivo para um corredor que já ganhou um Giro e fez pódio em Espanha e em França, deve voltar a ser o Tour. Hugh Carty, pódio na Vuelta em 2020, conseguiu um "penoso" 9º lugar no Giro em 22. Aos 29 anos conseguirá voltar aos pódios? Deve voltar ao Giro, mas muito CR não o vai favorecer. A equipa tem um americano de muita qualidade, Nelson Powless. Aos 26 anos seria uma melhor hipótese por ex., para o Giro, ao ser bom CR.

A equipa "neófita" Israel PremierTech teve um ano péssimo. Em 2023 não vai ser WorldTour e vamos ver como o projecto vai ser reconfigurado. Dois veteranos saltam à vista: primeiro Christopher Froome, que fará 38 anos em 2023. Será sempre simpático vê-lo a correr, sem mais. Já o Jakob Fuglsang, com a mesma idade, poderá ser ainda competitivo em algumas provas mas não em três semanas que aliás, enquanto líder, nunca foi a sua praia. Em tempos que já lá vão foi sim gregório-de-luxo de Nibali... Fica Michael Woods, o melhor ciclista canadiano da actualidade. Com sucesso tardio, o seu 7º lugar na Vuelta em 2017 nunca foi replicado. Embora não pareça, é apenas um ano mais novo do que Froome. Esta equipa vai depender de convites para ir às Grandes Voltas. E nunca irá com a CG como objectivo. 

A equipa holandesa DSM teve um ano de 2022 não muito bom e perde Arensman para a Ineos. Romani Bardet, porém, depois de abandonar um Giro onde aparecia muito bem, arrecadou um 6º lugar no Tour, o seu melhor lugar em 3 semanas desde lugar idêntico no Tour em 2018. Aos 32 anos possivelmente voltará ao Tour em 23 para lutar para ser o melhor francês.

Terminamos a analisar a equipa Astana. Uma equipa emagrecida em orçamento, tem dois homens para 3 semanas. Miguel Angel Lopez, aos 29 anos, conseguiu salvar a época ao ser 4º na Vuelta. Voltará ao Tour? Por outro lado, o homem da casa, Lutzenko, conseguiu um segundo top 10 consecutivo no Tour. Lopez tem fama de ser um mau companheiro de equipa, vidé Movistar. Irão os dois ao Tour ou a equipa enviará Lutzenko por ex. ao Giro para tentar um top 5?

A equipa a seguir, no lugar 21 é uma equipa norueguesa, a Uno-X, Não é World Tour. Nela corre o vencedor do Tour du Avenir de 21, Tobias Halland Johannessen. Estaremos atentos à sua evolução.




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