terça-feira, 18 de março de 2025

Este Cabelo.




Acabei de ler o primeiro livro de Djaimilia Pereira de Almeida, "Esse Cabelo". O computador não parece concordar com a grafia do nome Djaimilia, a mesma leva todo um livro a tentar concordar consigo e com o seu cabelo, crespo e seco porque filha de branco e de negra. "O cabelo é a pessoa.", remata na última página do texto. Assim sendo, o que sou eu?

Reduzido o meu cabelo a escassa expressão entre os meus 25 e 30 anos, assim me possa talvez definir: "escasso". Mas o pouco cabelo que exibo sou eu. Um núcleo, meia dúzia de frases que existem, não mais, e que algures lá foram ditas numa qualquer cerimónia sem aviso nem marcação.  Frases perdidas? De livros feito, nunca nenhum ultrapassou aquele conto da Ana Maria Matute refeito pela Maria Alberta Meneres que, lido na minha infância, atirou a minha imaginação para uma Ilha Maravilhosa onde nada mais era preciso dizer porque todas as palavras já estavam ditas. Acabei de fazer 61 anos de idade e tudo o que ainda possa dizer parece-me hoje pura redundância. 

Assim acontece com algumas doenças que nos roubam o cabelo. Duras e inapeláveis doenças. O cabelo que volta, e demora tanto a voltar, pode não ser o mesmo que partiu. E a pessoa que resta e prossegue pode não ser já a mesma a quem a doença sem atenção nem pudor entrou pela janela.

Por último penso no cabelo da minha filha. 

quarta-feira, 12 de março de 2025

Montenegro e a palavra "pactuar".


Hoje como de costume fui visitar a minha mãe que, pela sua fragilidade, vive e é (bem) cuidada numa residência de idosos. Falámos do costume e fizemos o habitual, sendo o habitual também fazer as palavras do JN. A primeira palavra na 1ª linha horizontal era de 7 letras, um sinónimo de "condescender". Não fomos logo lá, mas a meio da jornada a minha mãe descobriu e disse: "pactuar!"

Pactuar.

Vou rapidamente explicar porque votei PSD/AD nas últimas eleições. Há partidos com projecto e há partidos de causas. Sempre achei que o PS podia ser o partido com o projecto certo para Portugal. Depois de Guterres, Sócrates e Costa, acabei por desistir do PS. António Costa nomeadamente dispôs de uma maioria absoluta a sustentar o que se revelou ser um completo "NÃO-GOVERNO". Em oito anos nada de relevante aconteceu que servisse para modelar o futuro do meu país, nada. António Costa, que chegou ao poder com talvez o pior resultado da história do PS, conseguiu fugir durante oito anos a tomar qualquer decisão com o mínimo de ousadia. Muitos ministros pareciam  "Ministros-Zero". Por isso votei AD. Por não poder PACTUAR com o estado das coisas. Sabendo que não ia concordar com muitas das decisões, mas sim com algumas, até porque uma coisa é a ideia, outra coisa a realidade de uma sociedade castigada pela inacção, pela paralisia. 

Com a subida da votação no partido Chega, essa negação do racional e da coisa política, era pedido ao governo que surgisse das eleições uma prática limpa, impoluta. Sob o risco de a extraordinária votação do Chega continuar a subir, regada pela suspeição e o logo de "todos maus, todos iguais".

E a governação do mais minoritário dos governos começou a governar. Notou-se que não era um "Não-Governo" como o de António Costa, ora acertava bastante (na Educação) ora errava.. muito (na Saúde). A população portuguesa notou isto e respondeu com sondagens positivas que colocaram o novo líder do PS, Pedro Nuno Santos, na defensiva.

Até que aconteceu o caso da empresa familiar de Montenegro com o nome difícil, Spinumviva. Empresa constituida em Janeiro de 2021 à volta aparentemente dos saberes de Montenegro na legislação sobre a protecção de dados mas com objectivos difusos envolvendo variadíssimos aspectos decorrentes do património pessoal e familiar de Montenegro. Ao saber-se primeiro-ministro Montenegro vendeu ou doou a sua quota à esposa e portanto "saiu" da empresa, mas na realidade "sem sair", estando eles casados em comunhão de adquiridos. Não acredito aqui que tenha havido corrupção, não acredito. Espero não estar enganado. Espinho "é" a Solverde.  E Montenegro é de Espinho. Mas foi um erro infantil Montenegro não "congelar" ou até vender esta empresa, como se chegar a primeiro-ministro afinal lhe acontecesse como um aguaceiro de verão, um detalhe apenas no seu percurso profissional, não aquilo que só pode ser, um Serviço Maior ao País que nele votou. Com este erro, esta infantilidade, ou falta de inteligência, eu não devia poder PACTUAR. Se Montenegro não ganhar as eleições, e porque a maioria de votantes vai continuar a ser de direita, "encrava" por completo a governação do País.  Ele que até estava a governar melhor, bem melhor do que António Costa (excepto na Saúde...).

Pelo interesse nacional, Montenegro, indeciso embora, posso eventualmente voltar a votar em ti. Para bem de um país, do qual, distraído, te esqueceste.

Serei condescendente. Pactuarei. Ou não, Montenegro, ou não. 


PS.: apesar de tudo esta sorte temos, nós os portugueses, o Chega andar indiciado por pedofilias, alcoolémias, roubo de malas. Sobre a Ministra da Saúde, agora passado, falarei outro dia.


sábado, 1 de março de 2025

O Solverde e Montenegro. Ou e se fosse eu o Ministro da Saúde?


Para explicar esta trapalhada  entre o Montenegro e a Solverde vamos imaginar uma coisa: e se eu chegasse a Ministro da Saúde?

Trabalhador da saúde - médico - no Hospital de São João no Porto, 35 anos de salários seriam imediatamente questionados, o que é um salário senão uma avença! E todos mas todos estariam à espera de avaliar o meu favoritismo em relação ao "meu" hospital. Seria obrigado a pedir escusa de decisão sobre ele, etc. A minha mulher, trabalhadora da saúde também - enfermeira - durante 37 anos na mesma casa, ao receber o seu salário, seria eu na realidade a receber esta outra avença, a minha mulher feita transparente, não contando. Mas não contando ela teria que se despedir não só do São João mas também do grupo privado de saúde onde trabalha (outra avença), pensando bem, não fosse eu favorecer, etc.

Chamem-me Montenegro e casem-me com a esposa dele e está tudo explicado, não?