Hoje como de costume fui visitar a minha mãe que, pela sua fragilidade, vive e é (bem) cuidada numa residência de idosos. Falámos do costume e fizemos o habitual, sendo o habitual também fazer as palavras do JN. A primeira palavra na 1ª linha horizontal era de 7 letras, um sinónimo de "condescender". Não fomos logo lá, mas a meio da jornada a minha mãe descobriu e disse: "pactuar!"
Pactuar.
Vou rapidamente explicar porque votei PSD/AD nas últimas eleições. Há partidos com projecto e há partidos de causas. Sempre achei que o PS podia ser o partido com o projecto certo para Portugal. Depois de Guterres, Sócrates e Costa, acabei por desistir do PS. António Costa nomeadamente dispôs de uma maioria absoluta a sustentar o que se revelou ser um completo "NÃO-GOVERNO". Em oito anos nada de relevante aconteceu que servisse para modelar o futuro do meu país, nada. António Costa, que chegou ao poder com talvez o pior resultado da história do PS, conseguiu fugir durante oito anos a tomar qualquer decisão com o mínimo de ousadia. Muitos ministros pareciam "Ministros-Zero". Por isso votei AD. Por não poder PACTUAR com o estado das coisas. Sabendo que não ia concordar com muitas das decisões, mas sim com algumas, até porque uma coisa é a ideia, outra coisa a realidade de uma sociedade castigada pela inacção, pela paralisia.
Com a subida da votação no partido Chega, essa negação do racional e da coisa política, era pedido ao governo que surgisse das eleições uma prática limpa, impoluta. Sob o risco de a extraordinária votação do Chega continuar a subir, regada pela suspeição e o logo de "todos maus, todos iguais".
E a governação do mais minoritário dos governos começou a governar. Notou-se que não era um "Não-Governo" como o de António Costa, ora acertava bastante (na Educação) ora errava.. muito (na Saúde). A população portuguesa notou isto e respondeu com sondagens positivas que colocaram o novo líder do PS, Pedro Nuno Santos, na defensiva.
Até que aconteceu o caso da empresa familiar de Montenegro com o nome difícil, Spinumviva. Empresa constituida em Janeiro de 2021 à volta aparentemente dos saberes de Montenegro na legislação sobre a protecção de dados mas com objectivos difusos envolvendo variadíssimos aspectos decorrentes do património pessoal e familiar de Montenegro. Ao saber-se primeiro-ministro Montenegro vendeu ou doou a sua quota à esposa e portanto "saiu" da empresa, mas na realidade "sem sair", estando eles casados em comunhão de adquiridos. Não acredito aqui que tenha havido corrupção, não acredito. Espero não estar enganado. Espinho "é" a Solverde. E Montenegro é de Espinho. Mas foi um erro infantil Montenegro não "congelar" ou até vender esta empresa, como se chegar a primeiro-ministro afinal lhe acontecesse como um aguaceiro de verão, um detalhe apenas no seu percurso profissional, não aquilo que só pode ser, um Serviço Maior ao País que nele votou. Com este erro, esta infantilidade, ou falta de inteligência, eu não devia poder PACTUAR. Se Montenegro não ganhar as eleições, e porque a maioria de votantes vai continuar a ser de direita, "encrava" por completo a governação do País. Ele que até estava a governar melhor, bem melhor do que António Costa (excepto na Saúde...).
Pelo interesse nacional, Montenegro, indeciso embora, posso eventualmente voltar a votar em ti. Para bem de um país, do qual, distraído, te esqueceste.
Serei condescendente. Pactuarei. Ou não, Montenegro, ou não.
PS.: apesar de tudo esta sorte temos, nós os portugueses, o Chega andar indiciado por pedofilias, alcoolémias, roubo de malas. Sobre a Ministra da Saúde, agora passado, falarei outro dia.