Acabei de ler o primeiro livro de Djaimilia Pereira de Almeida, "Esse Cabelo". O computador não parece concordar com a grafia do nome Djaimilia, a mesma leva todo um livro a tentar concordar consigo e com o seu cabelo, crespo e seco porque filha de branco e de negra. "O cabelo é a pessoa.", remata na última página do texto. Assim sendo, o que sou eu?
Reduzido o meu cabelo a escassa expressão entre os meus 25 e 30 anos, assim me possa talvez definir: "escasso". Mas o pouco cabelo que exibo sou eu. Um núcleo, meia dúzia de frases que existem, não mais, e que algures lá foram ditas numa qualquer cerimónia sem aviso nem marcação. Frases perdidas? De livros feito, nunca nenhum ultrapassou aquele conto da Ana Maria Matute refeito pela Maria Alberta Meneres que, lido na minha infância, atirou a minha imaginação para uma Ilha Maravilhosa onde nada mais era preciso dizer porque todas as palavras já estavam ditas. Acabei de fazer 61 anos de idade e tudo o que ainda possa dizer parece-me hoje pura redundância.
Assim acontece com algumas doenças que nos roubam o cabelo. Duras e inapeláveis doenças. O cabelo que volta, e demora tanto a voltar, pode não ser o mesmo que partiu. E a pessoa que resta e prossegue pode não ser já a mesma a quem a doença sem atenção nem pudor entrou pela janela.
Por último penso no cabelo da minha filha.
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