quarta-feira, 1 de abril de 2015

Espuma de Sexta - 1.

A D.Palmira criou uma minha doente antiga, a Ernestina. A D. Palmira teve um AVC e agora está também na minha consulta, calhou. Teve o AVC como se nada. Oitenta e seis anos. Na consulta é ela que manda e dispõe. Eu concordo e pouco mais faço. A Ernestina observa, deliciada. A Ernestina era uma doente hipertensa refractária até que o seu marido morreu, de morte natural, esclarece-se. Está agora em monoterapia. Se algum pico hipertensivo acontece é indagar do filho os trabalhos. Se eu tivesse conhecido a D. Palmira antes teria percebido a Ernestina mais cedo: era perguntar-lhe.

O Sr.Capitão teve um AVC. Este (como os outros) não é o seu nome. A cabeça está toda ali, excepto a parte que faz mexer o lado esquerdo, essa não está. Natural e residente em Fânzeres, Gondomar. Trabalhou com brilhantes em novo, décadas de arte. Terá ido fazer um curso à Dinamarca, ele até teria merecido o 2º lugar logo atrás do italiano, sem dúvida o melhor, mas havia um dinamarquês… O Sr. Capitão é casado com a Maria Emília, um mar de fúria e de rugas. Não param de discutir, a consulta uma extensão do que será lá fora. Olhos vivos são quatro, mas a paixão que já terá sido muita e furiosa agora é esquartejada pelo medo da morte. Às vezes fogem um do outro. Vão morrer a chorar pelo outro, ido ou por partir, está escrito porque escrevo eu. A Maria Emília não gosta de médicos. E o Sr. Capitão explica-me que existem três tipos de brilhantes: os "universais" – os mais fracos, os "de cu-rapado" – e explica-me com as mãos porque se chamam assim, e os "de pêlo", que brilham mais. Não há no Google um confirmar desta classificação mas nem por um minuto duvido.

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