segunda-feira, 23 de março de 2020

Edgar Degas (1834-1917)

O impressionismo aglomerou não só a tríade de paisagistas constituída por Monet, Renoir e Pissarro, acompanhada de algumas segundas figuras, mas também alguns outros pintores que, não partilhando a temática, seguiam o passo que era dado ao ir mais além do que o realismo, realismo que, se tinha quebrado tabus na temática pictórica, não era suficientemente livre no gesto de pintar.
Degas, seis anos mais velho do que Monet, está na temática da pintura no espectro oposto deste mas viajou no mesmo comboio portanto. Nascido em família abastada só tardiamente necessitou de vender quadros para sobreviver. Viajou até Itália para estudar os clássicos. Era e sempre foi um exímio desenhista, com a cor a sublinhar apenas o que o desenho do quadro pretendia dizer. Relacionou-se portanto mais com Manet do que com Monet.
A sua temática era a das formas, do movimento e da complicada geometria das mesmas. Daí as bailarinas, os cavalos e as corridas, os nus na sua higiene íntima, mas "daí" porque nestas séries Degas buscava o desenho e a composição original, crua mas virtuosa. A beleza nos quadros de Degas é a do quadro, não a dos objectos do mesmo. Marcou portanto Toulouse- Lautrec.
Acabou por cegar completamente em 1911, pintando pastéis até quando pôde.
O primeiro quadro é dos seus mais conhecidos e será um retrato de um lugar e de uma época. "Dans un Café" ou "L'Absinthe" foi visto como uma denúncia da conhecida bebida, ou não, apenas um retrato seria. Pintado em 1875-76, foi vaiado na sua primeira exposição e usado como cartaz para a proibição do absinto, muito para desgosto do próprio pintor.
Edgar Degas - In a Café - Google Art Project 2.jpg
Por ver cada vez pior, a técnica de pintura de Degas foi-se tornando cada vez mais "rude", preferindo a pintura a pastel. Este é um óleo pintado em 1890 que parece um pastel. A composição perfeita com o uso esparso da cor quase nos faz não reparar na esguia sombra de um homem que, com o seu chapéu alto, vagueia entre as bailarinas, um patrono que, pela sua qualidade/dinheiro tinha este direito ao voyeurismo. Degas retrata-se ou critica ferozmente? Possivelmente a última hipótese. Muitas bailarinas eram obrigadas a encontrar um "protector", ou seja, prostituir-se.
Isto das bailarinas como tema preferido por Degas e a razão de o ser complica-se com uma série de pastéis que Degas pinta sobre a mulher a banhar-se. Nenhuma delas é bonita, elegante, cativante sequer, ou se-lo-á apenas pela evidente nudez ou pelas posições captadas. Um exemplo abaixo, "Le Tub", 1885-6. A alegada misoginia destes quadros choca com as bailarinas acima. Degas não teve nenhum relacionamento fixo conhecido, feminino ou outro durante toda a sua vida. Alegava só ter um coração e por isso não poder suportar duas paixões. Morreu sozinho seis anos depois de cegar por completo.  

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