domingo, 4 de abril de 2021

Do Colonialismo - 1.

 

 

Neil Young, no seu álbum "Zuma", de 1975, tem uma canção chamada "Cortez, The Killer". Nesta canção o canadiano Neil Young destrói o heroísmo do espanhol conquistador do Império Azteca. A fortuna espanhola baseou-se na fortuna destes aventureiros que, seguindo a rota aberta por Colombo, destruiram os dois grandes impérios "Americanos". A história das suas atrocidades, que eu até li em livros de "divulgação juvenil", tornal difícil promovê-los a heróis de quem quer que seja. E era assim que antigamente se fazia a divisão: nós os portugueses, descobrimos. Os espanhóis conquistaram. Hoje sabemos diferente. Sabemos?

O primeiro século - ou século e meio - da expansão ultramarina portuguesa começa com uma conquista, Ceuta. E termina com a união das coroas ibéricas. Quando ressurgimos independentes nos meados do século XVII a manutenção do Império no Oriente já era apenas uma lembrança fugaz do que tinha sido, as rotas comerciais tomadas pelos holandeses e pelos ingleses. Restava-nos o Brasil. E assim foi até este Brasil, qual jangada de pedra bem maior do que o país de origem e já ab initio encalhada noutro continente, se ter despedido de nós. Um Brasil que - por muito que doa aos brasileiros o eu dizê-lo - era ainda em 1822 uma gigantesca invenção portuguesa tropical. Só depois vieram os emigrantes de todos os lados, italianos, libaneses, alemães, japoneses, etc., etc.

Podia eu agora começar com o elogio desta invenção tropical portuguesa, o Brasil. Mas não. Portugal não teve um Hernán Cortés nem um Francisco Pizarro. Foi tendo pequenas réplicas destes durante três séculos. E assim quase extinguiu a população índia autóctone e, depois, dizimada esta pela perseguição e pela doença, importou milhões de escravos negros do continente africano. Primeiro e sempre foi o açúcar, depois o ouro, o café. Repete-se a frase nos livros sérios de história: o Brasil não teria acontecido sem a escravatura. Quantos escravos foram traficados para o Brasil? A parte mais considerável dos dez milhões que foram exportados de África (estimativa grosseira) durante três séculos. Quem os traficou? Numa elevada percentagem barcos portugueses. E aqui chegámos. Os nossos Pizarros e Cortes'es foram estes todos durante todo este tempo. Mais ainda: quem fez o Brasil em toda a sua extensão? Os bandeirantes. "Filhos em primeira e segunda geração de portugueses" (portanto portugueses) ou militares ou civis tresmalhados de várias outras nações, montavam as "bandeiras" para penetrar terra dentro, descobrir ouro e outros metais e mercadorias, escravizar e matar índios, recuperar ou matar escravos negros fugidos. O grosso das terras do interior do Brasil, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, vieram assim ter à Coroa Portuguesa. Afinal, olhando para o mapa da América do Sul, nós fizemos à metade direita, o Brasil, o que a Espanha fez à metade esquerda. Com a diferença que fomos mais eficazes a exterminar os índios e importamos muitos mais escravos negros.

O Brasil foi um feito, mas um terrível feito.

 

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