quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Portanto, Novembro começa hoje (17 ideias sobre).

 


Na antevéspera de mais uma reunião entre Manuel Pizarro e os sindicatos lembro que o que ameaça paralizar pela primeira vez em mais de 40 anos o SNS não é as reivindicações dos sindicatos mas sim o movimento de recusa de fazer mais do que 150 horas extraordinárias, algo que não é uma greve e portanto é perfeitamente legítimo e legal e pode seguir assim até 31 de Dezembro. Ou seja, as propostas de Manuel Pizarro, mais do que convencerem os sindicatos têm sobretudo que convencer os milhares de médicos que entregaram o papel de escusa de mais horas extraordinárias. Pessoalmente acho difícil que isso aconteça, porque na classe médica ninguém confia em Manuel Pizarro. Portanto, Novembro começa já hoje.


Lembrando: quando foi que o SNS começou a correr mal? 


1. Quando a Dedicação Exclusiva foi extinta a remuneração adequada de muitas especialidades médicas terminou aí. Qualquer médico do SNS para ter uma remuneração digna trabalha em mais do que um sítio, com maior ou menor facilidade consoante o mercado das suas especialidades. Este empobrecer das remunerações alimentou em parte o monstro das bolachas das Horas Extraordinárias, uma forma de suplementar um ordenado indigno. 

2. Muitas especialidades, sobretudo as cirúrgicas mas não só, perceberam que nos privados poderiam ter o melhor de dois mundos: uma remuneração muito melhor e boas condições de trabalho. O apelo de um grande hospital público, com a sua patologia variada, o diálogo interpares, a adrenalina da urgência, tornou-se cada vez mais longínquo, menos audível.

3. A criação das USF-B sustentou a ideia de que os médicos eram sensíveis às cenouras dos suplementos e dos incentivos, às vezes à custa de algumas opções discutíveis e nem sempre favoráveis aos doentes. Tenho dúvidas se as USF-B vieram dignificar a mais vilipendiada das especialidades médicas, a MGF.

4. Hoje cerca de 45% dos médicos não estão no SNS. Muitos dos melhores médicos saíram do SNS. Com várias especialidades o meu diálogo agora tem que ser muito mais escolhido. Com quem eu queria falar foi embora. Antigamente todos os melhores estavam no SNS. Hoje não. A ideia não é apenas que haja um SNS. é que este exista e nele estejam os melhores profissionais e não apenas uns quaisquer.

5. O propalado aumento do investimento no SNS acontece muito porque a Medicina "nova" é sempre cada vez mais cara mas sobretudo porque houve a pandemia - os intensivos quase duplicaram no país e houve bastante admissão de profissionais direccionada para a pandemia.

6. No serviço de Medicina Interna em que trabalho há uma enorme qualidade nos internos que acompanho. Quase metade dos que acabam a especialidade escolhem ir para a privada embora pudessem ficar no SNS. Não querem ser mal pagos, trabalhar horas em fim e não serem valorizados.

7. Neste momento não se pode pedir aos médicos para trabalharem mais. Se há mais trabalho para ser feito é preciso mais médicos para o fazer. É preciso retê-los no fim da especialidade. É preciso ir buscá-los à privada com condições e dinheiro. Não há milagres. 

8. A urgência será resolvida entre os cuidados primários e os hospitais num trabalho que vai levar vários anos a acontecer. Serão, repito, precisos mais profissionais para isso, num lado ou no outro. 

9. As listas de espera de consultas e cirurgias terão que ser contratualizadas com privados enquanto não se decide se para isto é preciso redimensionar o SNS. 

10. O Médico de Família deve ser o pilar primário do SNS.

11. O Médico de Família deve ser o pilar primário do SNS.

12. Hoje não há um único médico que confie em Manuel Pizarro. Nem talvez o próprio Manuel Pizarro.

13. As reuniões sucessivas com os sindicatos pretendem apenas a vitória pelo cansaço. Ou colocar neles o ónus do desentendimento.

14. A descida das 40h para as 35 garante um aumento de quase 15% do valor da hora. Mas ninguém fica a ganhar mais. Com este truque já foram enganados os enfermeiros. 

15. A boa educação para todos é hoje apenas um mito urbano. O SNS vai pelo mesmo caminho.

16. E sim, é mesmo uma questão de dinheiro. Perguntem aos privados se não é.

17. Pode não ter parecido mas nunca deixei de pensar no português doente e utente do SNS.



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