domingo, 17 de maio de 2020

Vítimas de um sucesso ou calha que nem todos temos razão.

Em 1993 fui a um congresso sobre hipertensão em Milão. Foi uma viagem a vários títulos memorável. A Lombardia é conhecida pela qualidade da sua medicina. Na área da hipertensão Milão dava então cartas, e não só devido ao Professor Giuseppe Mancia, de quem eu li dezenas de artigos e que hoje tem 80 anos mas então tinha a idade que eu tenho agora.

Já não me lembro se o primeiro positivo foi internado no Santo António ou no São João.  Os primeiros casos internados no Hospital de São João ficaram em Infecciosas,  que tem uma enfermaria e camas de intensivos. Rapidamente estas camas não chegaram e Infecciosas invadiu Ginecologia,  depois Cirurgia Vascular,  a seguir parte dos dois pisos da Medicina Interna e também  Ortopedia.  O internamento de ORL passou a servir como câmara de espera para os doentes pendentes de internamento por qualquer razão e onde o resultado da fatídica zaragatoa ainda não era conhecido. Tudo isto no que diz respeito a internamento de enfermaria. As camas de intensivos de Infecciosas rapidamente deixaram de chegar. Os doentes Covid 19 invadiram os Cuidados Intensivos do piso 6, que duplicou as camas. Depois a Unidade Pos Anestésica do piso 5 também virou Intensivos Covid 19 +, e idem os Neurocríticos do 8. Todas estes espaços tinham ou criaram camas de Intermédios anexas mas, porque não foram suficientes,  os Intermédios da Medicina Interna no 4 também passaram a ser Covid 19 +.
Não me vou alongar sobre toda a rotina hospitalar que teve que parar, os profissionais de saúde infectados. Falar da extensa equipa de Infecciologistas, Internistas, Intensivistas, Emergencistas e uns quantos de outras Especialidades que se voluntariaram e que trabalharam ao lado de uma equipa muito ampliada de  Enfermeiros e Auxiliares, grande parte deles sem experiência prévia  de Intensivos.
Nada disto aconteceu por capricho ou mania. Foi preciso que acontecesse. 
Ah, já me esquecia do Serviço de Urgência.  Foi pública a adição do hospital de campanha do INEM. A Área Laranja foi transformada numa área para 'Respiratórios e Covid 19 positivos". A Área Amarela recebeu como extra os laranjas não respiratórios e, de área atravancada com todo o tipo de doentes passou a área ainda muito mais atravancada com doentes. Na Urgência montou-se uma TC com objectivo de estudo pulmonar rápido.  Tudo isto mantém-se, embora a tenda INEM já tenha sido desactivada.

Passou um mês sobre a expansão máxima do polvo Covid 19, parte, repito parte das alterações que aconteceram ao meu Hospital foram revertidas. Ainda se mantêm bastantes.

São muitos os artigos hoje nas redes sociais sobre o exagero do Estado de Emergência, o disparate do Confinamento, a mariquice do Distanciamento Social e do uso de máscaras. Artigos escritos as mais das vezes, surpresa, por licenciados, doutorados e outros tarados.

Como se a Itália tivesse sido um azar "deles", a Espanha uma patetice "deles", Manaus e Nova Iorque coisas de um "outro hemisfério", por aqui impossíveis.

Eu sei o móbil que explica essa revoada de artigos: o dinheiro. O dinheiro que nos vai fugir a todos porque já há uma crise. Uma crise que se adivinha como nunca vimos. Embora não acredite que nenhum desses escritores vá passar fome, como já há em Portugal.

Meus Senhores, parai um pouco de escrever essas merdas e ide-vos foder!

1 comentário:

  1. Estou eternamente grata a todo o pessoal que, na linha da frente, abnegadamente ajudou e continua, a salvar vidas - porque o contágio é real e vai continuar por aí.
    Vou abraçar a vida e, devagarinho retomar a nova normalidade mas, cumprindo todas as regras para me proteger a mim e à minha familia.

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