quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Há neve no Montemuro - 2.

Saí de Cinfães um pouco descrente. A temperatura que o meu carro acusava era a mesma desde Valongo e não prenunciava neve no Montemuro. Uma hora levava já de caminho, era tarde para desistir e a estrada estreita para inversões de marcha.
Finalmente abandonei a companhia forte do rio Douro e comecei a subir paralelo a um vale encaixado dum pequeno afluente do grande rio chamado Bestança. Rede Natura 2000, ah pois é! A tarde já descia e os tons amarelos marcavam o outro lado do vale, onde a espaços aldeias inclinadas dominavam campos e socalcos. Aqui e ali um verde autóctone. Muito ao fundo um rio. Pedra e pedra




e pedra. Eu subia, parava, fotografava e subia. Finalmente  o Portugal de que eu gosto mais, este. A montanha humana onde Portugal nasceu. E o termómetro começou a descer. Curvas e curvas, o dourado do outro lado, deste lado o começo da sombra da noite, no nosso inverno tão precoce.

Até que comecei a ver ao fundo as eólicas da Gralheira e do Montemuro e algumas zonas mais claras – granito polido, seria?
Uma curva mais e a geada transforma-se em escassa neve que começa a debruar o caminho. A atenção redobrada ao gelo na estrada não impede o êxtase do espectáculo da neve cada vez mais presente. O Montemuro é bastante descampado. Nas Portas do Montemuro, onde os concelhos de Cinfães e Castro Daire – isto é, o Douro e a Beira Alta, se comunicam, a altitude ultrapassa os 1200 metros, ou seja 200 metros mais alto do que o Alto de Espinho na IP-4. Ali está uma estação de serviço da Galp, a mais alta também de Portugal, segundo me disse o senhor que me serviu um café. O carro acusava meio grau negativo. À mão direita um estradão gelado levaria até às eólicas e ao ponto mais alto da serra. Olhando para trás o Douro, ainda e sempre mas, pela distância, feito uma poça de brincar. A primeira vez que fiz as Portas do Montemuro foi a partir de Castro Daire. Assim avancei uns kms  para sul e voltei para trás, para confirmar. Assim o nome da serra ganha significado. À nossa frente um enorme muro de pedra rolada impede a passagem. Cada pedra tem uma mancha branca na capa nascente, escondida do sol. A estrada vira à esquerda para evitar este muro e franquear as portas do dito. Assim eu fiz e, por ser quase noite, voltei pelo caminho mais lógico,
Cinfães, Entre-os-Rios, Rio Mau, Gondomar. Em Rio Mau, terra que me fornece doentes e lampreias, cumprimentei mentalmente a minha amiga São. Eu não gosto de lampreias mas gosto da São e conheço quem goste de lampreias, portanto tudo bem. Em Rio Mau a EN  108 finalmente desce ao lado do rio Douro e este empresta-nos com a sua presença todo o seu poder, mesmo de noite.

Cheguei tarde a casa porque tinha havido um acidente na VCI. Mas não importa: tinha pisado neve!

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