sábado, 13 de agosto de 2016

Dos incêndios.

Este ano descobri a beleza única dos contrafortes do Alvão - lado sudoeste - que modelam o caminho da N 304. A nudez da serra existe porque este lado do Alvão - um imenso pinhal - ardeu quase todo em 2013. 

Na Estrada para o Furadoruro existe um terreno que há 30 anos não se vende. É a antiga casa e quinta dos meus avós. Cuja metade traseira era "o pinhal". Terreno rodeado por casas e fábricas, aparece ainda como rústico no cadastro municipal. Tentou mudar-se o estatuto junto da Câmara, debalde. O "pinhal", esse, que já infestado estava há 30 anos por eucaliptos, foi já cortado várias vezes para lenha e vai rendendo um dinheiro mínino. Ninguém o limpa - logo a multa é obviamente possível, embora o subcoberto não seja muito abundante, a terra por baixo pouco mais do que areia. 

Num jantar de família na Galiza vai para muitos anos ouvi - longamente, o vinho era bom... - um rasgado elogio às celuloses portuguesas, graças a elas os baldios improdutivos galegos eram hoje uma enorme e produtiva monocultura do eucalipto, os engenheiros portugueses chegavam às aldeias, reuniam com as forças vivas, diziam, convenciam, compravam. O elogio parecia-me sincero e era autóctone. Assumo que se foi assim na Galiza então em Portugal...

Por último um dos livros que mais gostei de ler em português, muito novo, foi o "Quando os Lobos Uivam" de Aquilino, que versa a "pinhalização" forçada dos baldios portugueses no Estado Novo e que termina num enorme (spoiler) incêndio...

Os quatro parágrafos acima são as minhas ressalva de conflitos de interesse. Posto isto...

Odeio as plantações de eucalipto. São feias. SÃO FEIAS. Se é esta floresta que queremos defender, eu vou ali e já volto. São verdadeiros fósforos esguios de aviário que meses de chuva - choveu até junho - rodearam de um subcoberto enorme. Os incêndios eram uma inevitabilidade. Um eucalipto antigo, velho, imponente, como há pelo país fora, até em Serralves, é uma árvore lindíssima, impressionante. Mas não é disto que estamos a falar. Os eucaliptos ardem e vão continuar a arder. Arouca, por exemplo, vendeu-se como Geoparque, etc. Mas mais de metade do cncelho está completamente eucaliptado. As aldeias abandonadas ou envelhecidas já não têm leiras que as rodeiem, rebanhos que cortem o mato. Muitos proprietários só vêm à aldeia no verão, quando as queimadas são proibidas. Não há presos que cheguem para todo este mato. Os acessos são difíceis, a montanha montanha é. As pequenas aldeias ali pelo meio perdidas fixam os meios e obrigam a deixar arder. Nenhuma área do concelho de Arouca é realmente uma Área Protegida. Expliquem-me o que é a Rede Natura 2000 na prática... O que se diz de Arouca aplica-se a Águeda, Anadia, Sever do Vouga...

Entre o Varzigueto e Cavernelhe está outra vez a arder o pinhal do Alvão. Isto sim, é Parque Natural. Pelo que sei, as Áreas Protegidas em Portugal vivem com orçamentos diminutos e com vigilância escassa. O Ramiscal no Gerês já esteve também a arder. A memória florestal do país está a arder. Aqui sim, há crime. De quem ateia. A madeira queimada do Alvão vai ser vendida a alguém... Crime também dos governos que poupam no que Portugal tem de melhor.

A palavra prevenção enche a boca de todos os palermas comentadores do costume. Até a minha... O eucalipto no Norte de Portugal será sempre isto: dinheiro fácil nove anos, uma enorme fogueira um ano. Se metade do país está por cadastrar, é melhor irmos para banhos e esperar que passe... Vigilância que eu quero? Antes do mais e muita nas Áreas Protegidas! O resto, quanto menos eucalipto melhor... e quanto mais se conseguir reavivar o verdadeiro interior menos mau! Em Setembro lá voltarei a Macieira de Alcôba, a Castanheira, a Varzigueto, para ver como ficaram estas minhas terras...

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