domingo, 21 de agosto de 2016

O que resta da Serra da Freita.

A entrada que mais se usa para subir à Serra da Freita é por Chão de Ave, subindo a M511 até ao Merujal. Os sinais do incêndio começam a meio da encosta, ocupam todo o lado direito, seja eucalipto, mato ou pinhal, pouco antes de chegarmos ao alto a terra queimada começa a ocupar  os dois lados. E chegamos ao Merujal. A terra queimada é quase toda a terra. As poucas casas tiveram as chamas à porta. E também o parque de campismo. Sendo Domingo o normal seria já existirem muitos carros por aqui parados. Hoje nem um. No terreno queimado aqui e ali pequenas fumarolas, como se o calor pretérito ainda não tivesse acabado. 

Passado o Merujal, meti para a Mizarela. O terreno queimado continuava na encosta sul. Uma zona, por exemplo, onde meses antes tinha estado a brincar na neve com a minha filha, queimada também. Sobe-se, abrem-se os horizontes, vemos por onde o incêndio progrediu até ao concelho de Vale de Cambra, até Cepelos. Ora mato ora eucaliptos. 
Chego ao miradouro da Frecha da Mizarela. Esta está com pouca água. Por um curioso capricho o fogo parou pouco antes do V onde se localiza a queda de água. Os mirones do costume no miradouro, de calções, crianças anexas. Do outro lado Castanheira e por trás o monte onde fica o Radar Meteológico. Dúvidas sobre o que ardeu e o que não. Leiras ardidas, seguramente. E parte da encosta para sul. 

A estrada que leva a Castanheira é uma estrada que chega a uma transição e pode derivar para S.Pedro do Sul ou para Vale de Cambra. Pouco depois da Mizarela o mato e o campo volta a estar todo queimado. O vale cortado da ribeira de Castanheira ardeu todo. Consigo respirar fundo, quase todas as leiras pegadas à aldeia de Castanheira se salvaram. Aqui e ali o gado solto escolhe a pouca erva que sobrevive. Passo pelo centro interpretativo das Pedras Parideiras - fechado. O envolvente do terreno das pedras parideiras ardeu todo. Um carro da RTP está por ali parado. Onde o asfalto termina viro à direita e deixo o carro junto a um cruzeiro. Vou verificar o que aconteceu no centro de Castanheira. Uma jovem da RTP conversa com alguém, curiosamente sobre o Funchal. Verifico que duas casas abandonadas no meio da aldeia arderam, bem como o terreno em frente. Ao voltar atrás cruzo-me com o gado. A mulher idosa que os soltou e conduz pergunta alguma coisa aos operadores de câmara, como se tivesse sido um take. 

Despeço-me da Serra da Freita descendo para Cepelos. Uns motards descem a serra pelo meio das cinzas. Que se foda a ecologia e o desgosto, é Domingo! Nas poucas zonas não queimadas, algumas famílias preparam-se para almoçar. Cepelos teve também muita serra ardida. Acabo por chegar a Vale de Cambra, terra crescida armada em cidade, os incêndios uma má lembrança. Em dez quilómetros, rodeado de eucaliptos por todo o lado, chego depois a Oliveira de Azeméis.

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