quarta-feira, 18 de julho de 2018

Zero em Comportamento - uma exposição em Serralves.

Qualquer Museu de Arte arrisca-se a ser um Museu da História da Arte ao invocar sempre o passado para construir uma exposição no presente. "Zéro de Conduite" é uma média metragem de Jean Vigo de 1933, autobiográfica qb. Nela o realizador, usando uma forma cinematográfica inovadora, filma a revolta de um internato de jovens. Anos trinta...

No texto de introdução fala-se de irreverência, desrespeito, etc. Contra a Escola, contra o Museu. Mas nesta exposição as peças não são para tocar, os vigilantes vigiam. Um vídeo fala-nos do record da visita mais rápida ao Louvre, feita sobre patins, nove minutos e algo. Não vi  ninguém a patinar na exposição de Serralves. No mesmo vídeo aparecem as imagens dos protagonistas de "Ferrybueller's Day Off" a visitar alegremente o Art Institute of Chicago. John Hugues um revolucionário?

Vejamos bem: onde está a escola retratada por Vigo? Morta e enterrada. Sou velho quanto baste para ter vivido ainda os tempos do castigo corporal na escola portuguesa. Outras rebeldias aparecem, nos materiais usados, nas atitudes anti-artísticas, etc. Há o desperdício absoluto de um Jaguar dos antigos quase completamente destruido. E depois aparecem a mulher e o sexo. When porn is the new normal, tudo o que aparece, incluindo os testículos manipulados de Bruce Nauman, parece datado. E umas peças de auto-estimulação feminina serão, acho, perfeitamente incapazes de atingir o prometido pelo título: "The Pleasure Is All Mine". Não, Patrícia? Embora a emancipação sexual feminina ainda hoje seja um tema MUITO actual.

A sala principal tem um gradeado, umas jaulas, que ampliam a lógica da exposição. Circulamos a ver as peças com se numa prisão, mas com as portas abertas... 
No corredor aparece o importante "El Pasamanos" de Juan Muñoz, que há anos nos (eu estava com a Catarina) foi "explicado" por um vigilante na primeira versão do Espaço Axa nos Aliados. Um canivete oculto colado a um corrimão é um engano intemporal, uma traição. Não uma rebeldia.

Arte actual? Gostei de uma instalação de vídeo onde um homem com dois sacos pendurados das mãos impede o caminho a uns carrinhos de supermercado, imitando o herói de Tiananmen. 
Arte de hoje? Uma peça sobressaiu sobre as demais: "Liberté, Egalité, Beyoncé": em letras douradas sobre fundo escuro estas palavras estavam escritas, com um vídeo abaixo à direita onde uma jovem nos mostra a língua. Isto e a referência a "Ferrybueller's..." ficou-me.

A Revolução só tem sentido se criar Esperança. Como a que eu senti quando um vigilante me chamou à atenção, educadamente, para o "El Pasamanos" de Juan Muñoz, há meia dúzia de anos. 






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