quarta-feira, 8 de julho de 2015

Eu e a Grécia.

No domingo passado cometi a estupidez de tentar com o meu Seat Altea discutir com um camião TIR com reboque. Eu tinha a proridade, o camião TIR tinha a tonelagem. Foi difícil descobrir qual a grelha de protecção do camião que quase destruira a lateral do meu carro. Foi uma estupidez - minha. Felizmente, a velocidade era pouca e ninguém se magoou, só o Seat. Fomos todos civilizados, o condutor doTIR tinha metade da minha idade e nunca tinha tido um acidente. A brigada da GNR chegou ao detalhe de se oferecer para trazer água ou algo de comer para a Catarina, que placidamente jogava PSP no banco de trás enquanto não chegou o táxi, o reboque.
Não consigo deixar de pensar que o meu Seat Altea é - tipo - a Grécia, e o camião TIR é - tipo - a Europa. 
A Grécia tem razão, mas a Europa tem a tonelagem.

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A Europa decidiu um caminho e esse caminho é o capitalismo. Com uma face mais ou menos humana conforme as capacidades do país em questão e a bússola do governo que conduz. O Euro é o fio de prumo deste modelo de vida pelo qual a Europa agora alegremente caminha, feito à medida da moeda antes mais forte do continente, o Marco alemão. Um caminho perfeito para o coração centro-europeu. Mas difícil de seguir pelas periferias, Portugal, por ex., ou a Grécia. Vamos imaginar que a Europa é um corpo humano. Se em anemia, as extremidades entram em vasoconstrição e ficam frias, podendo até a médio prazo, correr risco de lesão, tudo isto para que os órgãos vitais, o centro do corpo, permaneça bem. Tal qual. Uma medida prudente nestas circunstancias é agasalhar a periferia. Não é - na Europa - o que está ser feito. 
Não gosto muito deste governo Grego que agora temos. E uso o plural porque, na realidade, as decisões de todos os governos europeus hoje connosco mexem. Não gosto muito do Syriza. Curiosamente ninguém refere o quão mal a Grécia tem sido governada nos últimos dez-quinze anos, bem antes do Syriza. Não foi o Syriza a falsear as contas. Não foi o Syriza que sempre fechou os olhos a uma evasão fiscal maciça e subsidiou, por ex., ao que me constou, a higiene manual. 
A Grécia é, efectivamente, dos países com menos experiência de democracia representativa, embora tenham inventado a palavra-mãe. O PASOK e a Nova Democracia eram o que o PS e o PSD são cá, partidos sem réstas de ideologia, meros gestores de influências e de fundos. São o que na realidade todos os partidos e todos os países europeus hoje são também. Por isso o SPD alemão governa bem com a chanceler Merkel desde o ano passado. Não me venham com as tretas de uma "cultura diferente". A expressão "arco governativo" quer na realidade dizer "a malta que pode chegar ao governo e distribuir o dinheiro e/ou as possibilidades de o ganhar".
Este estado de coisas é compatível com uma solvência razoável no coração centro-europeu, mas impossível na periferia, a não ser que a desumanizem. Eis o que o nosso governo tem feito, portanto, desumanizar Portugal. A Europa de Leste ao entrar na... Europa já vinha desumanizada qb pelos regimes comunistas defuntos. A fome de capitalismo desses povos desequilibrou o xadrez político europeu e induziu na social-democracia europeia a ideia de que, para sobreviver, precisava apenas de deixar de o ser. A periferia do Sul, que se libertara de regimes ditatoriais de direita, tentou criar sociedades humanas e solidárias, com dinheiro à justa. Um "à justa" que o Euro destruiu. 
A crise da dívida pública grega está- curiosamente muito bem - explicada na en.wikipedia. A crise da Europa está sintetizada da sigla PIIGS - Portugal, Italy, Ireland, Greece, Spain - uma sigla insultuosa utilizada nos mentideros da política europeia e que "era só uma piada". Há muitos anos um governante do PSD demitiu-se por fazer piadas foleiras sobre a fome dos etíopes. Mas não se pode demitir todo um continente. 

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