sábado, 2 de abril de 2016

As florestas e a prostituição. Apontamentos para um estudo.

Barcelos é um concelho grande. Dividido em inúmeras freguesias. Que, após a fusão de umas quantas, ainda são muitas. Não admira que haja duas, uma percentagem afinal pequena, que se dediquem aparentemente bastante à prostituição, a saber: Palme e Feitos. Ou apenas cedem o espaço?

Fiz muitas vezes por estrada o caminho Valença-Porto no últimos anos do século passado, por ainda não haver auto-estrada. Por puro aborrecimento variei a rota aqui e ali. Uma das opções que me pareciam mais interessantes, desde que a pressa não fosse exagerada, era fazer a estrada Viana-Braga, ou seja, a Nacional 103. Que quando entra no concelho de Barcelos entra ao mesmo tempo numa zona de floresta relativamente fechada e homogénea, eu sei que não autóctone, eu sei que não especialmente viva em espécies animais, mas extensa o suficiente para esquecer que estamos a entrar no Baixo Minho, esse excesso de casas, armazéns, fábricas e mamarrachos que tantos desgostos nos dá on the way. Mimosas e eucaliptos convivem com platanos, carvalhos, etc. Lembro que antigamente eu conhecia as "mimosas" pelo nome de "austrálias", sem saber ser a Austrália a verdadeira origem da infestante. Estes quilómetros de floresta, atravessados por uma estrada predominantemente recta, terão sido ou ainda serão o alfobre duma das zonas com maior prostituição de estrada do Minho - a famosa "recta dos Feitos", pois o coberto vegetal termina quando abre para as casas e os campos de Feitos. Do século passado não me lembro de nenhuma carne assim exposta na interessante estrada. E esta semana quando lá passei também não vi nada parecido. 

Em Ovar a zona mais conhecida de prostituição de estrada foi a Estrada da Mata, que liga as traseiras do Furadouro a Maceda e Cortegaça. Uma vez, há muitos anos, ao deambular de carro após uma noite de Urgência e porque, novo, muito novo, me recusava a ir dormir, vi por entre os pinheiros da Estrada da Mata uma dezena de jovens que descansava - dormia? - em cima da caruma, suponho que à espera da recolha, o trabalho nocturno feito. A fotografia teria sido fantástica , tivesse eu tido câmara e coragem. Hoje em dia a Estrada da Mata tem uma ciclovia e foi "domesticada". Lembro que a Mata é um pinhal extensíssimo e pertence maioritariamente ao Estado. Ali quase de certeza já não há putas. Em Feitos e Palme talvez tenha tido apenas azar nas minhas passagens, afinal apenas ocasionais. Ou sorte?


Isto da prostituição no mato tem o seu perfume, não nego. E não vamos brincar com a palavra "perfume". A prostituição porém tem pouco ou nada a ver com a sofisticação associada a um qualquer perfume, menos ainda com os filmes que nos dão a ver sobre a temática: nem "Pretty Woman" nem "Monster" se aplicam. O que há é miséria, fome, as famosas e incontroláveis necessidade masculinas, e tráfico de gente. Lembro-me da primeira e única vez que, adolescente, fui transportado na parte de trás duma HiAce. Dei comigo a pensar que naquele espaco amplo muito se podia transportar: dez mulheres para a Recta dos Feitos ou doze trabalhadores para Espanha. 

Tenho no entanto uma pena imensa de não ter feito aquela fotografia na Estrada da Mata, vai para vinte e mais anos. A imagem daquelas mulheres merecia melhor recordação.

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