quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Aquilo que eu nunca fui.

"Dr. Manuel Gama?" - a voz traía alguma incerteza na expressão: quem assim me interpelava por telefone sabia que este não era o meu nome "clínico" mas, afinal de contas, o ralhete implicava distância e a colega em questão, bem mais nova e, só por engano - acredito, doutorada, iria naufragar  na sua intenção no nome que procurava de todo evitar, aquele pelo qual toda a gente que me interessa no meu hospital me conhece. Resultou que o ralhete não era para mim, que o equívoco provocou um murmurado - nem sei bem se o ouvi - pedido de desculpas. Manuel Gama é o nome do meu pai. É possível que, com o correr do Tempo, esse terrível aliado, venha também, aqui e ali, a ser o meu. Para treinar, tenho um amigo, um amigo só, que, novo nas minhas redondezas, chama-me de Manel. Soa-me bem, até. Dr. Manuel Gama nunca fui, nunca serei. Passe bem, minha cara Doutora. E vá dar aulas noutro telefone.

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